Os profissionais formados não estão suprindo a demanda atual do mercado (.)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2010 às 20h01.
São Paulo - O aumento da oferta de empregos é apenas uma das faces positivas do aquecimento da economia brasileira. Mas, como nem tudo é perfeito, o empresariado tem enfrentado o chamado "apagão de talentos", ou a falta de profissionais capacitados para ocupar as vagas que surgiram. Com a evolução da exploração do pré-sal e dos investimentos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, a tendência é aumentar o número de empregos e, se não houver planejamento, a escassez de profissionais vai crescer.
Segundo o diretor de educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos - ABRH, Luiz Edmundo Rosa, esse quadro de falta de profissionais está atingindo vários setores e hierarquias. No caso da mão-de-obra que não necessita de alta escolaridade, uma das alternativas adotadas tem sido a "conversão" de trabalhadores. "Muitas empresas buscam trabalhadores de outras áreas e os treinam para o novo ramo. É mais rápido 'converter' ou 'reciclar' alguém do que esperar o profissional se formar para ocupar a posição", diz.
Já quando a empresa precisa de pessoas com formação acadêmica para realizar a função, a coisa muda de figura. Não há como reciclar ou converter um profissional deste tipo. Para o especialista, a solução está na parceria entre empresas e universidades. "Assim, o currículo fica mais atualizado, o professor que dá a aula tem que estudar para acompanhar o trabalho do aluno, o grau de motivação dos alunos é maior e o conteúdo fica mais adequado às necessidades da companhia", justifica.
"Universidade corporativa é insuficiente"
Para se prevenir do apagão de talentos, algumas empresas investem muito dinheiro em universidades corporativas, onde se ensinam as mais variadas funções e a cultura dentro da corporação. No entanto, Rosa considera que essa alternativa é insuficiente, pois, além de não ter um grande alcance, não pode assumir o compromisso originalmente do Estado de formar profissionais.
Dados de um levantamento feito pelo Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo) indicam que 20,7% dos alunos da rede particular de ensino superior desistem no meio do caminho. Nas universidades públicas, a taxa de evasão é de 14,4%. De acordo com Rosa, as parcerias entre empresas e universidades estimulariam os alunos, fazendo cair a taxa de desistência, e ainda garantiria o abastecimento do mercado com mais profissionais capacitados.
Retenção
Se a empresa conseguiu encontrar bons profissionais no mercado, isso não significa que ela está livre do risco de sofrer com o apagão de talentos. Para garantir que o trabalhador não se sinta tentado a mudar de emprego, a companhia deve investir na retenção individualizada. Rosa orienta as empresas a mapearem os profissionais um a um, para evitar que possíveis problemas sejam negligenciados, o que pode provocar a perda da mão-de-obra.
Para ele, a empresa também deve dar abertura para que o trabalhador desenvolva seu projeto de vida, sem exigir que ele abra mão disso pelo trabalho. "O poder de barganha está agora na mão dos profissionais. É preciso mapear as necessidades dos funcionários, para que eles se sintam valorizados e queiram continuar na empresa".