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Para William Boulding, populismo pode levar a nova crise financeira

O reitor da escola de negócios da Duke University diz que os líderes empresariais precisam prezar pela transparência na cadeia de produção global

Boulding diz que líderes empresarias do setor privado consegue unir pessoas por um bem comum (Youtube/Reprodução)

Boulding diz que líderes empresarias do setor privado consegue unir pessoas por um bem comum (Youtube/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de abril de 2019 às 13h59.

São Paulo — A onda populista global é um dos maiores desafios para as empresas e pode gerar uma nova crise financeira no mundo, diz William Boulding, reitor da escola de negócios americana Fuqua, da Duke University. "O populismo congela a atividade (econômica) e pode conduzir a uma crise de liquidez no sistema financeiro, pois defende a ideia de se recuar na economia global", disse Boulding ao jornal O Estado de S. Paulo. Em recente visita ao Brasil, ele acrescentou que, para reverter essa tendência, as escolas de negócios precisam criar líderes preocupados com a sociedade.

O Brasil e o mundo estão polarizados. Empresas devem adotar posições nesse cenário?

O melhor para a empresa é adotar posturas que sejam consistentes com seus valores. Nos EUA, muitas empresas entendem que inovação está ligada a uma força de trabalho diversa. Assim, se a empresa tem o ambiente de trabalho de inclusão e diversidade como um de seus principais valores e acontece algo na sociedade que sugere a marginalização de um grupo, muitas companhias escolhem dizer que isso é inconsistente com negócios.

A incerteza política pode ser considerada um dos principais desafios para o mundo empresarial hoje?

É improvável que vejamos o mesmo tipo de crise da de 2008, mas, quando a pergunta é quais os possíveis gatilhos para uma nova crise, (uma das respostas é) o crescimento do populismo no mundo. O populismo funciona contra a habilidade empresarial de fazer investimentos significativos, congela a atividade e pode conduzir a uma crise de liquidez no sistema financeiro, pois defende a ideia de se recuar na economia global. Há um risco significativo para as empresas se quiserem culpá-las porque as vidas não estão melhorando para todo mundo.

As empresas podem fazer algo para diminuir esse risco?

Sim. O crescimento do nacionalismo, a eleição de alguns indivíduos aqui (no Brasil) e em todo o mundo, é uma resposta ao sentimento de que o modelo global de negócios não está funcionando para todos. Você pode dizer que a eleição aqui foi uma resposta aos escândalos de corrupção nos negócios e na política. Nos EUA, pode dizer que as pessoas sentiam que havia sido deixadas para trás pela economia global, com a mudança de linhas de produção americanas para outros países. Para as escolas de negócios, isso significa que precisamos produzir líderes que entendam o papel dos negócios na sociedade, que tenham responsabilidades não só com lucros, mas também se perguntem como fazer a sociedade melhor, como criar empregos, como melhorar a vida dos clientes e dos funcionários.

Há líderes pensando assim?

Com certeza. Tim Cook (presidente da Apple e ex-aluno da Fuqua) é um exemplo. A Apple acredita na conectividade global e vê valor nisso. Eles dão importância à transparência na cadeia logística global: se preocupam em ter certeza de que, quando uma pessoa compra um celular, ela sabe o que está por trás desse produto.

Mas, há alguns anos, vimos vários casos de suicídios entre funcionários da Foxxconn, fabricante iPhones para a Apple...

Essa informação permitiu mudanças significativas. Eles sentiram que tinham uma responsabilidade com a sociedade. A visão de Tim Cook é que eles têm responsabilidade de criar valor para todas as pessoas envolvidas e que a empresa não será lucrativa no longo prazo se não for assim. Tim é um bom exemplo de alguém que tem voz ativa sobre mudanças climáticas, sobre transparência na cadeia de suprimentos, sobre privacidade e contra leis que marginalizam imigrantes ou a comunidade LGBTQ. As empresas não são capazes de atrair os melhores talentos se não oferecerem oportunidade para o funcionário fazer algo significativo para sua vida. Elas não serão capazes de continuar operando se a comunidade não confiar que elas estão investindo e criando empregos melhores. Isso é consistente com a maximização de lucros no longo prazo, além de ser consciência social.

Por que tantos líderes empresariais estão migrando para a política, tanto no Brasil como no exterior? Há algo além de uma insatisfação global com os políticos?

Um dos grandes avanços nas escolas de negócios é a ideia de que alguns princípios de gestão do setor privado são relevantes no setor público e no terceiro setor, como a disciplina na alocação de recursos. Mas os líderes empresariais também fazem algo que parece que políticos não são mais capazes de fazer: unir as pessoas por um bem comum. No mundo político, é muito difícil encontrar pessoas que se unam com um único propósito. No mundo dos negócios, isso acontece o tempo todo, você une pessoas que são largamente diferentes e faz com que elas achem as vantagens dessas diferenças, trabalhem com um propósito e atinjam um resultado ótimo.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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