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Para onde vai o bilionário UFC

Gian Kojikovski Dentre os políticos, familiares e celebridades escalados nesta terça-feira para falar a favor de Donald Trump na convenção republicana, está um carequinha até pouco tempo desconhecido fora do universo das lutas. Trata-se de Dana White, presidente do UFC, o maior torneio de artes marciais mistas (MMA) do planeta. White é amigo de Trump […]

DANA WHITE EM PESAGEM DE LUTADORAS: só a participação dele no UFC vale mais de 350 milhões de dólares  / Ethan Miller/ Getty Images

DANA WHITE EM PESAGEM DE LUTADORAS: só a participação dele no UFC vale mais de 350 milhões de dólares / Ethan Miller/ Getty Images

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Gian Kojikovski

Publicado em 19 de julho de 2016 às 14h31.

Última atualização em 27 de junho de 2017 às 18h03.

Gian Kojikovski

Dentre os políticos, familiares e celebridades escalados nesta terça-feira para falar a favor de Donald Trump na convenção republicana, está um carequinha até pouco tempo desconhecido fora do universo das lutas. Trata-se de Dana White, presidente do UFC, o maior torneio de artes marciais mistas (MMA) do planeta. White é amigo de Trump há anos – o empresário gosta de dizer que salvou o UFC ao abrir as portas de seu cassino em Atlantic City para o evento.

O que o credencia para defender o homem que quer ser o próximo presidente dos Estados Unidos certamente não é o fato de comandar um dos torneios mais sangrentos do planeta – mas sim o sucesso econômico do UFC, um dos negócios mais bem sucedidos e lucrativos da indústria de entretenimento. Apenas a participação de White na empresa, de 9%, vale mais de 350 milhões de dólares.

Há uma semana, na madrugada da segunda-feira 11, o jornal americano The New York Times noticiou que o UFC havia sido vendido para o grupo de entretenimento WME-IMG por 4 bilhões de dólares. O número deixou executivos do setor e de Wall Street de queixo caído e levantou uma questão imediata: um campeonato de lutas pode valer tudo isso? A empresa foi comprada pelos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, donos de cassinos em Las Vegas, em 2001, por 2 milhões de dólares. Quinze anos depois, vale 2.000 vezes mais. A conta fecha?

Olhando os números atuais, não. Em 2015, a companhia faturou 600 milhões de dólares, com lucro operacional de 157 milhões, mais que o dobro dos 74 milhões de 2014. De acordo com estimativas de mercado, o valor da organização hoje é de pouco mais de 2 bilhões de dólares. A questão é que o esporte cresce em todo o mundo, o que reflete no avanço vigoroso das receitas e dos lucros da empresa.

“O UFC não vale quatro bilhões de dólares hoje, mas tem um enorme potencial para chegar a esse valor dentro de alguns anos. E foi com base nisso que esse acordo foi fechado”, diz Adrian Williams, vice-presidente da agência de marketing esportivo CSE.

Mesmo assim, pagar o dobro do valor de uma empresa só é um bom negócio se existe um plano para o que fazer com ela. Os irmãos Fertitta, junto com White, transformaram o esporte. O plano da WME é fazer uma mudança maior ainda. O que ainda é difícil de prever é se isso vai dar certo.

Quem comprou?

A WME-IMG surgiu da fusão de duas agências de talentos, a William Morrys e a Endeavour, que cuidam da carreira de diversas celebridades americanas, de Oprah Winfreye a Steven Spielberg. Sob o comando de Ari Emanuel e Patrick Whitesell, e com a ajuda de fundos como o Silver Lake e o KKR, a agência passou a ser descrita como uma das mais agressivas do mercado.

Em 2013, a WME expandiu seus negócios ao adquirir a IMG, uma das maiores organizadoras de eventos esportivos do mundo, por 2,4 bilhões de dólares. A IMG faz eventos de diversos esportes, como tênis e golfe, além de cuidar da imagem de grandes ligas, como a NFL, de futebol americano, e NHL, de hóquei.

Desde então, a WME-IMG continuou a comprar eventos de entretenimento e esportivos. Em 2015, adquiriu a Global eSports Management, que organiza torneios profissionais de jogos eletrônicos, o Professional Bull Riders, maior campeonato do mundo de rodeios, por mais de 100 milhões de dólares, e o Miss Universo, de Donald Trump, por 28 milhões. A tentativa é se tornar uma das maiores do mundo no setor.

E o UFC?

O UFC é, sem dúvida, a maior aposta. Mesmo nos continentes onde tem maior presença, Américas e Europa, o UFC ainda é considerado pequeno. Além disso, a organização tenta se firmar na Ásia, que historicamente tem um público aficionado por artes marciais mistas. Espaço para crescer, não falta. Nos Estados Unidos, por exemplo, até pouco tempo atrás, eventos de MMA eram proibidos no estado de Nova York, um dos lugares com maior potencial para grandes eventos do país. O primeiro evento por lá deve acontecer em novembro.

A ideia principal é transformar o UFC em um grande show, com eventos que agreguem mais do que lutas. “Eles farão um espetáculo. Por que não colocar grandes shows no meio das lutas, como faz o Superbowl? Esse deve ser o caminho para atrair públicos diferentes”, diz Williams, da CSE.

A média de idade do público do UFC é menor do que o de outras grandes ligas esportivas americanas. Isso indica que o esporte ainda pode se tornar popular em outras faixa-etárias, além de manter a receita na medida em que seu público envelhece. O UFC também vem ganhando popularidade com as mulheres, principalmente desde que passou a ter lutas femininas, em 2013. Ronda Rousey, a ex-campeã da organização no peso-galo, se tornou um dos maiores ídolos do esporte.

A organização passou a ter uma receita mais firme após fechar um grande contrato com a emissora americana Fox em 2012. Antes, em média, 45% do faturamento vinha dos pacotes de pay per view vendidos a cada evento e o restante era dividido entre bilheteria, patrocínios e outros tipos de receita. A receita de pay per view é mais volátil aos nomes presentes em eventos, que muitas vezes estão sujeitos a mudanças por causa de lesões e outros imprevistos. Hoje, o pay per view é responsável por cerca de 30% da receita. A companhia se fortaleceu como negócio. O contrato vai até 2018 e já existe especulação sobre interesse de outras redes de TV, como a ESPN.

Isso não significa que tudo são flores. Um dos calcanhares de Aquiles do UFC são seus próprios lutadores. Frequentemente eles reclamam dos valores repassados como pagamento. No passado, alguns chegaram a processar a organização alegando que ela usava seu quase monopsônio para arrochar os salários. Recentemente, também criaram uma associação para defender seus direitos. Todas as grandes ligas americanas repassam cerca de 50% do seu faturamento em salários, enquanto o UFC compartilha apenas 25% com os atletas.

Como começou?

O UFC começou em 1993, nos Estados Unidos, como ideia do brasileiro Rorion Gracie, que criou a organização com ideia de realizar combates entre diversas artes marciais e provar que o jiu-jitsu brasileiro, do qual era professor, se sobressaía. Foi o que aconteceu nas primeiras competições. Embora tenha tido certo êxito, o evento nunca se tornou um grande sucesso de público. Grande parte disso porque ainda era realizado sem regras, o que o tornava proibido em diversos estados americanos.

Depois de anos de crise, os irmãos Fertitta, junto com Dana White, compraram a companhia. Aos poucos, introduziram regras, voltaram a vender lutas por pacotes de pay per view e conseguiram a aprovação em mais estados, além de aumentar a atividade em outros países. “Eles podem ser considerados os criadores do MMA moderno. Sem eles, esse esporte jamais seria o que é”, diz Wallid Ismail, ex-lutador e dono do Jungle Fight, o maior evento de MMA da América Latina.

Embora o evento tenha comprado todos os maiores rivais na década de 2000, o UFC viu surgirem novas organizações com potencial nos últimos anos. A maior delas é o Bellator, criado em 2008 na Califórnia. Mas o problema entrave ao crescimento é interno. Como atrair novos públicos, e depender menos da boa fase de um punhado de lutadores carismáticos, como o brasileiro Anderson Silva, que fez o esporte virar febre no Brasil? São problemas que a WWE-IMG vai precisar encarar. Pelo menos terá um executivo bom de briga a seu lado – Dana White, o amigo de Trump, continua no cargo.

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