Odebrecht: Fábio Januario, atual presidente da OEC fala sobre plano de recuperação da empreiteira (Paulo Whitaker/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de dezembro de 2018 às 12h16.
As delações e confissões vinculadas à Odebrecht derrubaram até presidentes e ainda complicam a vida de políticos na América Latina. A empreiteira brasileira, que admitiu ter pago propinas em troca de favorecimento em obras no subcontinente, assegura ter endireitado o rumo.
A empresa reformou sua governança, tem um conselho de administração, um comitê de conformidade que garante boas práticas e uma diretoria que, assegura, já não tem o poder absoluto ostentado dois anos atrás por seu diretor-executivo, Marcelo Odebrecht, agora em prisão domiciliar.
A face visível da companhia é Fábio Januario, de 47 anos, há dois anos presidente da Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), a área mais atingida pela Lava Jato. A empresa tem agora 18 obras em execução, 11 delas fora do Brasil. O executivo comenta, em entrevista à AFP, o cenário que a companhia tem pela frente.
Pergunta: Em que situação a Odebrecht se encontra?
Resposta: Apesar dos últimos anos terem sido difíceis sobre muitos aspectos para a companhia, conseguimos dentro da Engenharia e Construção uma agenda de transparência e transformação de nosso negócio, passando pelas novas lideranças, toda nossa agenda de governança com conselheiros independentes, agenda de conformidade (...) É uma nova empresa preparada para um ciclo de crescimento e será um grande indutor das questões de integridade no meio da infraestrutura do setor público e privado na América Latina.
P: Por que a América Latina deveria voltar a acreditar em vocês?
R: Todos os provedores de capital, públicos ou privados, eles não vão mais tolerar um 'player' de construção que não tenha una agenda de transformação implementada (...) Essa transformação permitiu que a empresa saísse na frente e efetivamente tivesse na sua agenda de 'compliance' uma vantagem competitiva aos 'players' que atuam na região. Temos agora a condição de dar total segurança aos clientes em relação às nossas praticas. Já estamos adimplentes em tudo.
P: A situação chegou ao limite?
R: O período mais crítico já passou. Na América Latina depende da maturidade institucional de cada país para fechar acordos de leniência. Isso beneficia a empresa e a sociedade. Ainda temos desafios e nos próximos meses, importantes acordos serão celebrados na América Latina.
P: Quais estão pendentes?
R: Começou em dezembro de 2016 no Brasil, EUA e Suíça, logo na República Dominicana, Guatemala, Panamá e Equador. Os avanços são importantes, mas temos que guardar confidencialidade (...) No Peru, espero que brevemente a gente chegue a um acordo e que a operação possa retomar de forma célere.
P: O Brasil, seu país sede, terá um novo governo em 2019, com o juiz da 'Lava Jato', Sérgio Moro, no ministério da Justiça. Quais as expectativas?
R: Somos apartidários, prestamos serviços para a sociedade que é representada através dos seus governos. Não temos preferências políticas. Com o governo eleito e com a presença do ministro Moro na Justiça, nos deixa otimistas com a relação que vamos ter com o novo governo e que ao final do dia vai ser nosso cliente por ser um poder instituído no Brasil. Nos deixa satisfeitos porque Moro celebrou a nossa leniência e sabe a importância das empresas que foram lenientes e que podem transformar o mercado. Vemos com olhares positivos esse novo governo.
P: Muitos contratos milionários foram obtidos debaixo dos panos. Agora que estão trabalhando com mecanismos de controle, será fácil obter a mesma quantidade de obras?
R: O setor sofreu nos últimos anos, sem dúvida, impactos da leniência da 'Lava Jato', mas tivemos os baixos preços das commodities, os países altamente dependentes sofreram diante de uma menor capacidade de investimento. Acho que houve, em função da crise, uma retração grande do setor de infraestrutura. A economia desses países, voltando a crescer, cresceremos nesses países. As sociedades na América Latina não vão mais tolerar a falta de integridade. É uma transformação séria.
A OEC iniciou um processo de reestruturação de uma dívida no exterior de US$ 3 bilhões. A empresa informou há alguns dias que isto lhe permitirá destinar os recursos imediatos que tem em caixa para suas operações e conquista de novos contratos. Por confidencialidade legal, a OEC não pode abordar detalhes da negociação com a imprensa.
P: Como estão as finanças da companhia?
R: Temos na nossa operação um fluxo de caixa que continua saudável, fizemos um grande trabalho de eficiência da companhia, redução de custos. Esse vai sendo conduzido com responsabilidade para preservar nossa capacidade de geração de caixa para voltar ao ciclo positivo.
P: Como veem o cenário de licitações na América Latina?
R: Os nossos estudos apontam que esse mercado tem um potencial para os próximos cinco anos de algo em torno de 500 bilhões de dólares. Essas são projeções. Parte desses projetos irão se confirmar, parte não. E nós temos uma expectativa nesses próximos cinco anos de alcançar uma cifra de aproximadamente 20 bilhões de dólares de novas conquistas para o nosso 'backlog'.
P: Avaliaram a possibilidade de mudar o nome da empresa?
R: Apesar dos problemas que houve, a marca é reconhecida pela sua excelência técnica (...) Não existe no hemisfério sul uma capacidade instalada como a nossa. Ninguém junta cimento, areia e aço e tem mais competência para executar um projeto do que a companhia.