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Para dona da Tintas Coral, mercado não será mais o mesmo no pós-covid

A AkzoNobel está operando a plena capacidade nas fábricas de tintas decorativas e trabalha para atender cada vez mais o conceito de 'faça você mesmo'

Daniel Campos, presidente da AkzoNobel: "A relação do brasileiro com a casa vai mudar" (AkzoNobel/Divulgação)

Daniel Campos, presidente da AkzoNobel: "A relação do brasileiro com a casa vai mudar" (AkzoNobel/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 6 de novembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 6 de novembro de 2020 às 08h39.

Ninguém esperava a magnitude dos impactos da quarentena do novo coronavírus, mas é fato que o brasileiro está olhando -- e cuidando -- mais da sua casa. Com isso, o setor de materiais de construção registrou uma retomada acelerada e, para a AkzoNobel, dona da Tintas Coral, o mercado de reformas nunca mais será o mesmo no Brasil.

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"A pandemia não criou novas tendências, apenas acelerou. Já tínhamos detectado o crescimento do 'faça você mesmo' e da digitalização dos serviços. Agora, a relação com o lar vai mudar, o brasileiro estará mais encorajado a fazer tarefas como pintar a casa e vai investir mais em reformas", diz Daniel Campos, presidente da AkzoNobel para América do Sul, em entrevista à EXAME.

A fabricante holandesa montou um comitê de crise antes mesmo de o novo coronavírus se espalhar no Brasil. Uma das fábricas da companhia fica em Wuhan, primeiro epicentro da doença no mundo.

Quando foi decretada a pandemia, Campos afirma que o grupo já estava se preparando para lidar com a quarentena. Ainda assim, no segundo trimestre a divisão de tintas decorativas registrou uma queda de 22% (em moeda constante) no país, totalizando 8% de recuo no semestre. De julho a setembro, porém, aconteceu a virada: o segmento cresceu 34%, um avanço acumulado de 6% no ano.

"O brasileiro mudou a relação com sua casa. Hoje, o lar tem mais uso e por muito mais horas do dia. A pessoa acaba 'cansando' do ambiente quando passa muito tempo nele e a tinta é uma boa forma de dar uma renovada", diz Campos. "Por isso tivemos uma expansão do faça você mesmo."

Segundo ele, com a tendência de adoção cada vez maior do home office, esse movimento pode crescer ainda mais no futuro e, neste sentido, as tintas decorativas ganham destaque.

Campos diz que o importante é quando "oportunidade encontra preparação". Em sua avaliação, as empresas que vinham investindo em inovação têm vantagens competitivas em momentos de crise e na pandemia não é diferente. Ele cita como exemplo um aplicativo da Coral, o Visualizer, que permite ao consumidor visualizar como ficaria um ambiente com uma nova cor de tinta nas paredes. Ele só precisa tirar uma foto e testar as opções do portfólio da marca. O Brasil é o campeão de downloads do aplicativo no mundo, com consumidores e arquitetos aproveitando a facilidade.

Outro lançamento recente da marca é uma pequena embalagem de tinta, que custa em torno de 10 reais,  suficiente para pintar uma parte da parede e testar como aquela cor se encaixa sob a luz de determinado ambiente. "Principalmente os arquitetos têm usado muito esse artifício."

Campos destaca outra grande dificuldade relatada por consumidores no Brasil: a de encontrar profissionais para pintar suas casas. Segundo o executivo, antes mesmo da pandemia a empresa já trabalhava para minimizar esse problema, por meio do site da empresa, onde é possível dar "match" com um pintor cadastrado.

"Já vínhamos detectando o interesse dos pintores de se conectar com os clientes e vice-versa. Quando a pandemia terminar, vamos voltar a ter um crescimento da experiência de compra, de ter um pintor em casa. Humanos gostam de se relacionar", diz Campos. "Mas o brasileiro deve também apostar mais no faça você mesmo. Temos uma visão otimista do mundo pós-pandemia."

Ele acrescenta que o consumidor também deve arriscar mais nas cores. "Na Europa, México e Chile cores diferentes são amplamente usadas, o brasileiro é muito conservador neste quesito. Dois terços da tinta consumida por aqui ainda são do branco."

Operação brasileira

Com 5 unidades industriais no país, Campos afirma que a divisão de tintas está operando a plena capacidade. No entanto, ele alerta para o aumento expressivo dos custos. "As cadeias produtivas globais foram todas afetadas, sofremos com afastamento de colaboradores, tivemos que contratar temporários e os fornecedores ainda não estão a todo vapor."

Além disso, ele explica que a velocidade de retomada da cadeia em que a Tintas Coral está inserida tende a ser mais lenta, por ser muito longa. "Os pedidos caíram e voltaram abruptamente, leva um tempo para a produção se normalizar."

A alta de mais de 40% do dólar no ano também atingiu em cheio a empresa. Muitos dos custos da AkzoNobel são dolarizados, principalmente por se tratar de commodities. "Não acreditamos que o câmbio volte ao patamar de 4 reais. Tivemos que repassar uma parte dos custos, mas também estamos trabalhando muito na redução desses custos."

A AkzoNobel atua ainda nos segmentos de tintas automotivas para reposição (principalmente oficinas mecânicas) e aeroespacial, amplamente afetado pela crise das companhias aéreas. "Tintas decorativas vão liderar o resultado da AkzoNobel no país em 2020, vamos atingir 45.000 pontos de venda neste ano, estamos otimistas", diz Campos.

Entre os investimentos realizados pela companhia está a ampliação da produção de tinta a base de água, em substituição ao solvente, o que reduz em 80% o impacto ambiental, além de não ficar amarelada com o passar dos anos.

Adicionalmente, a AkzoNobel lançou um programa de inovação, o Paint the Future – Startup Challenge Brazil, que deve ajudar a empresa em práticas inovadoras. "Estamos investindo para ganhar lá na frente."

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