Cabify: cerca de 1,5 milhão de usuários no país (Cabify/Divulgação)
Rita Azevedo
Publicado em 14 de abril de 2017 às 09h00.
Última atualização em 24 de abril de 2017 às 08h55.
São Paulo — Quando a plataforma espanhola Cabify chegou ao Brasil, em julho do ano passado, sua principal rival, a norte-americana Uber, já tinha desenvolvido parte do mercado de carona paga no país. Os brasileiros estavam convencidos de que era possível usar um serviço parecido com o do táxi, por um preço mais competitivo e com alguns mimos, como um copo de água ou alguns docinhos. O clima de hostilidade com os taxistas, ainda presente nos dias de hoje, também estava mais controlado.
As facilidades que a Cabify encontrou por ter chegado atrasada pararam por aí. Além de ter uma política de preços agressiva e mais motoristas nas ruas, a Uber havia consolidado sua marca no país e acostumado seus clientes a esperar no máximo três ou quatro minutos por um carro — uma promessa difícil de cumprir no caso de empresas com menor estrutura. Pouco tempo depois, o mercado começou a ser explorado também pela 99, que antes era voltada apenas para o serviço de táxi e conhecia bem o mercado brasileiro.
Para tentar desbancar os rivais, a Cabify adotou uma estratégia voltada para a atração e a retenção de bons motoristas. “Eles são a nossa ponte com os usuários”, explica Alexandre Bretznerc, diretor geral da Cabify no Rio de Janeiro. “Se você quer convencer um cliente de que nosso serviço é diferenciado, precisa começar pelo condutor”.
O processo começa na seleção dos motoristas que, assim como acontece com o Uber, não têm vínculo empregatício com a empresa. O candidato preenche uma ficha no site com os dados pessoais. As informações são analisadas por uma equipe que verifica, por exemplo, se ele tem antecedentes criminais.
Também é exigido que o interessado tenha um veículo preto ou prata fabricado a partir de 2012. Pré-selecionado, o condutor realiza exames toxicológico e psicotécnico. Depois, passa por um treinamento presencial.
Para estimulá-los, a empresa oferece um programa de benefícios como descontos na troca de óleo ou na revisão do carro. Há também um sistema de classificação de motoristas, que leva em conta a avaliação dos usuários e o número de corridas realizadas. Os mais bem avaliados são convidados para eventos mensais.
“No Rio, já fizemos churrasco, café da manhã e até organizamos um campeonato de futebol”, diz Bretznerc. Fora isso, a Cabify paga 600 reais em bônus para os que realizam 90 corridas em uma semana.
A empresa não divulga o número de motoristas parceiros, mas diz que há mais de 100.000 cadastrados. Em entrevista a EXAME.com em março deste ano, Juan de Antonio, cofundador e CEO da Cabify, disse que a maior preocupação não é atrair centenas de motoristas de uma só vez para a plataforma.
“Tentamos chegar a um equilíbrio entre oferta e demanda e também analisar as horas trabalhadas pelos motoristas”, disse ele.
O negócio espanhol funciona de maneira similar ao da Uber, com exceção da cobrança de tarifa dinâmica — sistema que define o preço de acordo com a demanda em determinada região. No caso da Cabify, a cobrança é feita por quilômetro rodado. A cada viagem, 75% do total pago fica com o motorista e o restante é transferido automaticamente para a empresa.
O pagamento é automatizado e feito com cartão de crédito, uma garantia de segurança ao motorista, que não precisaria andar por aí com dinheiro vivo. Na Uber, os usuários podem pagar em dinheiro em algumas cidades.
Atualmente, a Cabify está em oito cidades do país - São Paulo, Santos, Campinas, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. Em cada uma delas, a empresa mantém um escritório.
A gestão é feita de forma descentralizada. Cada escritório administra um orçamento, que varia de cidade para cidade, dependendo do número de motoristas atuantes e do potencial do mercado. Setores como logística, marketing e vendas são de responsabilidade da equipe local.
“Temos metas claras e direcionamentos macros, mas as operações locais têm autonomia”, explica Daniel Bedoya, diretor geral da Cabify no Brasil. “Vemos isso como algo positivo por permitir a adequação da plataforma às necessidades do público. Cada cidade tem uma cultura de motoristas e de uso diferentes.”
No Rio de Janeiro, por exemplo, começou a ser testado aos finais de semana um novo modelo do serviço para banhistas, batizado de Cabify Praia. “Recebemos sugestões das pessoas que saíam molhadas da praia e não podiam entrar nos carros”, conta Bretznerc.
Na sede da companhia, em São Paulo, ficam os departamentos compartilhados por todos os escritórios, como o financeiro, o responsável por novos negócios e o setor de atendimento aos clientes.
No total, são mais de 1,5 milhão de usuários no país. Para efeito de comparação, a Uber tem, atualmente, cerca de 13 milhões de cliente ativos e a 99 diz ter 6 milhões de usuários, mas não discrimina quais usam táxi e quais usam o serviço de carona.
A boa aceitação do negócio no país faz com que a empresa queira trilhar novos caminhos. Nos próximos meses, a Cabify pretende investir 200 milhões de dólares na expansão da operação, recursos que virão de uma nova rodada de investimentos com empresas de peso, como a gigante Rakuten.
A expectativa é que o valor seja utilizado para levar a plataforma para todas as capitais do país até o final de 2017 e ampliar o número de funcionários, que hoje é de 150 pessoas. O faturamento em 2016, não divulgado pela empresa, é estimado em mais de 200 milhões de reais pelo mercado.
A empresa também não descarta aplicar no Brasil modelos do serviço já testados nos outros 11 países onde está presente, como o Cabify Baby, para pais que precisam de carros com cadeirinhas de segurança, ou o Cabify Pet, que permite levar animaizinhos de estimação nos veículos.
Também deve chegar por aqui a possibilidade de o usuário acumular milhas da Latam Airlines a cada viagem realizada, a exemplo do que é feito em países como o Chile e Peru.
O futuro da Cabify assim como o da Uber e de outros concorrentes, também dependerá de uma decisão do governo brasileiro. No último dia 4 de abril, a Câmara aprovou um projeto federal que tira o caráter privado dos serviços de transporte individual e exige que os motoristas tenham uma "autorização específica emitida pelo poder público municipal". O texto segue para o Senado.