Negócios

Para belgas da Astra, Petrobras era "extravagante" ao gastar

E-mails obtidos pela Folha de S. Paulo mostram que executivos da Astra achavam que executivos da Petrobras faziam "besteira" em refinaria de Pasadena


	Plataforma da Petrobras: segundo belgas, refinaria não valia os 650 milhões de dólares inicialmente sinalizados pela Petrobras
 (André Valentim/EXAME.com)

Plataforma da Petrobras: segundo belgas, refinaria não valia os 650 milhões de dólares inicialmente sinalizados pela Petrobras (André Valentim/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de março de 2014 às 16h13.

São Paulo – Os executivos da Petrobras faziam muita “besteira”, eram “extravagantes” nos gastos e qualquer decisão levava “10 vezes mais tempo que o necessário”, escreveram executivos da belga Astra, sócia da estatal na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Os comentários aparecem em uma troca de e-mails de 2 de novembro de 2007 entre o presidente da Astra, Mike Winget, seu diretor de operações, Terry Hammer, e outras cinco pessoas da equipe, obtida pelo jornal Folha de S. Paulo na Justiça do Texas.

Documentos internos da Petrobras mostram que os diretores da estatal também não estavam satisfeitos com os belgas, que teriam “visão de curto prazo”, demoravam a “reagir” aos problemas e pensavam muito diferente da Petrobras, diz a Folha.

Na ocasião, as duas companhias discutiam se a Petrobras compraria a outra metade da refinaria texana da Astra, de quem já tinha adquirido 50% do negócio um ano antes.

Essa compra estava prevista em contrato caso os sócios brigassem. Os desentendimentos começaram quando a Petrobras passou a defender investimentos de até 3 bilhões de reais para duplicar a refinaria.

Os belgas não concordaram e quiseram sair do negócio. Segundo a Folha, na troca de e-mails era “perceptível que os executivos da Astra duvidavam que a estatal realmente toparia o negócio”.

“Vamos presumir o pior cenário. Teremos que continuar com a sociedade e continuar nessa bagunça por mais um ano”, disse Winget, segundo o jornal. “Precisamos nos preparar para uma guerra suja”, completou Winget, ainda segundo o jornal.

O presidente da Astra disse que “não ficaria surpreso se a Petrobras já tiver se dado conta que a refinaria não vale os 650 milhões de dólares que eles sinalizaram”, diz a Folha.

Um mês depois, o diretor internacional da Petrobras, Nelson Cerveró, chegou a oferecer 700 milhões de dólares à Astra, mas a compra não foi aprovada quando submetida ao conselho de administração da Petrobras no início de 2008, então presidido por Dilma Rousseff.

Ocorre que entre a oferta e a desaprovação do conselho, os diretores da Astra, confiantes, se afastaram do dia a dia da operação. Enquanto isso, a Petrobras investiu 200 milhões de dólares em obras na refinaria e pegou um empréstimo de 500 milhões de dólares com o BNP Paribas.

Após a recusa do conselho, a estatal passou a exigir que a Astra injetasse dinheiro na refinaria e avalizasse mais um empréstimo, e a briga acabou indo parar na Justiça.

A Petrobras acabou pagando um total de 1,18 bilhões de dólares pela refinaria, que havia sido comprada pela Astra por 42 milhões de dólares. Cerveró foi recentemente demitido da BR Distribuidora, onde estava quando a investigação sobre a compra veio à tona.

Acompanhe tudo sobre:Astra OilCapitalização da PetrobrasCaso PasadenaCombustíveisEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasFolha de S.PauloIndústriaIndústria do petróleoJornaisPetrobrasPetróleo

Mais de Negócios

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Tupperware entra em falência e credores disputam ativos da marca icônica

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades