ESG

Para a Cosan, preservar Amazônia traz vantagem competitiva ao Brasil

Manter a floresta atrai investimentos, diz executiva do grupo de energia e logística, que é signatário da carta a Mourão pedindo o fim do desmatamento

Colheita de cana: para a Cosan, o carro a etanol é mais eficiente do que o elétrico, considerando toda a cadeia de produção do veículo (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Colheita de cana: para a Cosan, o carro a etanol é mais eficiente do que o elétrico, considerando toda a cadeia de produção do veículo (Rodolfo Buhrer/Reuters)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 9 de julho de 2020 às 17h07.

Última atualização em 9 de julho de 2020 às 20h25.

A visão do mercado financeiro em relação ao meio ambiente passa por uma mudança. “Antes, a gente enxergava apenas como um risco. Hoje, o tema está mais atrelado a um sentido de oportunidade”, afirma Paula Kovarsky, chefe do escritório de Nova York da Cosan e diretora de relações com investidores. “Veja o caso dos green bonds que emitimos recentemente. Um quarto do total alocado veio de fundos ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês).” 

Kovarsky se refere à emissão de títulos verdes, que são títulos de dívida atrelados a metas ambientais e sociais, feita pela Rumo, maior empresa de transporte ferroviário do Brasil, parte do grupo Cosan.  No total, a companhia levantou 500 milhões de dólares, conforme o previsto, com prazo de sete anos e uma taxa prefixada de 5,25% — dentro da indicação sugerida para a operação. 

A demanda pelo papel foi quase cinco vezes maior do que a oferta. “Ter uma atuação com base nos princípios ESG dá acesso a um número maior de investidores”, afirma a executiva. “Ainda não é excludente, mas, no futuro, empresas que não são ESG terão dificuldade de se financiar.” 

O alinhamento da Cosan com a agenda ambiental decorre de uma série de compromisso feitos pela empresa, cujo o objetivo é promover uma atuação responsável, que favoreça o desenvolvimento socioambiental nas regiões onde atua e a construção de uma infraestrutura logística e de energia mais limpa. Esse posicionamento a levou a assinar uma carta endereçada ao vice-presidente Hamilton Mourão, há dois dias, solicitando ações do governo contra o desmatamento da Amazônia e a favor de um plano de retomada pós-pandemia calcado na economia de baixo carbono. A iniciativa, capitaneada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), contou com a participação de 38 grandes companhias.  

Nessa nova realidade financeira global, o Brasil tem a chance de se destacar. A Cosan, por sua atuação no setor sucroalcooleiro, espera se beneficiar de um mundo com menos emissões, já que seu combustível, o etanol, é mais eficiente do que a gasolina e o diesel. “Se considerarmos toda a cadeia de produção de automóveis, o etanol emite menos carbono do que o carro elétrico”, afirma Kovarsky. “Essa é uma vantagem competitiva do Brasil.” Mas, para fazer valer essa condição, é preciso mostrar ao mundo, e aos investidores, o compromisso com a agenda ambiental. 

Mourão pede recursos, mas investidores cobram resultados

Nesta manhã, o governo realizou uma reunião com investidores estrangeiros para tentar convencê-los de que tem atuado para reduzir o desmatamento na região da Amazônia Legal. A ideia é propor que a iniciativa privada invista financeiramente na preservação ambiental no Brasil.

Após a reunião, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que os investidores internacionais querem “ver resultados” na área ambiental para destinar recursos para o Brasil. Mourão ressaltou que os investidores não se comprometeram com investimentos. Amanhã, está programada outra reunião, dessa vez com empresas signatárias da carta, como a Cosan. 

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