Paula Machado, Leonardo Afonso e o filhos: “O Brasil ainda tinha um mercado muito mal servido em alimentação infantil" (Papapá/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de maio de 2025 às 08h12.
Encontrar alimentos saudáveis, práticos e confiáveis para bebês ainda é um desafio para muitas famílias brasileiras. O que deveria ser uma tarefa simples frequentemente se torna motivo de estresse para pais que buscam qualidade nutricional sem abrir mão da conveniência.
Foi dessa lacuna que nasceu a Papapá, marca de papinhas naturais criada pelo casal paranaense Paula Machado e Leonardo Afonso.
A ideia surgiu quando o casal, ainda morando na Austrália, notou como Bernardo, o primeiro filho, rejeitava a comida feita em casa — e só aceitava papinhas industrializadas, mas naturais. Ao visitar o Brasil, perceberam: por aqui, esse tipo de produto praticamente não existia.
“Quando fui ao mercado em Curitiba, achei que fosse encontrar versões parecidas. Mas só havia uma marca antiga, cheia de conservantes. Pensei: como uma mãe aqui vai confiar nisso?”, afirma Paula. Foi esse incômodo pessoal que plantou a semente do negócio.
A empresa foi lançada em 2021, após dois anos de pesquisa e validação com mães brasileiras, além da aprovação da Anvisa. Desde então, a Papapá não parou de crescer: faturou 12 milhões de reais em 2022, saltou 360% em 2023 e espera ultrapassar 180 milhões de reais em 2025.
“O Brasil ainda tinha um mercado muito mal servido em alimentação infantil. Nossa proposta foi permitir que a mãe se sentisse segura, mesmo nos dias em que não dá para cozinhar”, diz Leonardo. Hoje, a Papapá domina 93% do mercado de papinhas e snacks para bebês.
A jornada da Papapá começou de forma quase acidental, com uma frustração recorrente que Paula enfrentava como mãe de primeira viagem.
“Eu lia tudo, estudava, cozinhava... e ele não comia. Quando encontrei uma papinha natural pronta e ele adorou, entendi que não precisava carregar tanta culpa”, afirma.
Leonardo, que na época trabalhava em uma multinacional do setor de alimentos infantis, já havia percebido sinais de mudança no perfil das consumidoras. “Vi de perto como a nova geração de mães estava mudando a categoria — e como a indústria não estava acompanhando. A mãe de hoje não aceita mais o que era padrão antes”, afirma.
O turning point veio em uma visita ao Brasil, no fim de 2018. “A Austrália tinha seis marcas de papinhas naturais para um país menor que a Grande São Paulo. Aqui, com um mercado infinitamente maior, havia uma só, e ainda muito defasada”, diz Leonardo. A ideia de empreender nasceu ali.
Antes de lançar a Papapá, o casal mergulhou em pesquisas com mães brasileiras. A maior descoberta foi emocional: muitas mulheres sentiam vergonha de usar papinhas prontas, mesmo quando não tinham alternativa. “Uma mãe contou que tirava o rótulo e fingia que ela mesma tinha feito, para não ser julgada pelas amigas. Isso nos marcou muito”, afirma Leonardo.
Essa escuta ativa virou método. “Na Papapá, nossa pesquisa é feita com mães reais, não com laboratório. O que nos guia é a necessidade concreta de quem está ali, tentando equilibrar trabalho, filho e alimentação”, diz Paula.
O resultado foi um portfólio com ingredientes 100% naturais, sem conservantes, açúcar ou aromatizantes. “Queríamos que a mãe pudesse abrir uma papinha e se sentisse em paz. Mesmo quando não dá tempo de cozinhar, ela está oferecendo o melhor”, diz Leonardo. O processo de homologação na Anvisa foi rigoroso, e levou dois anos até o lançamento da marca, em plena pandemia.
Desde o início, o casal optou por um modelo de crescimento sustentável. Com um aporte inicial de 5 milhões de reais, a empresa operou no azul já no segundo ano. “A gente nunca quis queimar caixa. Preferimos crescer com consistência. Hoje temos uma margem de lucro maior do que a média do setor”, afirma Leonardo.
Essa disciplina financeira permitiu que a Papapá se tornasse lucrativa enquanto crescia. Em 2023, o crescimento foi de 360% sobre o ano anterior. Para 2025, a expectativa é alcançar mais de 180 milhões de reais em faturamento — um salto de mais de 230%.
O canal físico ainda responde por 70% das vendas. A marca está presente em 20 mil pontos de venda e mira chegar a 100 mil. “Ainda temos muito espaço para crescer no varejo, principalmente fora dos grandes centros”, afirma Leonardo.
O crescimento não está limitado às papinhas. A Papapá já é também líder na categoria de snacks infantis, com produtos pensados para o dia a dia de crianças pequenas. “Temos que entender que comer é também um ato social. A criança quer o snack, mas ele pode ser saudável”, diz Paula.
Recentemente, a empresa lançou uma linha de cereais infantis sem açúcar, voltada especialmente para o Norte e Nordeste, onde essa categoria tem forte penetração. “Estamos falando de um país desigual, onde a alimentação infantil ainda é baseada em produtos ultraprocessados. Nosso papel é democratizar o acesso a opções melhores”, diz Leonardo.
Além disso, a Papapá já mira novos momentos da infância e da maternidade. “Estamos desenhando produtos para acompanhar a criança depois dos dois anos, quando ela começa a fazer escolhas. E também para o período gestacional. A nutrição começa antes do nascimento”, afirma Leonardo.
Mais do que um negócio, a Papapá quer ser uma plataforma de transformação social. “Nosso objetivo é formar uma geração mais saudável. Se os primeiros anos definem o paladar e os hábitos, é aí que temos que atuar”, diz Paula.
Leonardo reforça: “Não vendemos só papinhas. Vendemos autonomia para a mãe, segurança para o bebê e um futuro melhor para todos. Alimentação saudável não pode ser privilégio. Tem que ser padrão.”