Negócios

Pão de Açúcar emprega e orienta menores infratores em SP

Por meio de um projeto social, grupo contrata e forma jovens da Fundação Casa para o mercado, de forma sigilosa. Este ano, famílias serão incluídas no programa


	Pão de Açúcar: maioria dos menores trabalham em supermercados
 (Marcos Issa/Bloomberg)

Pão de Açúcar: maioria dos menores trabalham em supermercados (Marcos Issa/Bloomberg)

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 2 de julho de 2014 às 18h07.

São Paulo - Há uma década o Grupo Pão de Açúcar (GPA) emprega e orienta menores infratores sem contar para ninguém quem eles são – nem mesmo para os seus próprios funcionários.  Este ano, o programa “Gente de Futuro” ganha uma nova abordagem: além de formar esses jovens para o mercado de trabalho, a empresa dará suporte também às suas famílias.

Desde 2004, a rede faz uma parceria com a Fundação Casa para recrutar e contratar pessoas que cumprem ou já cumpriram medidas socioeducativas para atuarem nos supermercados Pão de Açúcar e Extra e na sua sede administrativa, em São Paulo. Mas, foi em 2009 que a prática tomou forma de projeto.

“Não se trata de cotas legais a serem cumpridas, como o acontece no “Menor Aprendiz”. É social mesmo”, diz Elisabete Fonseca, gerente de RH do grupo.

Para participar, os jovens com idade entre 17 e 21 anos precisam ser indicados pela instituição. Depois, eles passam por um processo seletivo elaborado pela empresa. O projeto tem duração de 12 meses e, a cada ano, são criadas de 20 a 30 vagas.

Para 2014, foram 70 candidatos pré-selecionados para 25 postos de trabalho abertos. A seleção ainda está em curso e 10 deles já foram preenchidos.

A escolha, que deve terminar em julho, passa pela análise de uma consultoria e por uma entrevista com um gestor e leva em conta a vontade e o perfil do jovem. É depois de identificar o potencial dos candidatos que a varejista busca as vagas em lojas próximas à região onde eles moram – num processo inverso ao natural.

No trabalho

Depois de selecionados, os jovens são efetivados como qualquer outro funcionário do GPA. O programa é sigiloso e só os gestores sabem quem são as pessoas que participam dele. Para o restante da equipe, não há distinção para evitar qualquer possível preconceito.

A maioria deles é contratada para atuar nas áreas de operação dos supermercados da rede e alguns (cerca de 20%) são destinados à sede administrativa da empresa. “Muitos começam aprendendo um ofício como o de padeiro, ou açougueiro, e realmente constroem uma carreira nessas profissões”, conta Elisabete.

O único tratamento diferenciado que os integrantes do “Gente de Futuro” recebem é ter de participar de reuniões quinzenais que trazem treinamentos e palestras, organizados pela consultoria parceira.

Os encontros duram quatro horas e neles são tratados temas como o autoconhecimento, o diálogo, a relação com a família e o papel do jovem profissional na sociedade. “São pessoas muito fortes, mas também muito machucadas e que, por isso, às vezes criam mecanismos de defesa”, justifica Elisabete sobre a necessidade desse tipo de orientação.

Os chefes que irão comandar funcionários do “Gente de Futuro” também são preparados especialmente para recebê-los. Durante um dia, eles são treinados pela consultoria para “aprender a administrar as falhas dos jovens de maneira construtiva”, segundo explica Elisabete.

Ao decorrer do ano, os líderes também participam de pelo menos dois encontros com a equipe de RH da companhia e a consultoria para discutir o andamento do programa e discutir as dificuldades e oportunidades dos empregados que fazem parte dele.

Engajamento

Passados os 12 meses, o funcionário do “Gente de Futuro” que estiver se dando bem no trabalho continua na companhia. Na média, 50% deles permanecem no emprego para além desse período.

Elisabete conta que não há muitos registros de que o GPA precisou desligar os jovens. “Só acontece em casos extremos. Mas alguns realmente desistem porque retornam à criminalidade”, afirma, sem falar em números.

Entre aqueles que não vão embora, uma média de 12% são promovidos. “Quando eles ficam, o índice de engajamento é muito grande, porque nós os ajudamos a reconstruir a sua história”, diz a gerente.

Hoje, 10 funcionários que vieram do projeto ainda estão na companhia. Deles, cinco já tem entre 5 a 9 anos de casa, sendo que um ocupa um cargo de média liderança. “Tem também o caso de uma pessoa que nos deixou para ser sommelier em uma grande adega”, conta Elisabete.

Ao todo, os supermercados da rede empregam 72 mil trabalhadores. 

Família

A companhia decidiu estender a abordagem do projeto ao círculo social dos participantes porque percebeu que essa relação é essencial. “Se o jovem tem vontade de fazer, mas a família não apoia, não dá certo”, diz Elisabete.

A partir deste ano, assistentes sociais começarão a visitar as famílias para orientá-las sob as diretrizes do “Gente de Futuro” e observar como o jovem age fora da empresa. A periodicidade das visitas será definida de acordo com a “vulnerabilidade social” de cada um. 

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas abertasComércioSupermercadosVarejogestao-de-negociosEmpresas francesasPão de AçúcarCrimeServiço socialcrime-no-brasil

Mais de Negócios

SumUp capta R$ 850 milhões para enfrentar crise de crédito nas PMEs

Alumínio sem carbono chega às embalagens da Unilever

Mercado Livre será parceiro do YouTube Shopping em nova fase no Brasil

Ela abriu um negócio no pós-parto e faturou US$ 30 mil em 2 meses e hoje rende US$ 500 mil ao ano