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Paixão por felinos: como o mercado pet se adaptou para os "gateiros"

O aumento da oferta de produtos para gatos no Brasil segue uma tendência mundial; por mês, um dono de gato gasta em média R$ 205,94

Gatos: nas casas dos brasileiros, eles já são 23,9 milhões (Oleksandr Shchus/Getty Images)

Gatos: nas casas dos brasileiros, eles já são 23,9 milhões (Oleksandr Shchus/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 17 de fevereiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2020 às 16h28.

São Paulo — Os gatos ainda não são maioria nas casas dos brasileiros, mas a popularidade dos bichanos tem aumentado fortemente, tanto é que há um dia só deles. Nesta segunda (17), comemora-se o Dia Mundial do Gato.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 23,9 milhões de felinos no país, versus 54,2 milhões de cães e 39,8 milhões de aves, de um total de 139,3 milhões de animais domésticos. As estimativas apontam que, até 2022, a quantidade de gatos chegará a 30 milhões.

Em 2016, eram 22,1 milhões de gatos brasileiros. Já no ano passado, a população dos felinos cresceu mais que o dobro da de cães, acumulando 8,1% de aumento contra 3,8% do crescimento canino, de acordo com a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação).

Para Ricardo Calil, gerente do Sebrae-SP, o aumento dos "gateiros" (como são chamados os donos dos felinos) se dá pela vontade de ter um animal de estimação — porém um bichinho que consiga se adaptar melhor à rotina intensa de trabalho dos donos. "Os gatos são menos dependentes do que os cachorros. Ao ter um gatinho, você continua suprindo a necessidade de ter um companheiro, mas com um toque a mais de independência", diz Calil.

Com o crescimento da população de gatos, não é só o sofá que fica mais cheio de pelos — o mercado de produtos para animais de estimação também tem de se adaptar.

Em 2019, a Royal Canin, que fabrica alimentos para animais domésticos, lançou uma campanha de marketing focada na importância dos cuidados com a saúde dos felinos, além de ter investido 32% a mais no segmento este ano do que em 2018. A campanha representou 25% do investimento total em marketing para 2019.

A Dog's Care, marca de bem-estar para cães, decidiu deixar o "dog" só no nome: agora também vendem areia granulada biodegradável. No ano passado, o faturamento da marca foi de R$ 11 milhões. Para este ano, a projeção é de R$ 18 milhões — e o produto novo para os felinos já agregou em 5% no crescimento do lucro geral.

"O mercado de gatos, como estratégia de negócios, sempre estava no nosso radar porque tem crescido muito", explica Ana Carolina Vaz, presidente e fundadora da Dog's Care.

Apesar de as perspectivas serem boas para o segmento, é bom tomar cuidado na hora de empreender ou investir. "Muitos empresários se animam com o setor sem ter afinidade com ele, pensando somente em ganhar dinheiro, e isso complica muito o negócio no dia a dia", afirma.

A orientação do Sebrae é simples: não abrir uma empresa em um setor simplesmente por notar que aquele mercado fatura bilhões por ano.

Vaz seguiu a dica à risca. Para sentir na pele o que os "gateiros" sentem ao procurar a areia sanitária perfeita, adotou uma gata (a Lua) para saber se o produto dava certo ou não. "A gente não queria lançar algo sem ter a experiência", garante. "Foi assim que a gente decidiu colocar esses bichos na estratégia de forma mais efetiva, unindo tanto o crescimento acelerado, quanto a inovação, trazendo aquilo que a gente sabe fazer que é transformar nossos ‘perrengues diários’ em produto."

Hoje, a presidente da Dog's Care tem três gatos.

Lua: gata foi adotada para testar novo produto da Dog's Care — e depois ganhou dois irmãos (Dog's Care/Divulgação)

O movimento frenético dos negócios voltados aos gatos no Brasil faz parte de uma tendência mundial. Para Calil, do Sebrae, os felinos vão sair das caixas e ocupar ainda mais espaço no mercado nos próximos anos. "Os negócios terão de acompanhar a mudança de comportamento e isso gera uma oportunidade para opções voltadas para gatos. Foi o que aconteceu com os cachorros no passado, e vai continuar acontecendo", diz.

Mercado de pets inflado

Em setembro de 2019, uma pesquisa do aplicativo de finanças GuiaBolso, apontou que os consumidores estavam gastando 7,4% a mais com pets do que no mesmo período de 2018. E não é de hoje que os animais domésticos têm ganhado espaço na vida das pessoas e movimentado um mercado que tende a crescer ainda mais nos próximos anos.

Segundo a Euromonitor International, empresa de pesquisas, o mercado de cuidados com animais cresceu 66% na última década — 23% a mais do que a própria economia global, que cresceu 43%. Há dois anos, o faturamento da indústria foi de 124,6 bilhões de dólares mundialmente.

Em 2018, no Brasil, foram movimentados 34,4 bilhões de reais na indústria pet, segundo o Instituto Pet Brasil (IPB). 70% destes bilhões foram gastos somente em alimentação. Os números de 2019 ainda não foram divulgados, mas podem chegar a 36,2 bilhões segundo o instituto. Em 2020, a expectativa é de 40 bilhões.

A média de gastos mensais com animais ainda é maior com cães de grande porte (425,24 reais), seguidos de cães de médio porte (326,98 reais), cães de pequeno porte (274,37 reais) e gatos (205,94 reais). Os animais mais econômicos, de acordo com o IPB, são as aves — os donos, em média, gastam 17,38 reais.

O mercado brasileiro está bem aquecido, mas é nos Estados Unidos que ele segue mais forte. As estimativas da American Pet Products (APPA) apontam que, em 2019, foram gastos mais de 75 bilhões de dólares para o bem-estar dos animais de estimação — não é por menos que, em 2018, os EUA representaram 40,2% de toda a movimentação global do mercado, gastando 72,5 bilhões de dólares.

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