Aeroporto de Salvador: será uma das concessões de infraestrutura planejadas pelo governo (Infraero/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2015 às 09h36.
São Paulo - Os mais de R$ 198 bilhões do novo pacote de concessões de infraestrutura do governo, lançado na semana passada, são uma oportunidade bilionária para reaquecer o mercado de seguros de grandes riscos. Há, contudo, receio por parte de seguradoras e resseguradoras, conforme executivos ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, quanto às obras que efetivamente sairão do papel uma vez que no passado boa parte dos empreendimentos anunciados como, por exemplo, o trem de alta velocidade (TAV), não foram executados.
Com leilões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, a segunda fase do Programa de Investimento com Logística (PIL) tende a movimentar bilhões em seguros de garantia (que garantem que uma obra seja concluída conforme previsto em contrato), de engenharia, riscos operacionais, transportes. Uma fonte diz que alguma repercussão para a indústria de seguros pode ocorrer neste ano, mas nada que mude sobremaneira o volume de negócios uma vez que boa parte dos projetos é para 2016.
Valores exatos em prêmios de seguros ainda são difíceis de serem mensurados já que um cronograma mais preciso de licitações ainda não foi divulgado e é ansiosamente aguardado pelo mercado. "Rodovias e aeroportos já têm modelos de concessão que tiveram relativo sucesso no passado e são obras mais simples, o que significa que a licitação e a contratação dos seguros devem acontecer relativamente rápido", diz Guilherme Perondi, vice-presidente da resseguradora da alemã Allianz (AGCS).
Segundo ele, a expectativa é de que as concessões de rodovias e aeroportos gerem apólices ainda neste ano. Ferrovias e portos vão depender, conforme Perondi, do modelo final a ser adotado pelo governo. Sendo assim, 2015 pode terminar sem um volume elevado de contratos para grandes riscos. De janeiro a abril, o segmento, sem considerar aeronáutico e marítimo, não cresceu sequer 4%, com menos de R$ 2 bilhões em prêmios em 12 meses, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). A expansão vem desacelerando. No ano passado, grande risco cresceu 9,8%, abaixo do ritmo de 2013, de 13,5%.
Apesar de boa parte das obras ainda não ter projeto executivo, o anúncio do pacote de concessões foi bem recebido pelo mercado de seguros. "Os investimentos em infraestrutura são uma boa notícia. A Ace está acompanhando os desenvolvimentos do pacote para estar pronta para atender eventuais seguros desses novos projetos anunciados", avalia Antonio Trindade, presidente da Ace Seguradora no Brasil, em entrevista ao Broadcast.
Líder em grandes riscos, a companhia americana reforçou sua aposta neste segmento ao adquirir a carteira do Itaú Unibanco no ano passado por R$ 1,5 bilhão. O investimento foi na contramão de outras empresas que, decepcionadas pelo baixo volume de negócios no setor e à exposição a riscos vultosos, preferiram deixá-lo.
A SulAmérica, que viu duas apólices bilionárias, uma da hidrelétrica de Jirau e outra de um terminal portuário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), virarem brigas judiciais, vendeu sua carteira de grandes riscos para a francesa Axa no mês passado por R$ 135 milhões. Já a inglesa RSA, cujos rumores apontam sua saída do Brasil, também deixou este mercado, mas, preferiu deixar de renovar as apólices em vez de passá-las para as mãos de outro.
Apesar de ter frustrado a expectativa de algumas seguradoras, o segmento de grandes riscos ainda atrai interessados, como a Ace, por conta do potencial do segmento de infraestrutura no Brasil. Silvia Vergara, superintendente de seguro garantia e project finance da corretora de seguros Marsh Brasil, lembra que há menos players no segmento, mas com capacidade suficiente para segurar os bilhões em obras de infraestrutura uma vez que contam com respaldo do mercado internacional de resseguro.
Um deles é a japonesa Tokio Marine. Depois de perder a disputa pela carteira do Itaú, a seguradora ativou um plano B, com foco em crescimento orgânico, para o qual reforçou o time de executivos. "Apesar de R$ 56 bilhões estarem relacionados a projetos de difícil aceitação na iniciativa privada, como a (ferrovia) Bioceânica, há outros mais completos que vão servir de mola propulsora para o mercado de seguros de grandes riscos", analisa José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine no País. "Estamos preparadíssimos", acrescenta.
Mesmo que somente parte dos R$ 198 bilhões em investimentos se tornem realidade, segundo James Hodge, diretor de construção da corretora de seguros Willis, 30% deste montante já têm força para aquecer o mercado de seguros de grande risco, que também sofreu reflexos da Operação Lava Jato com atraso em obras. Grandes projetos, de acordo com ele, sempre mudam o ritmo do mercado e há potencial de o crescimento acelerar para 30%, 40% no ano que vem. Vai depender, porém, da materialização dos mesmos.