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A Oi sobreviveu. Mas o que acontece agora?

Empresa finalmente aprovou sua reestruturação. Mas, até respirar sem ajuda de aparelhos, ela terá que passar por várias etapas nos próximos 12 meses

Oi: assembleia de credores que começou ontem, dia 19, durou 15 horas e levou a alguns ajustes no plano apresentado

Oi: assembleia de credores que começou ontem, dia 19, durou 15 horas e levou a alguns ajustes no plano apresentado

DR

Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 16h19.

Última atualização em 20 de dezembro de 2017 às 16h52.

Dezoito meses após pedir recuperação judicial e enfrentar episódios ruidosos na disputa entre acionistas e credores, a operadora de telefonia Oi conseguiu aprovar na madrugada desta quarta-feira um plano de reestruturação.

Devem levar mais 12 meses para que tudo que foi acordado seja colocado em prática e a Oi volte a respirar sem aparelhos.

Nesse período, investidores que sondaram a empresa nos últimos meses devem finalmente fazer suas propostas – e a Oi pode ressurgir dessa reestruturação com um novo dono.

A assembleia de credores que começou ontem, dia 19, durou 15 horas e levou a alguns ajustes no plano apresentado, como redução da dívida, conversão de credores em acionistas e previsão de um aumento de capital obrigatório.

A aprovação foi com quase 100% dos votos em todas as classes de credores, o que foi comemorado pela administração da companhia e deve ajudar a agilizar as aprovações em órgãos reguladores.

Dos credores mais relevantes, somente a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) votou contra, mas foi insuficiente para mudar o desfecho da assembleia.

“A Oi virou a página e começará a escrever uma nova história”, disse Eurico Teles, presidente da Oi.

O plano agora segue para homologação pela Justiça – como o Judiciário entrou nesta quarta-feira em recesso e retoma os trabalhos em janeiro, a estimativa é que essa etapa seja concluída até fevereiro.

Na sequência, o plano será submetido aos órgãos reguladores, como Anatel, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que avaliam questões como mudanças societárias e aporte de capital. Cumpridos os procedimentos regulatórios, a companhia começa a colocar o plano em prática.

O primeiro momento é a redução do endividamento. A Oi tem 64 bilhões de reais em dívidas, sendo 49,4 bilhões de reais de dívida financeira, com bancos e investidores que detêm títulos da companhia (bondholders).

Desses 49,4 bilhões, a Oi conseguiu um deságio (o chamado “haircut”, no mercado financeiro) de 25,5 bilhões de reais – o que leva o endividamento da Oi para menos de três vezes o Ebitda.

No balanço consolidado de 2016, essa relação era de quase seis vezes. A dívida remanescente é alongada, com prazo de pagamento médio de 10 anos.

O próximo passo é converter a dívida restante desses investidores em ações da Oi. Se houver adesão total, os credores ficarão com 75% do capital da empresa (a estimativa atual é que cerca de 70% façam a conversão).

Feita a conversão, a Oi finalmente receberá dinheiro novo. A empresa vai fazer um aumento de capital de 4 bilhões de reais, em que os acionistas podem aderir, a princípio, na proporção de suas participações – aqui, já entram os acionistas que vieram da conversão de dívida e os atuais investidores de ações da empresa.

Um grupo de credores já deu garantia desse montante de recursos. Ou seja, se os demais acionistas não aderirem ao aumento de capital comprando novas ações, o que é facultativo, esse grupo aumenta sua participação. Esse aporte tem que ser feito até o fim de fevereiro de 2019.

A Oi planeja ainda uma captação adicional de 2,5 bilhões de reais no mercado de capitais, mas ainda não há prazo ou formato definido para essa fatia.

Esse capital adicional pode vir, por exemplo, de investidores que sondaram a companhia ao longo do processo de recuperação judicial – ou eles podem ir além desse montante, com uma oferta de compra do controle acionário.

Nesta quarta-feira o presidente da Oi, Eurico Teles, afirmou que a companhia “está pronta para ser vendida”.

Desde que o processo de recuperação judicial da Oi começou, em junho de 2016, já apareceram ao menos quatro grupos interessados na compra da companhia.

O primeiro foi o egípcio Naguib Sawiris, que falou em 4,5 bilhões de reais. Este ano, a gestora americana Elliot ofereceu 9 bilhões de reais e o fundo Cerberus, aliado ao consultor Ricardo K, especialista em reestruturações, falou em 8 bilhões de reais.

Estatais chinesas ainda não apresentaram um número, mas se aproximaram da empresa e da Anatel durante o ano e demonstraram interesse em negociar assim que o plano estivesse finalmente definido. A China Mobile, coordenada pelo China Development Bank, mantém conversas com a Anatel. A China Telecom e o fundo TPG chegaram a pedir dados adicionais sobre a empresa à administração da Oi.

Com o plano definido, a Oi também ganha maior agressividade nos investimentos. Para o triênio de 2018 a 2020, serão 7 bilhões de reais por ano – mesmo patamar da concorrência.

A Oi estava com investimentos abaixo da média, em 5 bilhões de reais anuais. O principal foco dos investimentos serão a expansão da fibra ótica e o aumento da cobertura 4G.

Ou seja: além dos credores e dos administradores, os cerca de 60 milhões de clientes da Oi também têm o que comemorar com o acordo firmado nesta madrugada.

Se os próximos meses correrem conforme o script, cai a chance de eles ficarem na mão no meio de um filme ou de uma chamada telefônica.

A questão, claro, é cumprir o script. Em se tratando da maior recuperação judicial da história do Brasil, tudo pode acontecer.

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