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Os principais tropeços do Carrefour no Brasil

Rede chegou ao Brasil na década de 70 e problemas de gestão, rombo contábil e pouca diversificação de seus modelos vêm ofuscando sua atuação no país

Carrefour afirmou que recebeu proposta do grupo Gama, empresa do BTG Pactual, para criar uma parceria estratégica combinando os ativos entre as duas empresas (Wikimedia Commons)

Carrefour afirmou que recebeu proposta do grupo Gama, empresa do BTG Pactual, para criar uma parceria estratégica combinando os ativos entre as duas empresas (Wikimedia Commons)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 28 de junho de 2011 às 12h30.

São Paulo - Quando o primeiro hipermercado do Carrefour foi inaugurado no Brasil, no ano de 1975, em São Paulo, a varejista francesa não imaginava que enfrentaria tantas dificuldades para se manter de pé no país.

Nesta terça-feira, após inúmeros rumores,a rede anunciou que recebeu uma proposta de fusão do Grupo Pão de Açúcar. Caso o acordo seja efetivado, o passo, sem dúvida, será o mais importante já dado pelo Carrefour no Brasil.

De acordo com especialistas consultados por EXAME.com, a união entre as duas redes é positiva e poderia dar fôlego novo às operações do Carrefour.

Veja os principais entraves já enfrentados pela varejista:

Modelo ultrapassado 

O Carrefour foi o precursor do modelo de hipermercados no Brasil. Até meados da década de 90, o modelo fez bastante sucesso por aqui, mas logo começou a perder o glamour.  Com a queda na inflação e maior controle dos preços, os consumidores deixaram de fazer as chamadas compras do mês e passaram a frequentar rede mais compactas e mais próximas de suas residências.

Até então, o Carrefour não possuía nenhum modelo que atendesse os consumidores na época.  Os hipermercados Carrefour começaram a ficar ultrapassados e apenas no final da década de 90, vendo que seus principais concorrentes estavam o deixando para trás, o Carrefour integrou as operações da rede Dia para se tornar mais regional. Foi somente em 2006, no entanto, que varejista criou o modelo Carrefour Bairro.

No varejo online, a rede também pecou e inaugurou seu site de compras pela interne somente no ano passado. O Pão de Açúcar, por exemplo, começou a vender produtos pela web em 1995.

Troca de comando

Em 2010, Luiz Fazzio assumiu o controle das operações brasileiras substituindo Jean-Marc Pueyo . Uma das justificativas pela troca de gestor, segundo Lars Olofsson, presidente mundial do grupo, era a vasta experiência do executivo brasileiro em varejo.  Ele já havia trabalhado no Makro, Walmart, Pão de Açúcar e C&A.


Na ocasião, Olofsson chegou a afirmar que estava determinado a fazer o que fosse preciso para chegar ao fundo do que classificou como má administração. “O que aconteceu foi claramente um mau funcionamento”, afirmou ele durante teleconferência com analistas e investidores, segundo a agência Dow Jones.

A troca de comando já sinaliza que as operações no mercado brasileiro não estavam nada bem, fato que foi confirmado meses depois, quando descoberto o rombo de 1,2 bilhão de reais no caixa da varejista.

Rombo contábil

Apesar de todas as adversidades, sem dúvida, um dos mais graves problemas enfrentados pelo Carrefour no Brasil foi rombo contábil no final do ano passado. A princípio, o prejuízo estimado era de 180 milhões de reais. Após auditoria interna, no entanto, chegou a conclusão que o prejuízo era superior a 1 bilhão de reais.

O problema foi atribuído a ativos e produtos em estoque em estoque que foram lançados no balanço da empresa durante cinco anos sem a devida depreciação

Novas redes e "um certo comodismo"

O Walmart chegou ao Brasil em 1995, na mesma década, o grupo Pão de Açúcar investiu pesado no segmento. Somente com essas duas marcas, o Carrefou, que durante quase duas décadas teve uma posição confortável no Brasil, viu sua estrutura se abalar.

De acordo com os especialistas ouvidos por EXAME.com, o Carrefour todos as dificuldades enfrentas país são fruto de um certo comodismo. “O Carrefour sempre teve uma postura mais reativa. Só tomava alguma atitude quando via o avanço e inovação dos concorrentes”, afirma um consultor recentemente.

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