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Os planos desta empresa para colocar um hotel de R$ 70 milhões do Hilton em Caraguatatuba

Enquanto fundos travavam investimentos, um grupo decidiu bancar do próprio bolso um hotel de oito andares à beira-mar

Márcio Lacerda, CEO da Hotelaria Brasil: “Esse investimento não é só sobre hotelaria. É uma visão de longo prazo para desenvolver a cidade como destino relevante” (Hotelaria Brasil/Divulgação)

Márcio Lacerda, CEO da Hotelaria Brasil: “Esse investimento não é só sobre hotelaria. É uma visão de longo prazo para desenvolver a cidade como destino relevante” (Hotelaria Brasil/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 19 de outubro de 2025 às 07h55.

À primeira vista, parece improvável: uma cidade de veraneio, conhecida pelas praias movimentadas e quiosques de porções generosas, prestes a receber um hotel de bandeira Hilton, com investimento de 70 milhões de reais. E mais — com estrutura voltada ao turismo de negócios.

Mas é exatamente isso que vai acontecer em outubro de 2025, quando o Hampton by Hilton Caraguatatuba Serramar abrir as portas, colado ao shopping mais movimentado da cidade, com rooftop, vista para a Serra do Mar e salas de eventos para 200 pessoas.

A ideia? Transformar Caraguatatuba num ponto estratégico do turismo corporativo do litoral norte de São Paulo — e dar uma nova camada de sofisticação ao mercado hoteleiro da região.

O projeto é uma aposta do Grupo Serveng, com operação da Hotelaria Brasil, master franqueadora da Hampton no país. E não é pouca coisa: serão 175 quartos, dois restaurantes, 85 empregos diretos e um impacto estimado de 240 postos de trabalho na economia local.

“Esse investimento não é só sobre hotelaria. É uma visão de longo prazo para desenvolver a cidade como destino relevante”, afirma Márcio Lacerda, CEO da Hotelaria Brasil.

O empreendimento, prestes a abrir, foi tocado na contramão do mercado, num momento em que fundos e incorporadoras freavam projetos por causa da alta dos juros.

“Foi uma decisão de coragem. Quando muitos pararam, a Serveng decidiu seguir. Eles enxergaram o futuro”, diz Lacerda, que vai administrar o hotel.

O plano é ambicioso: romper a sazonalidade típica do turismo de praia, atrair eventos, qualificar a oferta hoteleira da cidade e conectar o hotel com a economia local. “Queremos que o Hampton seja um embaixador da região”, afirma Viviane Macedo, gerente-geral da nova unidade.

Por que apostar em Caraguatatuba agora

O timing do projeto não poderia ser mais desafiador.

A decisão de construir o Hampton foi tomada quando a taxa Selic rondava os 14% ao ano — momento em que boa parte do mercado hoteleiro congelava investimentos.

“A gente tinha um fundo pronto para lançar 15 hotéis. Em menos de um ano, o cenário mudou e o fundo travou. Mas esse projeto seguiu”, diz Lacerda.

Segundo ele, o modelo seguido em Caraguatatuba foge do padrão de multipropriedade, hoje comum no mercado: em vez de diluir o risco em centenas de cotistas, o Grupo Serveng bancou o projeto com capital próprio e financiamento.

“É um modelo raro no Brasil atual. Um investidor privado colocando dinheiro de verdade, com foco em longo prazo”, diz Lacerda.

Mas por que Caraguatatuba? A resposta passa por três pontos:

  • vocação turística consolidada
  • carência de hotelaria qualificada
  • sinergia com o Serramar Shopping, do mesmo grupo.

“O hotel vem para complementar o mix do shopping. É mais do que hospedagem — é um ecossistema de consumo, lazer e negócios”, afirma o CEO.

A localização também pesa: a cidade é o principal acesso rodoviário para quem vem do Vale do Paraíba, de São José dos Campos e até de Minas Gerais. E ainda é porta de entrada para o litoral norte, incluindo Ubatuba, Ilhabela e São Sebastião.

“Hoje, quem quer conforto fica em cidades vizinhas ou aluga casas. O Hilton muda isso”, diz Lacerda.

E há um fator simbólico: essa será a primeira bandeira internacional de hotelaria a se instalar na cidade. “É uma chancela de confiança. Isso coloca Caraguatatuba no radar de outros investidores”, afirma a equipe.

Como será o hotel Hampton by Hilton Serramar

Com oito pavimentos e área construída de 8.200 metros quadrados, o Hampton terá 175 quartos, dois restaurantes (um deles com bar rooftop), salas para eventos de até 200 pessoas, academia e piscina com vista para a Serra do Mar e para a costa de Ubatuba.

A operação será da Hotelaria Brasil, que já administra 21 unidades no país, incluindo o premiado Hampton de Guarulhos.

A estrutura foi pensada para atender tanto o público de lazer quanto o corporativo.

“O setor de eventos em São Paulo movimentou 22,5 bilhões de reais em 2024. Queremos trazer uma fatia disso para cá”, diz Lacerda. O hotel já nasce com foco em reuniões, convenções e encontros empresariais de médio porte.

Outro ponto de atenção está no padrão de serviço. A operação seguirá os protocolos da Hilton, o que inclui exigências de sustentabilidade, governança e treinamento constante. “A gente acredita que o padrão internacional vai puxar o nível da hotelaria da cidade como um todo. Isso cria concorrência positiva”, afirma Viviane Macedo.

A estimativa inicial é de 60% de ocupação média no primeiro ano, com RevPAR (receita por quarto disponível) entre 350 e 400 reais. A ideia é posicionar o hotel como referência regional em atendimento, estrutura e experiência de hospedagem.

O que vem pela frente na estratégia da Hotelaria Brasil

O Hampton de Caraguatatuba é só uma peça dentro de um plano maior da Hotelaria Brasil, que pretende continuar crescendo com marcas nacionais e internacionais, sempre mirando cidades com potencial econômico e turístico.

“Estamos ampliando o hotel de Guarulhos, colado ao aeroporto, estudando um novo projeto em Campinas e queremos entrar no Rio de Janeiro. Além disso, estamos de olho em cidades médias no Nordeste, como Petrolina, Feira de Santana e Juazeiro do Norte. Tem muita demanda que ainda é invisível ao mercado”, diz Lacerda.

O grupo também aposta no agronegócio como vetor de expansão. Regiões como Sorriso (MT) e o interior da Bahia, impulsionadas por feiras, eventos e negócios locais, estão no radar. “O Brasil real não está só nas capitais. A gente acredita no interior produtivo como destino de turismo e negócios.”

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