“O Brasil é um dos países que lidera este movimento sustentável, mas estamos sempre dividindo experiências em toda a região e globalmente para adotar e compartilhar as melhores práticas”, diz Janaína. (Chris Ratcliffe/Bloomberg/Bloomberg)
Karina Souza
Publicado em 3 de dezembro de 2021 às 14h37.
Última atualização em 3 de dezembro de 2021 às 14h40.
A Bridgestone quer se tornar “uma companhia de soluções sustentáveis” nos próximos 30 anos. Com uma receita global na casa dos US$ 27 bilhões, segundo estimativas de mercado, a empresa quer mostrar que pode ocupar um papel central na era da mobilidade mais sustentável. Dentro da companhia, isso significa reduzir as emissões totais de carbono pela metade até 2030 e neutralizá-las completamente a partir de 2050, tendo como comparação os níveis de 2011. Para mostrar o papel da América Latina nesse progresso, a companhia divulgou, pela primeira vez, o Relatório de Sustentabilidade dedicado à região, ao qual EXAME teve acesso.
“Nos tornarmos uma empresa de soluções sustentáveis está muito alinhado com a economia circular. Trabalhamos na implementação de um plano que contempla diversas iniciativas, como diminuir as emissões de carbono, aumentar a reciclagem dos pneus que finalizaram sua vida útil e apoiar a comunidade mediante programas de responsabilidade social em temas como segurança viária, saúde e educação e voluntariado. Tudo isso enquanto atendemos as necessidades do nosso consumidor e demais públicos”, diz Janaína Coutinho Braga, Gerente de Meio Ambiente e Segurança da Bridgestone na América Latina, à EXAME.
Entre os principais resultados mostrados pela companhia na operação combinada de México, Costa Rica, Colômbia, Argentina, Brasil e Chile, está a redução das emissões de CO2 em 29,9% no ano e reciclagem de 97,7% dos resíduos. Contribuem para isso ações como o negócio de recapagem de pneus da marca Bandag e a pandemia, que reduziu turnos e provocou incertezas na indústria automotiva em termos de produção.
Ainda assim, analisando mais a fundo o resultado da Bridgestone em reciclagem, é possível notar no relatório que o Brasil é o país que mais gera resíduos -- e o segundo em reciclagem -- na região. Ao todo, são 10,1 mil toneladas de resíduos gerados anualmente na operação brasileira, com reciclagem de 98,8%. À frente, está a Costa Rica, que produz 3,3 mil toneladas e recicla 99,2%. Em terceiro lugar, está o México, com 5,2 mil toneladas geradas e reciclagem de 97%, e por fim, está a Argentina, com 2,8 mil toneladas e 93,4%.
O relatório mostra também que o Brasil é o país que concentra a maior quantidade de emissões de efeito estufa na região (por ter mais plantas ativas). Em 2020, o país foi responsável pela emissão de 87 mil toneladas de metros cúbicos de CO2, enquanto o México emitiu cerca de 40,7 mil toneladas, a Argentina, mais de 26,8 mil e a Costa Rica, cerca de 10,6 mil.
Entre as ações para mitigar os efeitos ao meio ambiente no Brasil, a companhia substituiu, na fábrica de Santo André, os tambores de plástico e metal por grandes recipientes para mercadorias a granel (Intermediate Bulk Containers, ou IBC, em inglês). Um IBC tem a capacidade de transportar o que seis tambores fariam, aproximadamente, e com isso, a companhia reduziu 12 toneladas de recipientes de plástico no transporte de materiais. Por lá, a companhia também implantou um sistema que permite o ajuste automático das caldeiras à demanda, economizando 193.280 metros cúbicos do consumo de gás natural.
Além disso, a borracha vulcanizada que vem das fábricas de Campinas e Mafra é usada como matéria-prima para solas de sapato e asfalto. E, em Camaçari, foi implantado um biodigestor, que recebe 15 toneladas de resíduos orgânicos por mês.
Em relação ao uso de água, novamente o Brasil tem a liderança de consumo anual, com 266,6 mil metros cúbicos, seguido por México com 156,8 mil, Costa Rica, com 133,1 mil e Argentina, com 198,7 mil.
Por aqui, a companhia reduziu em 23,3% o consumo em 2020, o equivalente a mais de 755 mil litros. O resultado foi atingido principalmente com tratamento de efluentes, uma operação que hoje permite à planta de Santo André reutilizar 100% da água tratada na linha de produção no último ano. Agora, os passos são seguidos pela fábrica de Campinas, que implantou o sistema recentemente.
“O Brasil é um dos países que lidera este movimento sustentável, mas estamos sempre dividindo experiências em toda a região e globalmente para adotar e compartilhar as melhores práticas”, diz Janaína.
A meta de mais sustentabilidade nos próximos nove anos lembra o que a segunda maior fabricante de pneus do mundo, a Michelin, anunciou recentemente. Em julho, a empresa afirmou que tem uma estratégia “Tudo Sustentável”, em que inclui mulheres em cargos de gestão e avanços na neutralidade de carbono, que vão levar a companhia a zerar as emissões também em 2050. Não à toa, há cerca de duas semanas, ambas as companhias se reuniram para discutir o papel do carbono em uma economia mais sustentável.
Ainda olhando para a concorrência, em 2021, Continental e Goodyear também fizeram anúncios de investimentos em pneus sustentáveis, um movimento que reflete a busca do setor automotivo, investidores e sociedade civil por empresas mais comprometidas com a emissão de carbono.
No relatório, a Bridgestone deixa claro o desafio de incluir mais mulheres na força de trabalho – um desafio compartilhado por todo o setor. Na América Latina, dos 8.251 funcionários, 6,53% são mulheres. Em busca de mais inclusão, a companhia colocou em prática algumas iniciativas recentemente, direcionadas a esse grupo. As mais recentes são o Women in Leadership, com foco em liderança feminina, e o BWin, que é um grupo de troca de experiências e mentoria entre mulheres e líderes do negócio.
“Também começamos a colocar em prática ações com a comunidade. Em parcerias desenvolvidas com o SENAI, temos 50% das vagas destinadas às mulheres em um curso de capacitação para a indústria da borracha, em Camaçari, onde está uma das nossas fábricas e, em Santo André, onde está nossa fábrica mais antiga no Brasil, um curso de Operadora de Empilhadeira totalmente destinado ao público feminino”, diz Janaína.
Para garantir que tudo isso seja colocado em prática, a companhia estabeleceu um Comitê Executivo Global, que tem o papel de supervisionar a estratégia de negócio da companhia. A empresa não divulga quanto já investiu ou vai investir nas novas soluções de sustentabilidade, mas garante que o foco é seguir o que o fundador da companhia sempre pregou, como mostra o documento.
“O fundador da companhia acreditava que uma empresa que só quer gerar lucro não pode prosperar, mas aquela que contribui para melhorar a sociedade sempre terá sucesso”, diz Charlie Rule, Presidente da Bridgestone Americas Tire Operations Latin America (BATO LA) Trouxemos essa crença para o centro do nosso negócio, não só para 2050, mas além disso”, afirma a companhia, em comunicado.