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Os (muitos) pepinos que a Oi enfrentou nos últimos meses

A Oi passou por desafios como a iminente falta de caixa, lentidão na venda de ativos e pressões de acionistas, além desta investigação na Lava Jato

No início desta semana, a Oi foi alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Mapa da Mina, nova fase da Lava Jato (Germano Lüders/Exame)

No início desta semana, a Oi foi alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Mapa da Mina, nova fase da Lava Jato (Germano Lüders/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 14 de dezembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 14 de dezembro de 2019 às 09h00.

A operadora de telefonia Oi, em recuperação judicial desde 2016, teve um 2019 dos mais atribulados do capitalismo brasileiro, culminando com o anúncio da mudança na presidência. O presidente da Oi, Eurico Teles, até então visto como o salvador da empresa e líder de sua reestruturação, irá deixar o comando no final de janeiro de 2020. 

O anúncio foi feito em 10 de dezembro, no mesmo dia em que a companhia sofreu um mandado de busca e apreensão na Operação Mapa da Mina, nova fase da Lava Jato. A operação investiga contratos da Oi com o filho de Lula, o empresário Fábio Luís Lula da Silva, para benefício da companhia durante a negociação de compra da Telemar. 

Com a operação, as ações da Oi caíram 5,4% e foram negociadas a 88 centavos. Nos últimos cinco anos, as ações caíram mais de 90%. 

Ao anunciar sua saída, Teles lamentou os rumos da companhia de telecomunicações com sede no Rio de Janeiro. “Qual foi o benefício que teve essa companhia? Eu desconheço. Estou aqui há 38 anos e vou dizer o seguinte: essa companhia é só pepino. Ela foi para recuperação judicial, uma companhia deste tamanho”, afirmou Teles há alguns dias.

A Oi de fato passou por diversos pepinos nos últimos meses, como a iminente falta de caixa para manter as operações, lentidão na venda de ativos e pressões de acionistas, além desta investigação na Lava Jato. Confira abaixo alguns dos desafios que a empresa enfrentou neste semestre.

Operação Mapa da Mina

No início desta semana, a Oi foi alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Mapa da Mina, nova fase da Lava Jato. A operação investiga contratos da Oi com o filho de Lula, o empresário Fábio Luís Lula da Silva.

Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, empresas do Grupo Oi/Telemar realizaram as transferências em troca de vantagens obtidas no governo federal em meio ao processo de aquisição da Brasil Telecom – compra que dependia de uma mudança na legislação.

Os pagamentos somaram 132 milhões entre 2004 e 2016 e teriam sido feitos para o grupo Gamecorp, que tem como sócio o filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio Luis Lula da Silva.

A companhia negou que a empresa tenha sido beneficiada pelos negócios mencionados pela PF. Segundo o vice-presidente de operações da Oi, Rodrigo Abreu, a Oi saiu prejudicada da aquisição da Brasil Telecom, ao assumir dívidas bilionárias no processo.

A Oi disse ainda que "atua de forma transparente e tem prestado todas as informações e esclarecimentos que vêm sendo solicitados pelas autoridades". Afirmou que "é a principal interessada no total esclarecimento de eventuais atos praticados que possam lhe ter gerado prejuízo e reafirma o compromisso de seguir com seu processo de transformação, mantendo-se em linha com os mais elevados padrões de governança, ética e transparência".

Prejuízo bilionário

No terceiro trimestre do ano, a Oi reportou um prejuízo de 5,7 bilhões de reais, aumento de quase 340% em relação à perda apurada um ano antes. O prejuízo bilionário coloca a Oi no topo do ranking de maiores prejuízos entre as empresas abertas.

A receita líquida de clientes no Brasil totalizou 4,8 bilhões de reais, queda de 7,8% na comparação ano a ano, com o Ebitda de rotina somando 1 bilhão de reais, declínio de 30,7% na mesma base de comparação. Entre os motivos para o prejuízo estão itens não recorrentes. A companhia contabilizou um impairment, ou redução de valor de ativos, no montante de 3,34 bilhões de reais. 

A Oi também alcançou a marca do maior prejuízo entre as empresas abertas no segundo trimestre do ano, quando reportou perdas de 1,5 bilhão de reais.

Boatos de venda

Boatos sobre a possível venda da Oi para a americana AT&T haviam animado investidores da companhia de telecomunicações. A americana não foi a única sondada como futura compradora da Oi. Além da AT&T estariam no páreo a chinesa Huawei, a italiana TIM, a espanhola Telefônica e até a Record. 

Entre os principais ativos da Oi estariam os cerca de 363 mil quilômetros de fibra ótica. Além disso, o vice-presidente de operações da Oi, Rodrigo Abreu, disse que a operadora consideraria vender sua operação móvel se receber ofertas atraentes.

No entanto, em setembro, fontes negaram o interesse da americana, dizendo que ela só estaria interessada em investir em produção de conteúdo no país. A fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações Huawei disse em setembro que não está interessada em comprar a Oi, ou qualquer outra operadora brasileira.

Outras companhias continuam no páreo pelos ativos da Oi. A TIM, a espanhola Telefónica e a mexicana América Móvil, por meio da subsidiária local Claro, também estão interessadas. No entanto, até agora negociações mais concretas não foram anunciadas.

Socorro necessário

No início do ano, a companhia chegou a receber um aporte de 4 bilhões de reais dos acionistas. O dinheiro seria usado para levar a cabo a última e decisiva etapa do plano de recuperação judicial aprovado em junho de 2018: acelerar a substituição de sua rede de internet de banda larga fixa de fios de cobre pela de fibra óptica, mais rápida. 

Mas em agosto a Oi já havia gastado metade do aporte recebido, continuava a perder clientes, e seu diretor financeiro, Carlos Brandão, tinha dito que uma nova injeção de recursos poderia ser necessária.

A companhia apresentou o diagnóstico de sua situação preocupante à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e indicou que o dinheiro em caixa da operadora chegou ao “mínimo necessário” e que há previsão de que os recursos terminem em fevereiro de 2020 se nada for feito.

A acelerada queima de caixa preocupou o mercado, a Anatel e os acionistas. Na ocasião, o fundo de investimentos americano GreenTree, dono de 15% da operadora, pediu a saída de Eurico Teles do cargo. 

Venda de ativos atrasada

Em seu plano de recuperação judicial, a companhia previa levantar até 7 bilhões de reais até 2020 com vendas de ativos. A Unitel, empresa angolana, poderia ser usada para levantar capital, bem como ativos imobiliários. Não é tão fácil se desvincular dos ativos e esses negócios estão demorando mais do que o previsto.

Recentemente, a companhia pediu mais prazo para finalizar certas etapas do processo. O prazo de supervisão da companhia terminaria em fevereiro do ano que vem, mas a empresa afirmou que, já tendo concluído grande parte das etapas do processo, há elementos complexos a serem resolvidos.

A operadora já conseguiu reverter 35 bilhões de reais de sua dívida de 65 bilhões de reais e planeja dobrar em 2020 seus investimentos no segmento corporativo, que fornece serviços para mais de 57 mil empresas tanto no setor público como privado.

Porém, com tantos pepinos, a companhia pode demorar mais que o esperado para se recuperar - e ainda há dúvidas sobre como fará isso. 

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