HOTEL CANOPY, NA ISLÂNDIA: marca que atrai a “mentalidade millenial”, uma tônica do século 21 / Divulgação
Da Redação
Publicado em 9 de janeiro de 2017 às 16h39.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h32.
Betina Neves
Foi-se o tempo em que viajar a trabalho era sinônimo de hotéis executivos sóbrios e muito parecidos entre si. E que a rotina resumia-se a correr da sala de conferência para a cama e da cama de volta para o avião. Eram tempos em que executivos mais velhos gostavam do conforto clássico dos hotelões. E que os executivos mais jovens faziam de tudo para parecerem mais velhos – incluindo, claro, desfrutar do conforto clássico dos hotelões.
Na última década, pipocou pelo mundo uma profusão de novas marcas de hotéis voltadas para receber a geração “millennial” (nascida mais ou menos entre 1980 e 1995). Parte pertence a redes gigantes já consagradas (o Canopy e o Tru, da Hilton; o Centric, da Hyatt; o Red, da Radisson; o Aloft, da Starwood), parte de iniciativas independentes como os holandeses Citizen M e Zoku e o americano Virgin Hotels. Outras redes já anunciadas devem lançar hotéis nos próximos anos, com a Vib, da Best Western; a Tommie, da Commune Hotels; e a Venu, da Jumeirah.
“Em muitas partes do mundo os millennials já correspondem a 50% do nosso público”, diz Toni Stoeckl, vice-presidente das marcas de “lifestyle” da Marriot. “Eles querem ter algo para contar quando voltam para casa, mesmo quando estão viajando a trabalho. Para isso, procuram uma hospedagem descolada que valorize design e tecnologia e proporcione experiências no destino onde estão”.
Essa geração é adepta à tendência mundial que vem sendo chamada de “bleisure” (em inglês, “business” + “leisure”), ou seja, pessoas combinando negócios e lazer numa mesma viagem, adicionando mais dias no começo ou no fim da estada para curtir o destino e reservando mais momentos para relaxar mesmo no cotidiano do trabalho.
Na Moxy, marca lançada pela Marriot em 2014, agora com sete hotéis na Itália, Alemanha, Estados Unidos e Escócia, a ideia é criar um ambiente mais social. “Queremos a experiência divertida e interativa de um albergue”, diz Stoeckl. Eles organizam campeonatos de pebolim, eventos com tatuadores e até festas do pijama. No Zoku, até agora só com uma unidade em Amsterdã, há uma cozinha onde os hóspedes podem preparar refeições juntos e um espaço de coworking com mesas comunais.
O engajamento com a cultura local também é importante: no Canopy, inaugurado na Islândia mas já com 17 unidades previstas para abrir pelo mundo, hóspedes recebem um docinho de uma padaria local na chegada e têm degustações de cervejas regionais no lobby. O “concierge” (ou o que ele costumava ser, porque as funções também estão sendo diluídas) está pronto para indicar achados fora do lugar-comum na cidade. Apesar de alguns desses hotéis estarem próximos a aeroportos, muitos ficam em bairros moderninhos e emergentes.
Design também é o elemento-chave dessa categoria. Sai de cena o visual insosso dos hotéis executivos comuns, e entram mobiliário e decoração atraentes e criativos projetados por grandes nomes do design; tudo milimetricamente pensado, desde o layout às cores e temas. No Citizen M, os móveis são da renomada marca suíça Vitra, e nos quartos há representações de obras de arte como os famosos cachorros de bexiga de Jeff Koons.
Isso compactua com a ideia de que, apesar de serem parte de uma rede, os hotéis não oferecem uma experiência padronizada. “Nossos hotéis são meio camaleões, cada um deve ter a cara da cidade onde está por meio da decoração e das experiências que oferece”, explica Tatiana Martinez, diretora de marketing do Nhow, do grupo espanhol NH Hotels. O hotel de Berlim, por exemplo, tem como foco a música (ele abriga inclusive dois estúdios musicais), enquanto o de Milão tematiza a moda e o de Rotterdam, a arquitetura. São contratados designers e artistas locais para participar dos projetos.
Tecnologia de ponta é inerente a esses novos empreendimentos. Wi-fi de alta velocidade e gratuito (sim, ainda há redes que cobram) é o básico. O Nhow tem em suas salas de conferência projetores holográficos 3D para os clientes fazerem apresentações. O Aloft figura um mordomo robô que pode vir entregar algo no quarto para você. No Radisson Red, seu celular serve como a chave do quarto. No Citizen M, você faz check-in e check-out colocando seu cartão de crédito em máquinas disponíveis no lobby.
Por último, o preço é um fator importante. Apesar de variar entre as redes, predomina a ideia de oferecer um valor acessível: a geração millenial espera uma experiência bacana por menos grana. Alguns começam com diárias menores do que 100 dólares; muitos o fazem oferecendo quartos bem pequenos, mas bem decorados e com bom aproveitamento do espaço. É o mesmo que se pagaria num Holiday Inn ou Ibis, mas com todos os extras supracitados. Eles têm se tornado opção para empresas que não estão mais dispostas a mandar os funcionários para cinco-estrelas.
O efeito Airbnb
Em parte, essa onda tem a ver também como o mote “viva como um local” do Airbnb, o site de aluguel de temporada avaliado em 30 bilhões que deve se tornar a maior empresa de hospedagem do mundo sem ser dona de um hotel sequer. Apesar de ainda não incomodar o faturamento das grandes redes, seu apelo de economia compartilhada que atrai jovens ajuda a fazer os hotéis repensarem seus modelos de negócios e comunicação. O próprio Airbnb lançou em 2015 um serviço exclusivo para viajantes business, que permite que um funcionário da empresa faça reservas em nome dos que vão viajar, além de uma ferramenta que busca imóveis em localizações convenientes para esse público.
No Brasil, ainda há poucas incursões desse tipo, mas a expansão recente da hotelaria do Rio de Janeiro trouxe novidades. A Marriot abriu em julho um hotel da marca AC Hotels, com design europeu tipo escandinavo voltado para um viajante “global, criativo e empreendedor”. A grande inauguração do gênero, porém, foi o Yoo2, em agosto, o primeiro hotel do escritório do renomado designer francês Philippe Starck no mundo. O investimento de 130 milhões de reais trouxe o conceito do luxo acessível (as diárias custam a partir de 300 reais), tem a mão de artistas brasileiros (como Ana Nuete e Marcelo Rosenbaum) e check-in informal feito em tablets. Também aceitam animais de estimação, que têm shampoos próprios para eles nos quartos.
As redes consagradas no mercado de viagens de negócios também estão se adaptando ao novo público. A Renaissance, com 270 hotéis pelo mundo, teve um reposicionamento total. “Entendemos que esse hóspede não quer só trabalhar e subir para o quarto, ele é muito mais dinâmico e gosta de saber sobre o local onde está inserido”, diz Kellen Baldonari, diretora de marketing do Renaissance de São Paulo. Entre as novas iniciativas, implementaram o check-in pelo celular, criaram uma área de convivência no lobby que recebe música ao vivo de bandas locais e tem barman servindo drinques com cachaça e colocaram comida regional brasileira no menu do restaurante.
Resta saber o que pensa o público mais velho das mudanças. “Esse novo modus operandi dos hotéis executivos os tonar mais atualizados e ativos, o que também desperta o interesse daqueles com mais de 40”, diz Baldonari. A Hilton não diz que o Canopy é uma marca para millennials, mas sim que ela atrai “a mentalidade millennial”. Que é, afinal, a mentalidade do século 21.