Negócios

Os destaques (e expectativas) das empresas de Melhores e Maiores

Em 2016, se destacaram as companhias que cortaram custos, assumiram novos riscos e optaram por mudar para se adaptar

 (Flávio Santana/Exame)

(Flávio Santana/Exame)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 7 de agosto de 2017 às 22h55.

Última atualização em 7 de dezembro de 2018 às 15h31.

São Paulo — No ano de 2016, uma extensão da agonia política e financeira do país do ano anterior, ficou evidente quem estava mais bem preparado para o cenário adverso. Nesse contexto, destacaram-se as companhias que cortaram custos, assumiram novos riscos e optaram por mudar para se adaptar.

A edição de Melhores e Maiores deste ano, que marca os 50 anos de EXAME, premiou nesta noite as 20 empresas entre as maiores do país que se destacaram por esses motivos, além da Empresa do Ano e a destaque do Agronegócio.

“É nos momentos de incertezas e desafios que se destacam as pessoas íntegras e profissionais, as empresas corajosas e desbravadoras”, afirmou Walter Longo, presidente do Grupo Abril, no discurso de abertura da cerimônia de premiação, que aconteceu na Sala São Paulo, na região central da cidade.

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Com vendas superiores às da Lojas Americanas e do Magazine Luiza, a rede de farmácias RaiaDrogasil foi premiada como a Empresa do Ano. Fruto da fusão das então concorrentes Raia e Drogasil, em 2011, a companhia é hoje a sétima maior varejista do país.

A expansão ousada e o foco na qualidade de atendimento viraram a marca da empresa. “Apesar de ser uma empresa centenária, a drogaria como conhecemos tem pouco mais de cinco anos e, nesse período, abrimos 700 lojas. Apenas neste ano, foram 200 unidades”, afirmou Marcílio Pousada, CEO da RaiaDrogasil.

Mais com menos

Seguir com investimentos em inovação e novos mercados, ainda que em meio à instabilidade econômica da crise, foi o que contribuiu para que a Cielo se mantivesse no posto de melhor do ramo de Serviços por 11 anos seguidos.

“Nosso lema é a inquietude e é isso que nos faz crescer e, consequentemente, servir melhor ao nosso cliente”, afirmou Eduardo Gouveia, presidente da companhia.

João Brega, presidente da Whirpool Latin America, também atribuiu a conquista da empresa no setor de eletroeletrônicos aos investimentos em inovação.

“Temos pilares em que investimos, independentemente da crise – por exemplo, liderança de marca e liderança de produto”, enumera Brega.

Aumentar a produtividade, tanto de forma prática, como fez a Klabin com a fábrica Puma, no Paraná, quanto com o reconhecimento das pessoas, como a Dataprev, foi mais que preciso.

“Sem dúvida, devemos a premiação à capacidade de nossos funcionários, que buscam e excelência”, afirmou André Magalhães, presidente da empresa de sistema de dados.

A compreensão do negócio como uma alternativa de solução para um determinado setor – e toda a economia do país – também fez diferença para o aumento de produtividade nos negócios focados em serviços.

“Precisamos de gente que acredite no país e que trabalhe mais e melhor. Ainda temos muito a fazer no Brasil, um país em que muitos vivem sem nem sequer saneamento básico”, disse Jerson Kelman, presidente da Sabesp, vencedora de setor de Infraestrutura.

“Somos uma empresa madura, que inova diante de um sistema de saúde tão precário”, disse Fernando Parrillo, CEO da Prevent Senior.

Resiliência

Se adaptar bem e rapidamente às mudanças regulatórias e à recessão do mercado, para Reynaldo Passanezi, CEO da empresa de energia elétrica Cteep, foi o diferencial da empresa.

“Com a mudança, perdemos 70% da receita. Fizemos uma estratégia gradual de ajuste, que fez com que pudéssemos nos recuperar e olhar para o futuro”, afirma Passanezi.

As medidas adotadas focaram a eficiência operacional e a redução do endividamento da empresa, para preservar o caixa e recuperar a sustentabilidade do negócio.

Agora, para o CEO, é o momento de a Cteep investir em um novo leilão de energia, da ordem de 5 milhões de reais. “É um setor em que o Brasil necessita fazer investimento”, diz ele.

A Riograndense foi uma empresa que se destacou pela resiliência, enquanto concorrentes enfrentavam dificuldades. Enquanto os baixos preços mundiais do petróleo impactaram negativamente outras companhias, a refinaria de petróleo nunca vendeu tanto quanto em 2016.

Segundo Hamilton Romanato Ribeiro, diretor superintendente da empresa de química e petroquímica, “as variáveis macroeconômicas se alinharam e nossa equipe foi rápida para aproveitar as oportunidades”.

Ribeiro acredita que a crise do setor pode ter sido positiva. “O mercado de petróleo brasileiro precisou se alinhar aos padrões internacionais de competitividade. Acredito que isso melhore nossa competitividade e vamos continuar seguindo essa lógica do mercado”, disse ele.

Mercado internacional

Para o presidente do grupo Weg, Harry Schmelzer, o avanço dos produtos no mercado internacional ajudou a companhia a superar a crise. Na companhia vencedora na categoria Bens de Capital, 57% do negócios são feitos fora do Brasil.

“Intensificamos os investimentos internacionais e aumentamos nossa força de venda nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda temos muitas oportunidades de crescimento no Brasil. Precisamos criar condições para exportar mais”, disse Schmelzer.

Alguns setores, inclusive, foram beneficiados pela crise, como o segmento de petróleo. “Conseguimos ampliar nosso volume de negócios e explorar novas oportunidades”, disse o diretor presidente da PB-Log, Ilton Rossetto Filho.

Para a Vale, 2016 foi o ano da virada, segundo o presidente da companhia, Fabio Schvartsman. “Foi o ano em que novos trabalhos começaram e funcionaram, beneficiados pelo preço do minério de ferro. A Vale não é dependente do cenário interno, pois a economia global passa por um momento maravilhoso. Todas as grandes economias do mundo crescem ao mesmo tempo”, afirmou.

Benjamin M. Baptista Filho, presidente da ArcelorMittal Brasil, conta que fez diferença a companhia ter investido em equipamentos sofisticados e plantas espalhadas pelo país, em pontos estratégicos e competitivos.

“Estamos nos voltando ao mercado internacional. Hoje, mais de 50% de nossa operação é voltada à exportação. O que não conseguimos vender no mercado externo estamos mandando para fora. O mercado externo é muito grande, com muita escala”, afirma Baptista Filho.

Bem e sempre

O desafio, no entanto, é seguir competitivo – em um mercado onde a incerteza virou a única certeza a curto prazo.

Para seguir em frente, a construtora MRV manteve o foco no que sempre fez bem, ao contrário de muitas de suas concorrentes: vender para baixa renda.

As vendas para esse público foram um dos motivos para a empresa garantir lucro de 112 milhões de dólares em 2016, 40% a mais que no ano anterior.

“Vamos continuar olhando para esse segmento da população. Ao olhar para o Brasil, a maior parte da população é de classe média e média baixa. Então, há muito espaço”, afirmou Rubens Menin, presidente do conselho da MRV. “É um mercado muito grande e que pode se sustentar por muitos anos."

A companhia aproveitou que os clientes buscavam produtos de menor custo e viu suas vendas crescerem no Centro-Oeste, São Paulo e na região Sul.

A Rodoil, distribuidora de combustíveis, concentrou-se em atender pequenas cidades do interior, onde a concorrência é menor – escopo que ela pretende continuar a atender.

“Somos uma empresa jovem, com agilidade. Não estamos presos às amarras do mercado”, afirmou Roberto Tonietto, presidente da companhia.

O mercado automotivo sofreu com a crise econômica. Apesar disso, a Fras-le diversificou sua atuação para não ficar refém das dificuldades do setor, além de ampliar o tipo de cliente a que atende – dentro e fora do país. Mais do que apenas montadoras, entre seus clientes também estão companhias de reparos e de reposição de peças.

Para ela, a retomada da economia já começou. “Já exportamos há mais de 20 anos. Sabemos como fazer e como lidar com o câmbio instável”, disse Sérgio Carvalho, presidente da Fras-le.

Para Hamilton Romanato Ribeiro, diretor superintendente da Riograndense, há projeções que indicam uma leve melhora no setor de petróleo. No entanto, há um risco político que pode comprometer essa recuperação. “O setor pode ser ameaçado por ingerências políticas e decisões equivocadas em relação a preços e tributos”, afirmou ele.

A Beira Rio já vê a melhora na economia. Segundo Roberto Argenta, presidente da empresa de calçados, “temos anos excelentes pela frente. Vai dar certo e já vemos a realidade melhorando”, declarou.

Expectativa de reformas

Ainda que todos os esforços sejam voltados para a reestruturação e adaptação dos negócios ao cenário mais turbulento, nada garantirá melhor a estabilidade dos setores que a aprovação de parte das reformas propostas pelo governo.

“Com ingredientes como reforma política e tributária, poderemos esperar uma melhora para o ano de 2019”, prevê Brega, da Whirpool Latin America.

Para o diretor de relações institucionais da Bela Vista, Cesar Helou, o Brasil deve retomar o crescimento da economia em 2018. “As expectativas para o Brasil não são ruins. Soubemos aproveitar a crise para crescer”, disse.

A expectativa é a mesma de quase todos os premiados da noite. “Estamos ansiosos pela retomada”, disse o presidente do grupo Weg, Harry Schmelzer.

Colaboraram: Júlia Lewgoy, Karin Salomão e Mariana Fonseca.

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