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Os bastidores da relação dos donos da JBS com o poder

Embora a história dos empresários ainda esteja em curso, Joesley já conseguiu parte do que queria, com lucro da JBS

Joesley e Wesley Batista: para a Paper Excellence, os controladores da J&F querem mais dinheiro pela venda da Eldorado Celulose | Claudio Belli/Valor/Agência O Globo /  (Claudio Belli/Agência O Globo)

Joesley e Wesley Batista: para a Paper Excellence, os controladores da J&F querem mais dinheiro pela venda da Eldorado Celulose | Claudio Belli/Valor/Agência O Globo / (Claudio Belli/Agência O Globo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de maio de 2019 às 09h31.

São Paulo - Uma passagem no início de "Why Not", livro da jornalista Raquel Landim sobre a trajetória da JBS, empresa no centro de um intricado esquema de pagamento de propinas a políticos para garantir o apoio oficial a seus projetos de expansão, define a personalidade do personagem principal, Joesley Batista, ao descrever um episódio de infância. Dona Flora, matriarca da família, desesperou-se porque o filho desaparecera de casa. O pequeno Joesley acabou sendo encontrado dentro de um buraco. Quando questionado sobre o que fazia, disse: "Procurando petróleo".

Trechos como esse são fruto de uma pesquisa detalhada, que começou há dois anos, no dia em que a cartada mais arriscada de Joesley foi revelada: em 17 de maio de 2017, foi divulgada a gravação que o todo-poderoso do grupo J&F - à época, dono não só da JBS, mas também da Alpargatas (dona da Havaianas) e da Eldorado Celulose, entre outros negócios - havia feito de uma conversa no Palácio do Jaburu, em visita que o então presidente Michel Temer manteve fora da agenda oficial.

A essa altura, Joesley, que ao lado do irmão Wesley, havia transformado a JBS na líder global em proteína animal, sentia-se encurralado. Pressionado pelo Ministério Público Federal, viu que sua única opção era a delação premiada. Ao concordar em contar tudo à Justiça, mas exigir imunidade total em troca, voltou a apostar alto. Seus dois objetivos eram: evitar a prisão e, ao mesmo tempo, salvar os negócios da bancarrota.

A decisão dos irmãos Batista de colaborar com o MPF, disse Raquel ao Estado, partiu da observação de empreiteiros que, àquela altura, já haviam sido enredados nas investigações da Operação Lava Jato. "Eles viram o que aconteceu com Marcelo Odebrecht, que demorou a colaborar, e resolveram se antecipar", explicou a jornalista. Para evitar o mesmo destino, Joesley estava mais uma vez disposto a apostar quase tudo: valia até gravar o presidente.

A ousadia dos irmãos - tanto na disposição em comprar empresas e fazê-las crescer quanto em agradar a políticos para atingir seus objetivos - é mostrada em detalhes em Why Not. A edição facilita a vida do leitor: contém um glossário dos partidos políticos mencionados e uma linha do tempo que detalha desde as origens humildes do negócio até as sucessivas compras bilionárias que o grupo fez depois de 2010, com ajuda de bancos públicos, como BNDES e Caixa, e de fundos de pensão.

A trajetória dos irmãos Batista ainda tem final aberto - eles ficaram meses na cadeia, mas hoje respondem processo em liberdade -, por isso, a narrativa de Why Not termina em 2017, quando os dois líderes do império da carne foram presos em questão de dias. Como muita coisa aconteceu desde então, de vendas de negócios bilionários a eventos da vida pessoal de Wesley e Joesley, o livro traz ainda um epílogo que resume eventos posteriores - atualizado até o dia da obra ir à gráfica.

Embora a história dos empresários ainda esteja em curso, Raquel disse que Joesley já conseguiu parte do que queria. Ao contrário da Odebrecht, que passa por dificuldades, a JBS vai bem - seu lucro foi de mais de R$ 1 bilhão no primeiro trimestre de 2019. Quanto à outra meta - se livrar de um período mais longo atrás das grades -, resta esperar por um capítulo ainda a ser escrito: "Isso só a Justiça vai dizer."As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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