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Os 56 lugares que mudaram a trajetória da Azul

A compra de aeronaves maiores, e mais econômicas, levou a companhia à maior margem de sua história. Mas a concorrência também vive bom momento

Aeronaves da Azul (Foto/Divulgação)

Aeronaves da Azul (Foto/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 9 de novembro de 2017 às 17h32.

Última atualização em 9 de novembro de 2017 às 18h08.

Quanta diferença 56 lugares podem fazer. É o que mostrou o resultado trimestral da Azul, a terceira maior empresa aérea do país, nesta quinta-feira. A companhia, criada há nove anos pelo americano-brasileiro David Neeleman, apresentou uma margem operacional recorde de 12,5% e uma ocupação também recorde, de 83%, no terceiro trimestre. O lucro cresceu 20 vezes em relação ao mesmo período de 2017, para 204 milhões de reais. No acumulado dos nove primeiros meses, a Azul teve lucro de 225 milhões de reais, ante prejuízo de 178 milhões de reais em 2016. As ações subiram 1% até as 17h desta quinta-feira.

Os 56 lugares em questão referem-se à diferença de capacidade das aeronaves E195, da Embraer, que têm 118 assentos, para os 174 lugares das A320Neo, da Airbus, que concentram boa parte dos novos investimentos da Azul. O 320Neo é um modelo lançado há sete anos pela fabricante francesa e tem a vantagem de um custo operacional por passageiro 29% menor na comparação com os E195. Outra fonte de investimento da Azul é um novo modelo da Embraer, o E2, que tem 132 assentos e também é mais econômico o E195: gasta 24% a menos por passageiro. “Num setor com margens tão apertadas e tão dependente do consumo de combustível, ter aviões mais eficientes é fundamental”, diz um analista do setor.

Para evitar que a modernização da frota aumente o endividamento e reduza o caixa, o plano é ir comprando os A320Neo na medida em que os E195 forem sendo vendidos. Outra notícia positiva divulgada nesta quinta-feira foi a redução do endividamento em mais de 600 milhões de reais. Agora, a Azul tem dívidas que equivalem a 3,9 vezes a geração de caixa, um dos menores índices da América Latina. “Estamos fazendo uma troca inédita no setor, aumentando em 56 assentos as aeronaves nas mesmas rotas”, disse David Neeleman na conferência de divulgação dos resultados.

A Azul já pediu 30 aeronaves E2 e receberá 21 A320Neo até 2018. Com isso, os dois modelos, que hoje representam 14% dos passageiros transportados, devem chegar a 20% em 2018 e 47% até 2020.

Os aviões maiores devem ser usados principalmente entre os aeroportos que a empresa chama de hubs, como os de Campinas, Belo Horizonte, Recife e Cuibá. De lá, o trajeto até as cidades do interior deve continuar a ser feito com aeronaves menores, como os ATRs. A Azul atende 97 cidades do Brasil, o que é considerada uma vantagem competitiva por analistas, já que em 60% das rotas não há nenhum concorrente. A empresa aproveitou a crise para ganhar terreno, chegando a 30 novas cidades nos últimos 12 meses. A ideia é continuar expandindo a malha, para cidades ainda não atendidas por empresas aéreas e em rotas ainda pouco exploradas, inclusive para destinos no exterior, como voos partindo do Nordeste para os Estados Unidos. Hoje 20% da receita da Azul vem de voos internacionais.

Com a chegada de aeronaves maiores, a empresa projeta para 2017 um crescimento de passageiros similar ao deste ano. A receita líquida expandiu 15,0% no terceiro trimestre de 2017, para R$ 1,998 bilhão, devido principalmente ao aumento de 14,8% na receita de transporte de passageiros e ao crescimento de 16,7% em outras receitas, como transporte de cargas e pacotes de viagens. Um aumento de 8% no preço das passagens também ajudou. O que para os passageiros é uma má notícia, para a Azul é mais um sinal de que há oportunidade de colocar aviões maiores no mercado.

Um novo momento

A mudança no tamanho das aeronaves, de certa forma, marca um novo capítulo para a Azul. A companhia chegou ao Brasil há noves anos tentando replicar no país o modelo de sucesso da JetBlue, a empresa de Neeleman nos Estados Unidos. A ideia era unir cidades do interior desatendidas pela concorrência com aviões menores e mais eficientes. De lá pra cá, a empresa sofreu um bocado com as dores do crescimento e precisou adiar por quase cinco anos sua ida a bolsa.

Mas a abertura de capital finalmente aconteceu, em abril deste ano. Em setembro, a empresa fez uma oferta adicional e captou mais 400 milhões de dólares. Também aproveitou a ida à bolsa para trocar seu presidente executivo, o americano John Rodgerson assumiu o cargo, e lançar o agressivo plano de renovação da frota.

Apesar dos bons números do trimestre e da reação positiva de investidores ao amadurecimento da companhia, a Azul ainda está aquém da concorrência na bolsa. Com um crescimento acumulado de quase 20% neste ano, as ações da Azul avançaram menos do que as da Latam, com 36%, e as da Gol, com 71%.

Nesta quarta-feira a Gol divulgou seus resultados trimestrais e voltou a agradar os acionistas com um lucro de 327 milhões de reais, ante perdas de 900.000 no mesmo período do ano passado. O faturamento avançou 13%, para 2,7 bilhões de reais. A companhia planeja voltar a aumentar a oferta de assentos em 2018, o que não faz desde 2014. A Latam divulga seus resultados trimestrais, mas também se prepara para novos investimentos em 2018.

Um perigo, para a Azul, é que as duas concorrentes, muito maiores, acirrem a disputa por preços e reduzam o lucro duramente conquistado. Outro risco é uma expansão da malha das concorrentes para cidades hoje atendidas unicamente pela Azul. Fora isso, um cenário de imprevisibilidade política e econômica pode fazer o dólar disparar em 2018, jogando pela janela qualquer tentativa de aumentar a rentabilidade.

O plano da Azul é manter a margem na casa em 9 a 11%, ante 10% no acumulado dos primeiros nove meses de 2017. Para isso, precisa se organizar para uma competência mais acirrada, e rezar para que o Brasil e o mundo colaborem.

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