Fabiana Castelari Leme, fundadora da Chácara Castelari: “Nenhuma empresa é apenas resultado de uma pessoa. Eu tive a ideia, por exemplo, mas se minha família não abraçasse a iniciativa também, nada disso seria possível”.
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 16h16.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2025 às 17h03.
A agenda ESG e a preocupação com a preservação ambiental têm mudado os hábitos de muitas pessoas, que passaram a buscar experiências diferentes na hora de escolher um destino para passar férias ou apenas para ter um dia mais perto da natureza.
Segundo dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV Nacional), o turismo rural apresentou alto crescimento desde o período pós-pandemia e é uma das principais tendências do setor em 2025. Já uma pesquisa feita pelo Ministério do Turismo mostra que 74% dos turistas preferem o interior do país para esse tipo de viagem.
Nesse cenário, pequenos produtos ganham espaço. É o caso de Fabiana Castelari Leme, que está à frente da Chácara Castelari, em Marialva, cidade de 41 mil habitantes no norte central paranaense do Brasil e conhecida como a capital da uva fina no Paraná.
Com uma produção de 6 a 8 mil quilos da fruta por ano, em 2023, ela inovou e criou o “Open de Uva”, uma experiência na qual as pessoas podem colher e consumir as uvas diretamente das parreiras e, ainda, acompanhar todo o processo de produção.
De lá para cá, a propriedade já recebeu em torno de 3,5 mil visitantes, principalmente das regiões próximas, mas também de outros locais do Brasil e de países como Espanha, Portugal, Uruguai e Austrália. O espaço também recebe grupos de escolas e de idosos.
Como reflexo de seu trabalho, este ano, a empreendedora foi a primeira colocada no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios (PSMN), na categoria Produtora Rural. À Exame, ela conta os caminhos que percorreu para transformar o negócio familiar.
Filha de agricultores, Fabiana nasceu e foi criada na roça e desde pequena auxilia os pais no trabalho. “Lembro de ir à escola pela manhã e ao voltar, com cerca de 8 anos, ajudar minha mãe a limpar os troncos de café. Mas foi aos 12, que comecei na uva”, conta. A paixão pela região fez com que ela continuasse no ofício.
Com o tempo, aprendeu tudo sobre a produção da fruta, como preparação do terreno, floração e colheita, e passou a se dedicar ao negócio da família. Até que em 2011, se afastou para realizar o sonho da maternidade.
Foi um período difícil, em que tentou engravidar algumas vezes por meio de inseminação artificial e fertilização in vitro. “Nenhuma tentativa deu certo e descobri que precisava operar de endometriose”. Mas tudo deu certo. Ela teve o primeiro filho em 2012 e, dois anos depois, o segundo.
Após passar um período com as crianças, em 2015, decidiu voltar ao trabalho. Como seu pai já estava se afastando da gestão da chácara, Fabiana assumiu o comando. “Amo estar na roça e trabalhar, e já não conseguia ficar apenas em casa”, afirma.
No entanto, sabia que precisava fazer algo diferente para a empresa crescer e não depender mais do atravessador, responsável pela intermediação entre o produtor e o comerciante varejista, para as vendas. Até porque, além do valor pago ser muito baixo, a família já havia se prejudicado bastante nesse modelo.
“Lembro de um atravessador que comprou toda a produção e não pagou. Foi uma fase extremamente complicada e quase pensamos em desistir, mas a chácara é nosso sonho e buscamos alternativas. Por mais difícil que pareça uma situação, quando realmente gostamos do que fazemos, é possível encontrar uma solução”, diz.
A família negociou com parceiros, e Fabiana e a irmã fizeram diárias para produtores da redondeza. “Saíamos às 6h da manhã para trabalhar nas outras propriedades e, do final da tarde até escurecer, nos dedicávamos ao nosso negócio”.
Sempre determinada e disposta a aprender, buscou capacitações no Sebrae – foram mais de 60 cursos e 13 mentorias em temas como qualidade no atendimento, desenvolvimento interpessoal, gestão financeira, empoderamento feminino, comunicação empresarial e liderança. “Os cursos transformaram minha maneira de pensar e agir, e foram fundamentais para estruturar o negócio e ter sucesso”.
A estratégia inicial foi anunciar as uvas nos grupos de desapego da cidade. “As pessoas vendiam de tudo, menos uva. E tínhamos uma variedade da fruta sem semente, que era bem rara na época”. Assim, a empresa passou a vender diretamente para o consumidor. Porém, no meio do caminho veio a pandemia e a produtora rural precisou voltar a vender para os atravessadores – mas apenas por um período.
“Após a fase mais crítica da covid-19 e com a vacinação, voltamos com a venda direta e muitos consumidores falavam do desejo de conhecer a produção e ver de perto a parreira, que é o pé da uva”, lembra.
Foi assim que surgiu a ideia do “Open de Uva”. “Hoje falo que, além do turismo rural, realizamos o turismo do bem-estar. Muitas pessoas chegam aqui cansadas e desanimadas, e saem renovadas. Percebo os olhares completamente diferentes e isso mostra que estamos no caminho certo”, ressalta.
Sobre os pilares que sustentam o sucesso da empresa, Fabiana destaca três. O primeiro é o cuidado com o atendimento. “É fundamental criar uma conexão com os clientes para oferecer uma experiência realmente diferente e inesquecível”.
Segundo ela, isso envolve empatia, acolhimento e disposição para entender as demandas e necessidades de cada um. Já o segundo é ter um propósito muito claro, ou seja, atuar no que realmente gosta. “Eu costumo dizer que tudo o que faço está baseado no amor”.
Tão importante quanto esses dois pontos, é o time. “Nenhuma empresa é apenas resultado de uma pessoa. Eu tive a ideia, por exemplo, mas se minha família não abraçasse a iniciativa também, nada disso seria possível”.