Porcos em fazenda (Paulo Whitaker/Reuters/Reuters)
Karin Salomão
Publicado em 17 de julho de 2018 às 09h49.
Última atualização em 17 de julho de 2018 às 19h20.
São Paulo – Animais machucados, leitões gritando e porcas em celas tão apertadas em que sequer conseguem se mover. Essas cenas fazem parte de um vídeo gravado por investigadores da ONG Mercy For Animals (misericórdia para os animais, em inglês) dentro de um criadouro de porcos da Tosh Animals, em Tennessee, nos Estados Unidos.
A Tosh Animals é a maior produtora de carne suína do Tennessee - possui 30 mil porcas matrizes e produzem ao ano 725 mil porcos. Um dos clientes da Tosh Animals é a fabricante brasileira de alimentos JBS, de acordo com o site da companhia e de dados obtidos pela ONG. A JBS é a maior empresa de carnes do mundo e uma das maiores processadoras de carne dos Estados Unidos.
Em uma gravação, o caminhão que sai da Tosh Animals se dirige a um abatedouro da JBS Swift, em Louisville, Kentucky, onde a carne será processada. É um dos três abatedouros de carne suína que a JBS tem no país. Veja a investigação completa aqui.
A ONG afirma que os vídeos foram feitos entre janeiro e março deste ano, mas não dá detalhes sobre como os vídeos foram obtidos para preservar a segurança de seus integrantes. A organização existe desde 1999 e foi criada na Califórnia, nos Estados Unidos. No Brasil desde 2015, ela denunciou práticas abusivas na criação de animais em países como Canadá, México e Brasil.
Entre as práticas vistas no vídeo, estão o confinamento gestacional de porcas em gaiolas muito pequenas, em que elas não podem se virar ou movimentar. Apenas as fêmeas são mantidas dessa forma, já que os machos são criados para abate após apenas alguns meses.
Essa forma de criação ainda é permitida no estado do Tennessee, onde fica a fábrica da Tosh Farms, mas 12 estados já adotaram legislações para acabar com a prática.
No Brasil, a JBS assinou em 2015 um termo para eliminar o confinamento até 2025.
Funcionários também são vistos e chutando a batendo na cabeça dos animais, removendo os dentes e castrando leitões sem nenhum tipo de anestesia. Animais doentes e com feridas também são vistos. Em um caso, um funcionário pisa em um leitão para matá-lo.
"São violências absolutamente desnecessárias", diz Lucas Alvarenga, vice-presidente da Mercy For Animals no Brasil.
Não há uma legislação que abranja todo o território dos Estados Unidos que condene essas práticas. "Mas, quando nós expomos essas práticas, levamos a sociedade e outras ONGs a pressionarem por mudanças legislativas e pelo comprometimento das empresas", afirma ele.
Mesmo assim, essas práticas são condenadas pela política global de bem-estar animal da JBS. "Na criação de suínos, a densidade em granja respeita um limite máximo, conforme as melhores práticas de mercado, de forma que os animais tenham espaço para se movimentar livremente e expressar seu comportamento natural", escreve a empresa em seu site.
"O corte de dentes não é uma prática empregada em granjas produtoras de leitões da Seara. Adaptações no manejo permitiram o abandono dessa prática."
Sobre a castração dos leitões, o corte cirúrgico "não está no fluxo dos processos de produção de leitões da JBS. Atualmente, a empresa opta pela prática de castração imunológica, promovendo maior conforto e menor estresse aos leitões."
Apenas o corte da cauda do animal é uma prática que a empresa mantém. Segundo ela, o objetivo é evitar problemas nos suínos adultos, "uma vez que a manutenção do rabo intacto pode facilitar a prática de canibalismo entre os animais".
De acordo com Alvarenga, a ONG já levou a denúncia a órgãos responsáveis e à JBS nos Estados Unidos, que teria se comprometido a responsabilizar os indivíduos que aparecem no vídeo.
A JBS afirmou que, depois de tomar conhecimento do vídeo, cancelou o contrato com esse fornecedor.
Em nota, a empresa escreveu que "não compactua ou admite abusos envolvendo animais sob nenhuma hipótese. A Companhia adota as melhores práticas em bem-estar animal e exige que todos os seus fornecedores cumpram os altos padrões de cuidado e segurança para que os animais recebam tratamento digno e humanizado em toda a cadeia seguindo as melhores práticas em todo o mundo. As imagens apresentadas no vídeo estão em total desacordo com os padrões e exigências da Companhia que, tão logo tomou conhecimento desse material, suspendeu o contrato com essa planta e iniciou uma investigação para apurar responsabilidades e, assim, tomar as medidas cabíveis".
Veja o vídeo completo abaixo. Cuidado, as imagens são fortes.