Agricultura: defensivos biológicos ainda representam só 2% do mercado total (Alexis Prappas/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de novembro de 2020 às 15h47.
O aumento na demanda por produtos mais sustentáveis e alternativos aos químicos na agricultura impulsiona o mercado de defensivos biológicos, não apenas no Brasil, mas no mundo. A tecnologia é recente e se baseia no controle de pragas por meio de organismos vivos que são seus inimigos naturais, o que reduz o risco de poluição do meio ambiente e a exposição a produtos tóxicos, tanto das lavouras, quanto dos trabalhadores. O principal embalo do mercado ocorre com a entrada de grandes indústrias no segmento, como a Syngenta, o que possibilita aumentar a escala de produção e ampliar o acesso a esses produtos.
A parcela que os biológicos representam no mercado total e global de defensivos ainda é muito incipiente — cerca de 2% de um total de US$ 11 bilhões —, mas segundo a diretora de biológicos da CropLife Brasil, Amália Borsari, o que chama a atenção não é a fotografia do momento, mas a perspectiva de crescimento, que é muito rápida. No País, uma pesquisa feita pela consultoria Spark Inteligência Estratégica e divulgada em outubro mostrou que o mercado movimentou quase R$ 1 bilhão na safra 2019/20, 46% a mais que na temporada anterior. Nesse sentido, a área potencialmente tratada com os biológicos aumentou 23%, para 19,4 milhões de hectares.
Segundo Amália, mais da metade dos produtos disponíveis no segmento foi lançada nos últimos dois anos. Foi nesse período também que houve um aumento na capacidade produtiva das empresas o que, dentre outros fatores, favorece uma projeção de crescimento de 20% a 30% no mercado de biológicos ao fim de 2020 quando comparado a 2019, conforme a CropLife, que agrega uma série de entidades do setor, inclusive a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio). "Esse mercado não está consolidado no Brasil, estamos em uma curva de crescimento acelerada, diante de uma série de oportunidades. Por isso, o potencial é enorme", disse ela.
Apesar da perspectiva positiva, como a tecnologia é recente, o mercado encontra desafios em questões regulatórias e na tecnificação dos produtores rurais. De acordo com a especialista o setor está avançando e conseguindo criar um ambiente "menos engessado" para aprovação de novas tecnologias, em diálogo com o Ministério da Agricultura, a Anvisa e o Ibama. "Normalmente, as políticas públicas não acompanham, no mesmo compasso, o desenvolvimento tecnológico, mas temos sempre de buscar esse ambiente propício para a inovação, trazendo segurança e qualidade para o produtor", disse.
Apenas em 2020, o Ministério da Agricultura aprovou 76 registros de produtos considerados de baixo risco, dentre biológicos, microbiológicos, semiquímicos, bioquímicos, extratos vegetais e reguladores de crescimento ou de agricultura orgânica. Isso representa um aumento de 76,74% ante o número de 2019, quando 43 registros foram aprovados, segundo dados fornecidos pela pasta.
Além disso, o governo federal segue elaborando normativas que facilitam os registros de defensivos biológicos. Na quarta-feira por exemplo, quatro novas especificações de referência (ER) foram publicadas, guiando e ampliando as opções para solicitações de registros dos produtos.
Outro ponto que Amália chama atenção é o desconhecimento da tecnologia por grande parte dos produtores rurais, o que ela considera um desafio para a indústria, que precisa direcionar os seus investimentos para capacitação técnica. "Se a indústria estiver mais perto do produtor, auxiliando no manejo dos biológicos de forma integrada aos produtos agroquímicos, vai resultar em um crescimento acelerado do mercado", acrescentou. A integração das tecnologias é, de fato, uma pauta das grandes indústrias, que vêm investindo no nicho e ampliando a oferta de produtos, caso da Basf, Bayer CropScience, Corteva Agriscience e da Syngenta, que concretizou o interesse no mercado com a aquisição da italiana Valagro em outubro.
O líder de Biológicos para a América Latina da Syngenta, Thomas Altamann, comentou que nos últimos anos o mercado vem notando a necessidade de oferecer soluções que possam contribuir com o melhor manejo de resistência, além da melhoria da qualidade do solo das culturas tratadas. Nesse sentido, "os biológicos têm um encaixe muito adequado dentro do que o mercado e a sociedade demandam".
Em relação à taxa de utilização, ele disse que os agricultores brasileiros têm uma forte característica inovadora e empreendedora e, por isso, estão avançando de forma rápida na curva de aprendizado. "É um nicho que cresce no mundo todo, com a taxa de utilização aumentando em uma faixa muito superior à que cresce a dos produtos convencionais", disse ele, acrescentando que no mundo a alta anual se aproxima dos 10%, enquanto no Brasil o avanço tem ficado entre 13% e 14% no ano.
Embora o segmento de hortaliças e frutas tenha, inicialmente, mostrado maior afinidade com o uso de defensivos biológicos, nos últimos anos, os produtos já chegaram às lavouras maiores, como de soja, milho, café, algodão e cana-de-açúcar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.