Neve no Texas, nos Estados Unidos: mais de 4 milhões de barris diários - quase 40% da produção de petróleo dos Estados Unidos - deixaram de ser produzidos (SCOTT OLSON/GETTY IMAGES/AFP)
Leo Branco
Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 09h10.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2021 às 14h03.
O que começou como um problema de energia em alguns estados americanos agora atinge o mercado mundial de petróleo.
Mais de 4 milhões de barris diários - quase 40% da produção de petróleo dos Estados Unidos - deixaram de ser produzidos, segundo operadores e executivos. A produção em um dos maiores centros de refino de petróleo do mundo registra forte queda. As hidrovias que ajudam a transportar petróleo dos EUA para o resto do mundo ficaram bloqueadas durante grande parte da semana.
“O mercado está subestimando a quantidade de produção de petróleo perdida no Texas devido ao mau tempo”, disse Ben Luckock, codiretor de negociação de petróleo da gigante de commodities Trafigura.
O petróleo Brent chegou a ultrapassar US$ 65 o barril na quinta-feira, o maior nível desde janeiro passado. Spreads que indicam aperto de oferta também dispararam. Há dez meses, o preço havia caído abaixo de US$ 16 por causa do choque de demanda causado pela Covid-19.
No passado, o impacto do clima seria em grande parte limitado aos Estados Unidos. Agora, sem dúvida é um problema global. Os mercados de petróleo na Europa se recuperam enquanto tradings substituem as exportações perdidas dos EUA. E a Opep e aliados precisam decidir por quanto tempo manterão milhões de barris da produção do grupo fora do mercado.
Estimativas sobre a duração dos problemas se tornaram progressivamente mais longas nos últimos dias, à medida que analistas tentam descobrir o tempo necessário para descongelar a infraestrutura, especialmente em áreas onde temperaturas muito baixas não são comuns.
No início, tradings e consultores esperavam que o impacto na produção dos EUA duraria entre dois e três dias. Agora, parece improvável que a produção se recupere muito antes do fim de semana, e a retomada completa pode levar semanas.
Isso significa que cada vez mais barris estão sendo retirados do mercado global. O Citigroup espera queda da produção de 16 milhões de barris até o início de março, mas estimativas de algumas tradings apontam para quase o dobro. Amplas áreas de produção na Bacia Permiana - o centro da produção de gás de xisto dos Estados Unidos - foram fechadas.
O resultado foi o aumento do valor dos barris de petróleo bruto em outras partes do mundo. Tradings do Mar do Norte correm para fazer ofertas pelos carregamentos da região nesta semana para substituir as exportações de petróleo dos EUA. Como os suprimentos da Europa ficaram mais caros, clientes asiáticos têm comprado remessas do Oriente Médio com prêmios mais elevados.
E, embora os futuros do petróleo estejam no maior nível em mais de um ano, ainda podem subir mais porque a perda de capacidade de refino é igualmente alta. A maior refinaria do país foi fechada, e pelo menos 3 milhões de barris por dia deixaram de ser processados. Tradings se apressam para enviar milhões de barris de diesel do outro lado do Atlântico para os EUA, um potencial ganho para a abalada indústria de refino da Europa.