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Odebrecht suspende novos investimentos por aperto no crédito

A preocupação quanto à capacidade de obter financiamento de longo prazo tem feito a maior construtora da América Latina suspender novos investimentos


	Odebrecht: aperto fiscal e relutância do BNDES em liberar empréstimos para fornecedores da Petrobras levaram a Odebrecht a colocar novos investimentos em espera
 (Divulgação/Odebrecht)

Odebrecht: aperto fiscal e relutância do BNDES em liberar empréstimos para fornecedores da Petrobras levaram a Odebrecht a colocar novos investimentos em espera (Divulgação/Odebrecht)

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Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2015 às 22h28.

A preocupação quanto à capacidade de obter financiamento de longo prazo tem feito a Odebrecht SA, maior construtora da América Latina, suspender novos investimentos.

O aperto fiscal iminente e a relutância do BNDES em liberar empréstimos para fornecedores da Petrobras levaram a Odebrecht a colocar novos investimentos em espera, disse o presidente da construtora, Marcelo Odebrecht, em entrevista. A suspensão não inclui os projetos do grupo que estão em curso.

Com o aumento das taxas de juros no Brasil para frear a inflação, a economia caminha para seu pior ano desde 1992, pelo menos, e um amplo escândalo de corrupção tem provocado manifestações.

Para empresas do setor como a Odebrecht, que deram impulso à expansão da construção provocada pela Copa do Mundo, as opções de financiamento estão se estreitando.

“Estamos evitando novos compromissos até que tenhamos uma visão clara de como o mercado de crédito vai se comportar”, disse Odebrecht, 46, no escritório da empresa, ontem, em São Paulo. “O grande risco para o crescimento do Brasil nos próximos dois anos é a questão da perspectiva de crédito”.

O grupo controlado pela família bilionária Odebrecht é o maior conglomerado de construção e engenharia do Brasil em receita e tem operações em 21 países. A Construtora Norberto Odebrecht, uma unidade do grupo, foi citada em depoimentos da investigação da Operação Lava Jato, que tem a Petrobras como foco.

A companhia com sede em Salvador foi citada em depoimentos como participante do cartel que operava para conseguir contratos com a Petrobras e por suposto suborno de funcionários da petroleira controlada pelo Estado. A Odebrecht nega participação em qualquer cartel ou pagamento de propina. A Justiça não aceitou nenhuma acusação contra a construtora ou seus executivos em investigações de irregularidades na Petrobras.

Grandes construtoras

A investigação de subornos na Petrobras provocou reflexos nos setores de construção e energia do país. Três grandes construtoras -- OAS SA, Galvão Engenharia e Grupo Schahin -- entraram com pedidos de recuperação judicial para algumas de suas unidades quando as acusações cortaram seu acesso ao financiamento de títulos.

O BNDES ainda não liberou um empréstimo de R$ 10 bilhões aprovado há 15 meses para a Sete Brasil, fornecedora de plataformas de petróleo da Petrobras que também foi citada na Lava Jato.

O diretor do banco disse a parlamentares, no dia 16 de abril, que está esperando a Sete Brasil realizar sua reestruturação para liberar o financiamento. A Sete Brasil disse, em resposta por e-mail, que auditores externos não encontraram nenhuma irregularidade em seus contratos.

A Moody’s disse, no dia 12 de março, que a investigação da Controladoria-Geral da União sobre 10 empresas, incluindo a Construtora Norberto Odebrecht, é negativa para a nota de crédito da empresa devido a possíveis penalidades, multas ou limitações sobre futuros leilões públicos. A agência de classificação reduziu a perspectiva da construtora para negativa em janeiro, citando a deterioração do setor por causa do escândalo de corrupção.

Participação na Braskem

A Agência Estado informou, no dia 13 de abril, que a Petrobras pretende vender sua participação de 36 por cento na empresa petroquímica Braskem SA, cujo controle é compartilhado com a Odebrecht.

Marcelo Odebrecht disse que embora a construtora não tenha recebido nenhum comunicado da Petrobras confirmando ou negando a intenção de vender sua parte, a construtora provavelmente terá capacidade de comprar a fatia da Petrobras na Braskem se o preço for justo.

A diretora financeira da Odebrecht, Marcela Drehmer, disse em entrevista que a empresa não tem necessidade de vender ativos para levantar dinheiro, embora esteja estudando a possibilidade de seus sócios minoritários ajudarem a levantar fundos para sua unidade de energia.

A unidade Odebrecht Energia está negociando com quatro fundos de pensão internacionais que estão interessados nas usinas eólica, de biomassa e hidroelétrica da empresa, disse Felipe Jens, diretor de investimento da Odebrecht Energia, que tem sede em São Paulo, em entrevista separada.

Os bonds da Odebrecht se recuperaram de uma queda provocada pela maior investigação de corrupção do Brasil quando a Petrobras divulgou seu balanço após longo atraso, na semana passada.

Os bonds perpétuos da Odebrecht Finance Ltd estão sendo negociados a 94 centavos de dólar, contra uma baixa de 69 centavos registrada no dia 10 de fevereiro.

Custos dos empréstimos

Os contratos da Petrobras representam menos de 1 por cento dos projetos em curso da Odebrecht e as obras públicas somam apenas cerca de 5 por cento dos contratos do braço da empresa no setor da construção, disse Odebrecht.

“Tem muito blá-blá-blá, mas nada de concreto em termos de risco”, disse Odebrecht. “Toda essa questão de risco sistêmico e agências de classificação é, realmente, falta de conhecimento. Estamos tentando conversar com a Moody’s para esclarecer isso”

Os economistas do Brasil estimam que a economia terá uma contração de 1,1 por cento neste ano, segundo uma pesquisa do Banco Central publicada na segunda-feira. A inflação anual acelerou para 8,1 por cento em março, nível mais alto em uma década.

“Será que vai haver dinheiro para financiar infraestrutura no Brasil?”, perguntou Odebrecht. “Em que condições?”.

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