Nossa, a nova cerveja da Ambev, feita de mandioca (Brenda Alcantara/Ambev/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 21 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 21 de setembro de 2018 às 06h00.
São Paulo – A cervejaria Ambev está de olho nos consumidores de menor renda. Dona de marcas como Skol, Brahma e Stella Artois, e de quase 70% do mercado nacional, a companhia não tinha atuação relevante no mercado de cervejas mais baratas. Agora lança a Nossa, uma cerveja feita de mandioca com preços até 40% menores que os da Skol.
A novidade é uma das apostas da companhia para sair do aperto em que vive o mercado de cervejas, espremido pela crise econômica. Mas a jogada está longe de ser previsível. “É inesperado. O mercado de cerveja está estagnado, e todos estão buscando produtos de maior valor agregado, como as puro malte”, afirma o consultor Adalberto Viviani, especializado no setor de alimentação e bebidas.
Por enquanto, a nova marca está disponível apenas em Pernambuco e busca um apelo regional – a embalagem da Nossa tem as cores da bandeira do estado nordestino e a mandioca usada na fabricação vem 100% de pequenos produtores locais. “Queríamos um produto que gerasse impacto social”, afirma Bruna Buás, diretora de marketing da Nossa. Toda a produção da Nossa é feita em Pernambuco, e é isso que permite que a bebida tenha preços tão competitivos, diz Buás. Outro fator que barateia o produto é opção de vendê-lo apenas em embalagens de vidro, com foco nas de 600 ml retornáveis, aponta relatório do Credit Suisse.
A ideia de usar a raiz veio da África, diz o banco. A companhia SABMiller, de origem sul-africana, foi comprada por 100 bilhões de dólares em 2016 pela AB Inbev, controladora da Ambev. E desde 2011 ela tem na África uma cerveja feita de cassava, a mandioca local. Por lá, a medida ajudou a combater bebidas clandestinas, diz o relatório.
Por aqui, pode ter papel importante na disputa de mercado no Nordeste. Na visão do consultor Adalberto Viviani, a jogada reforça a artilharia da Ambev em sua competição com a Heineken, dona da Schin, marca de preço baixo e grande penetração na região.
“Com a Nossa, a Ambev atende a um segmento de baixa renda, com apelo regional, e entra na boca do verão. Isso afeta os concorrentes”, afirma. A vantagem é que, com a nova marca, a fabricante consegue acirrar a concorrência sem comprometer suas marcas já consolidadas com uma redução de preço, analisa Viviani. Segundo o Credit Suisse, a Nossa tem sido vendida a preços até 10% mais baixos que os da Schin, da Heineken.
Viviani acredita que a estratégia pode pressionar a Heineken a mudar preços no Nordeste, inclusive com aumentos em outras cervejas mais premium, como forma de compensar a perda de margem na Schin. Além do preço competitivo, a Ambev aposta no apelo emocional. “Não lançamos produtos pensando nos concorrentes. Os pernambucanos são orgulhosos da cultura local. Nosso objetivo é ser mais um orgulho para esse povo e criar produtos com valor para o consumidor”, afirma a diretora de marketing da marca.
Pode até ser. Mas se conseguir abocanhar uma parte do consumidor fiel à marca popular da Heineken, tanto melhor. A cervejaria holandesa começou uma nova fase de expansão no país em fevereiro de 2017, quando comprou a Brasil Kirin, subsidiária brasileira da cervejaria japonesa Kirin. A compra alçou os holandeses à segunda posição no mercado nacional – ainda que longe, muito longe, da Ambev. A Heineken tem cerca de 19% do mercado nacional, ante 67% da Ambev.
Em relatório divulgado em junho o Bradesco BBI afirmou que até 2023 a Heineken poderia chegar a 25% de participação de mercado se valendo, sobretudo, de uma nova estratégia de distribuição. A empresa encerrou uma parceria com a Coca-Cola e tem investido para passar de 600.000 para 1 milhão de pontos de venda no país até 2021.
A Nossa não é o único lançamento recente da Ambev que tem como alvo a Heineken. No início do mês, a companhia lançou a Skol Hops para competir em outro segmento estratégico: o do puro malte.