Negócios

O Snapchat morreu nesta quarta-feira?

Um novo investimento chinês pode trazer esperança de uma reviravolta para o app de vídeos e fotos favorito de jovens de até 24 anos

Snapchat: o aplicativo está sendo redesenhado para atrair usuários com mais de 35 anos (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

Snapchat: o aplicativo está sendo redesenhado para atrair usuários com mais de 35 anos (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 8 de novembro de 2017 às 18h12.

Última atualização em 8 de novembro de 2017 às 18h18.

A Snap, dona do aplicativo de fotos e vídeos Snapchat, já era? A pergunta tem sido feita por um número crescente de analistas e investidores desde que a companhia voltou a divulgar um resultado trimestral abaixo da crítica, no fim da tarde desta terça-feira.

Embora o faturamento tenha aumentado 62% no trimestre, para 207,9 milhões de dólares, os prejuízos quase quadruplicaram. No terceiro trimestre do ano passado era de 124,4 milhões, agora já chega a 443,1 milhões de dólares. É o terceiro balanço trimestral que o Snap apresenta desde sua abertura de capital e o maior desastre financeiro até agora. O número de novos usuários caiu de 8 milhões no início do ano para 4,5 milhões agora.

Startups de tecnologia podem, e até devem, perder dinheiro investindo no futuro. Investidores americanos sabem disso, e topam o risco. Mas a reação à divulgação dos resultados de ontem mostra que há algo irremediavelmente errado na trajetória da Snap. As ações despencaram 18% desde o fechamento do mercado americano, às 16h de ontem. Desde a abertura de capital da empresa, em março, a queda chegou a 50%, o equivalente a 15 bilhões de dólares.

“Nos dois primeiros trimestres como empresa listada, nós avaliamos os resultados desapontadores da Snap como consequência de ‘dores do crescimento, mas sentimos que os debates de longo prazo sobre crescimento de usuários continuam sem solução”, escreveu em relatório o analista Eric Sheridan, do banco UBS. Sheridan afirmou ainda que prevê que a companhia continuará sofrendo em múltiplas frentes nos próximos 12 meses e rebaixou o preço alvo da empresa para 7 dólares, ante os 12 em que está cotada nesta quarta-feira.

Assim como os aviões, empresas não caem por um único motivo. No caso da Snap, o que chama a atenção é a velocidade com que o humor em torno da empresa foi da euforia à depressão profunda. A abertura de capital da empresa era tratada como analistas como um fracasso em potencial. Eis que, em dois dias de pregão, os papéis subiram mais de 50% e passaram de 17 para 27 dólares.

Mas logo se viu que era pura euforia de investidores sedentos por novos ativos num momento em que a bolsa americana, e gigantes de tecnologia em especial, como Amazon, Google e Facebook, batiam recordes de valorização. Alguns analistas, como Anthony DiClemente, da consultoria Nomura em Nova York, se apressaram a afirmar que a Snap ia despencar uma combinação de crescimento lento, a monetização demorada e competição voraz.

O efeito Facebook

Boa parte dos problemas atuais da Snap se devem a aumento brutal de concorrência e incapacidade da gestão de responder aos ataques. “A equipe da Snap está mostrando uma considerável fluidez em como gerir o negócio e nós acreditamos que isso reflita fraqueza de liderança em uma estrutura corporativa que carece de executivos sêniores”, escreveu Sam Kemp, analista da Piper Jaffray.

Entre os erros crassos de estratégia estão os 40 milhões de dólares que a empresa perdeu no trimestre com o fracasso do Spectacles, um óculos solar equipado com câmera oferecidos em vending machines da própria Snap. Era uma tentativa de competir de uma só vez com os óculos do Google e com a estrutura de vendas da Amazon.

Mas a maior dor de cabeça é a competição com outro gigante, o Facebook. Em 2013, Evan Spiegel, que havia criado a empresa dois anos antes na Universidade Stanford, recusou uma oferta de 3 bilhões de dólares feita pelo Facebook e foi para o octógono enfrentar uma briga que, como fica claro trimestre a trimestre, ele tem poucas chances de vencer.

Mark Zuckerberg, criador do Facebook, se dedicou a copiar as principais ferramentas do Snapchat e oferecê-las aos usuários de sua rede social Instagram.

O efeito foi devastador. Em março, quando foi à bolsa, a Snap havia afirmado que pessoas com menos de 25 anos passavam cerca de 30 minutos na plataforma por dia. Era seu grande trunfo. Acontece que, em agosto, o Instagram disse que pessoas da mesma faixa etária passam 32 minutos no aplicativo todos os dias.

A Snap ainda tem suas fortalezas. Uma pesquisa da empresa de análises eMarketer mostrou que o Snapchat é mais usados por jovens americanos entre 12 e 24 anos que o Facebook. Pode ser uma mostra de pontecial para o futuro. O problema é que a empresa precisa sobreviver aos próximos trimestres. O aplicativo está sendo redesenhado para ficar mais atraente a usuários com mais de 35 anos e, consequentemente, para anunciantes.

Mas a maior esperança de sucesso da companhia veio de novas notícias de investimento do conglomerado de tecnologia chinês Tencent, dono, entre outros negócios, do WeChat, o aplicativo de mensagens mais popular da China. A Tencent já tem 12% da Snap, numa investida que denota uma confiança no futuro do negócio, ou até o prelúdio de uma aquisição futura.

Para Evan Spiegel e o co-fundador do negócio, Bobby Murphy, colocar as coisas em perspectiva certamente ajuda. Mesmo com toda a tempestade, a Snap ainda vale 15 bilhões de dólares – e a fortuna dos dois é calculada em mais de 5 bilhões de dólares, ou 70% a mais que os 3 bi oferecidos por Zuckerberg.

Acompanhe tudo sobre:Empresas de internetExame HojeSnapchat

Mais de Negócios

“Reputação é o que dizem quando você não está na sala”, reflete CEO da FSB Holding

EXAME vence premiação de melhor revista e mantém hegemonia no jornalismo econômico

Clube dos bilionários: quem tem mais de US$ 100 bilhões em patrimônio?

Ele fatura R$ 500 milhões ao colocar Floripa na rota do luxo discreto