Engajamundo: jovens ativistas em prol da sustentabilidade (Engajamundo/Divulgação)
Marina Filippe
Publicado em 6 de outubro de 2021 às 09h02.
Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 13h16.
A juventude interessada nas mudanças climáticas e ambientais vai muito além da ativista Greta Thunberg. No Brasil, um grupo de 300 jovens de 15 a 29, que formam a Organização Não Governamental (ONG) Engajamundo, é exemplo disto e está pronto para mostrar sua força na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP26, que acontece em Glasgow, na Escócia, na primeira metade de novembro e reúne lideranças globais.
Para além da atuação neste evento, a Engajamundo, que surgiu em 2012 após a Conferência Rio+20, trabalha o ano todo em cima de cinco pilares: mudanças climáticas, equidade de gênero, biodiversidade, objetivos de desenvolvimento sustentável, e cidades e comunidades sustentáveis. Para atrair os jovens e ir além da importância técnica dos temas, a ONG tem uma forte atuação em educação e comunicação.
“O EduClima é um projeto de formação de jovens em educação climática. A metodologia busca fortalecer capacidades em mobilização, participação e advocacia, e assim provocar mudanças de comportamento dos jovens para que os mesmos contribuam diretamente na implementação e efetivação de agendas políticas em clima”, diz Paulo Ricardo Brito Santos, coordenador do de mudanças climáticas do Engajamundo.
Para facilitar o entendimento dos temas, são utilizados jogos de cartas e tabuleiros que simulam práticas como, por exemplo, influenciar uma tomada de decisão. Por conta da pandemia da covid-19, essas ações acontecem de modo virtual. Atualmente, o Engajamundo está em 27 cidades brasileiras, com núcleos de atuação formados por ao menos cinco jovens. “Também promovemos facilitações para que outros núcleos se formem, tudo de modo voluntário”, diz Paulo Ricardo.
Paulo Ricardo, com apenas 26 anos, e prestes a se formar em Energia e Sustentabilidade, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, é um dos representantes da Engajamundo nesta COP. Para participar, ele foi escolhido entre os colegas do grupo, que votaram entre os interessados de forma a disponibilizar à eles os recursos que a ONG capta por meio de doações.
O interesse de Paulo Ricardo em sustentabilidade começou na faculdade, mas com a intenção de ir além dos conceitos acadêmicos, e de notícias mais gerais sobre aquecimento global. “No Engajamundo, em 2017, encontrei uma forma acessível de falar de clima e outros temas da sustentabilidade, para além de, por exemplo, temas mais falados como derretimento das geleiras. Foi tudo muito natural e quando percebi já estava representando o grupo, indo às COPs, e coordenando as ações”, diz.
Nas COPs, o desafio do Engajamundo é conseguir contato com lideranças governamentais e de demais setores que impactam o meio ambiente, além de promover uma comunicação assertiva que amplia os discursos sobre o que lá acontece. “Somos reconhecidos pelas ações de ativismo nas COPs. Uma delas se deu em Paris, em 2015, quando o grupo entregamos o Prêmio “cara de pau” para a então Ministra Isabela Teixeira. Nossa ação repercutiu nas redes sociais e na imprensa quando ela apresentou proposta de desmatamento ilegal, sendo que a mesma já existia no código florestal brasileiro”, diz Paulo Ricardo.
Para este ano, há o esforço de continuar repercutindo nas redes, atraindo novos jovens e promovendo debates que sempre levem em conta a diversidade e inclusão. “Vamos acompanhar as sublideranças (de estados e prefeituras brasileiras) e promover debates sobre justiça climática. Precisamos reforçar que os principais afetados na crise do clima são as pessoas pretas, indígenas e periféricas, e que elas têm de estar no centro do debate”, afirma Paulo Ricardo. Por conta disto, hoje o núcleo administrativo do Engajamundo é composto por seis pessoas, e cinco são mulheres. Destas pessoas, cinco são do Norte e Nordeste.
Outro exemplo de jovem liderança é Amanda Costa, de 24 anos, que atua simultaneamente em diferentes frentes: empreende no Perifa Sustentável, atua como vice-curadora do Global Shapers HUB SP, comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial e mais. Com participação em duas COPs, foi por lá que ela conheceu o Engajamundo.
“Como estudante de Relações Internacionais, eu achava muito distante da minha realidade os debates das conferências. Parecia que para estar naquele espaço era preciso ser mais velha, rica e pós-doutoranda, mas naquele ambiente, onde predominam pessoas deste perfil, em 2017 encontrei um grupo de jovens brasileiros de roupas coloridas”, diz Amanda. A identificação foi tanta, que em seis meses, ela assumiu um cargo de coordenação.
Para ela, uma grande vantagem da organização é atrair outros jovens ao falar do tema de forma sexy. “Temos uma abordagem divertida, publicamos fotos com poses sexys e engraçadas para atrair o olhar e em seguida falar de temas sérios e importantes para o nosso futuro. É preciso mostrar que este lugar de transformação também é nosso”, diz Amanda.
Formada em Relações Internacionais pela Universidade Anhembi Morumbi, sua primeira participação na COP aconteceu após ser selecionada pela WORLD YMCA em 2017 para representar a juventude brasileira. Vinda da periferia de São Paulo, não bastou a aprovação para embarcar ruma à Alemanha. Para isto, ela precisou angariar recursos financeiro e, naquele ano, comprou bijuterias na 25 de março, em São Paulo, e revendeu na Universidade. Desta vez, na sua terceira COP, Amanda pediu ajuda nas redes sociais e recebeu doações que foram de cinco a quatro mil reais. “As pessoas estão acreditando em mim como a representação desse sonho coletivo”, afirma.
Na COP26, ela terá apoio de jovens da periferia que estarão em São Paulo e publicarão nas redes sociais o que acontece em Glasgow, sempre de forma atraente e fácil para o jovem. Além disto, Amanda será mediadora de um debate sobre juventude, clima e interseccionalidade no dia 5 de novembro, em parceria com o Brazil Climate Action Hub.
“Meu trabalho é levar o jovem da quebrada para estes espaços, faço isto com a Perifa Sustentável e outros programas voluntários. Na COP26 vou reforçar a importância da presença de pessoas pretas, indígenas, quilombolas e periféricas nos debates climáticos”, afirma Amanda.