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'Minha mãe não sabe que viralizei': com 22 anos, ele usa IA para dar batida anos 80 a hits do funk

A Blow Records explodiu nas redes sociais utilizando IA generativa para transformar hits do funk em clássicos que soam como Tim Maia ou Marvin Gaye

MC Brinquedo no estilo anos 80: com ferramentas como Midjourney, funkeiros ganham versão 'das antigas' (Blow Records / Divulgação)

MC Brinquedo no estilo anos 80: com ferramentas como Midjourney, funkeiros ganham versão 'das antigas' (Blow Records / Divulgação)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 4 de julho de 2025 às 10h23.

Última atualização em 4 de julho de 2025 às 13h57.

Criativo, paulista e quase publicitário. Estas são as quatro palavras que descrevem o jovem de 22 anos por trás do viral do momento: hits do funk como clássicos dos anos 50 a 80. Principalmente no TikTok, músicas como "Popotão Grandão (1982)", "Só Quer Vrau (1982)", "Chatuba de Mesquita (1970)" e "Chupa Xoxota (1980)" são pano de fundo para todos os tipos de vídeo, graças às ferramentas de inteligência artificial — e a mente imaginativa por trás.

Inspirado pela sonoridade de artistas como Marvin Gaye e Tim Maia, o paulista Raul Vinicius é o dono da Blow Records, selo oficial da gravadora por trás dos funks anos 80. Só que, nesse caso, a gravadora é composta por ele e algumas ferramentas de IA generativa. A marca começou como brincadeira, e em um interesse em explorar as novas ferramentas de IA. "Eu meio que comecei na zoeira e tal", diz Vinicius, que, de primeira, transformou músicas do trap brasileiro para enviar aos amigos.

Foi a mistura de funk e soul que resultou na receita de sucesso da Blow. De abril para cá, foram 11 milhões de visualizações somente no Instagram. Desde que criou as contas, conseguiu mais de 60 milhões de visualizações no TikTok e 12 milhões no YouTube. Mas Vinicius afirma que não conseguiu nenhum dinheiro relevante até então pelas criações, muito menos publis com marcas como, por exemplo, o caso recente da Marisa Maiô.

"É tão baixa [a quantia] que não sei te dizer quanto já ganhei, mas ajuda a cobrir os custos da produção", afirma o paulista, ressaltando que a conta no TikTok não é monetizada. Por lá, são 136 mil seguidores, 5,6 milhões de curtidas e 60 mil vídeos criados por outros usuários com os dois maiores hits da Blow, "Predador de Perereca" e "Casa dos Machos".

Vale ressaltar que é um mercado com potencial lucrativo imenso: uma pesquisa recente indica um crescimento de US$ 3 bilhões no mercado de música gerada por inteligência artificial generativa até 2028. Por isso, hoje já se observa plataformas como o YouTube disponibilizando a voz de alguns artistas para a criação de músicas inéditas, além de ferramentas como a Moises.ai, que usa IA para separar as faixas de uma mesma música e foi idealizada pelo brasileiro Geraldo Ramos.

A questão dos direitos autorais

Apesar de publicar vídeos sob o selo Blow Records desde abril de 2024, foi só um ano depois que os áudios decolaram de vez. Vinicius atribui a "virada de chave" ao sucesso de "Casa dos Machos", da funkeira Pocah. A ex-participante do BBB publicou a versão nas próprias redes sociais após ser marcada no conteúdo. "Quando fui ver, já era viral. Gosto quando os conteúdos nascem assim, de forma orgânica e respeitosa", diz a artista, que apoia o uso de IA generativa na música quando usada com responsabilidade.

"Encarei como um meme, e até uso o áudio nos meus próprios conteúdos. É uma maneira criativa de dialogar com outras gerações, sem prejuízo ao trabalho original. Nesse caso, foi bom para reviver uma música que foi muito importante para minha carreira e que os mais jovens não conheciam", afirma Pocah.

Vinícius se preocupa com a questão dos direitos autorais e toma medidas para garantir que seu trabalho não infrinja a propriedade intelectual de outros. "Eu sempre tento fazer da melhor forma que for possível para lançar [no Spotify], conversando antes com os artistas e dando os devidos créditos", explica o paulista. Nas músicas, é possível ver que tanto a Blow quanto o funkeiro por trás da música original são creditados, dividindo o royalties entre os dois. A Blow é seguida por nomes como Mano Brown, Kevin O Chris e Matuê no Instagram.

O som viral de "Predador", por exemplo, ainda não está disponível na conta oficial da Blow no Spotify, mesmo sendo o mais replicado no TikTok e afins. Outra conta fez upload da música, sem creditar a Blow ou o funkeiro Mc Jhey, e alcançou o 3° e 5° lugar nas listas de hits virais do Portugal e do Brasil, respectivamente, no Spotify. Felizmente, a primeira e segunda posição são da Blow.

O que vem por aí?

Além de ser o criador da Blow Records, Raul também tem a própria marca de roupas streetwear, PNGOAT. Apaixonado por temas diversos, o paulista segue disposto a experimentar de tudo — seja isso uma nova ferramenta de IA ou um empreendimento totalmente novo.

Vinicius, inclusive, não revela qual é a plataforma utilizada para criar as músicas da Blow. "É a cereja do bolo", diz. Porém, para criar as imagens dos funkeiros, ele conta que usa ferramentas como Freepik, Veo 3, Midjourney e mais.

Apesar do sucesso, o jovem tímido prefere continuar no anonimato. Vinicius ainda mora com os pais, e somente a mãe sabe das criações da Blow. "Ela sabe do projeto, mas ainda não tem ideia da proporção que tomou", diz o jovem de 22 anos, com uma risada discreta.

Escute as músicas da Blow Records:

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