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O que aprendi em Londres sobre IA, fusão e quantum — e por que o Brasil não pode mais esperar

Wagner Lopes, country manager do South Summit Brazil, conta o que viu numa missão a empresas e instituições de ensino ligados à agenda de IA e computação quântica — e o que o Brasil pode aprender com os britânicos

Missão do Instituto Caldeira a Londres: um ambiente vibrante e diverso, repleto de pessoas interessantes, que seduz os melhores talentos do mundo (Divulgação/Divulgação)

Missão do Instituto Caldeira a Londres: um ambiente vibrante e diverso, repleto de pessoas interessantes, que seduz os melhores talentos do mundo (Divulgação/Divulgação)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 22 de julho de 2025 às 07h35.

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Wagner Lopes, country manager do South Summit Brazil

Recentemente, estive em Londres como parte de uma imersão empresarial organizada pelo Instituto Caldeira que visitou algumas das instituições mais avançadas do mundo em inteligência artificial, computação quântica e fusão nuclear.

Após dezoito agendas, voltei com a certeza de que o futuro que pautamos nos palcos do South Summit Brazil já está em plena execução, e o Brasil precisa correr para não ser apenas espectador desse novo ciclo tecnológico.

A escolha do local não poderia ser melhor. Londres é a capital financeira, tecnológica, cultural e política do Reino Unido — algo raro, considerando países como os EUA em que diferentes cidades dividem este postos.

O resultado? Um ambiente vibrante e diverso, repleto de pessoas interessantes, que seduz os melhores talentos do mundo — e conecta-os com instituições de ponta como Oxford, Cambridge e UCL.

Londres atrai o dobro de investimento em Venture Capital que qualquer outra cidade europeia, abriga cerca de 3 mil fundos e origina 20% das startups de IA do continente.

IA não é apenas sobre produtividade

Nos últimos anos, acompanhamos a explosão da IA generativa. Mas o que vimos no Reino Unido foi o passo seguinte: a era dos agentes autônomos integrados a sistemas de negócios, operando com autonomia, contexto e aprendizado contínuo.

E ficou claro que o desafio novamente não se limita à tecnologia — ele passa por pessoas e estratégia.

As empresas cujos talentos forem capazes de desenvolver os melhores casos de uso com foco no negócio e velocidade, sairão na frente.

Em Oxford, ouvimos do professor Felipe Thomaz: “IA não é apenas sobre produtividade — é sobre velocidade de adaptação. Quem integrar dados com ação primeiro, domina o mercado.”

Na Ascension, um dos fundos mais ativos de Londres, uma sócia compartilhou que 90% das startups que analisam já utilizam IA — não como diferencial, mas como pré-requisito.

Em resumo: a IA por si só não é inovação. Mas o seu uso estratégico, aplicado com rapidez e foco em resultado, será um diferencial.

Para as empresas brasileiras, há uma janela de oportunidade para quem estrategicamente conseguir usar IA para transformar produtos, canais e experiências.

Outro tema recorrente foi a conexão de IA, data centers e energia. A infraestrutura necessária para rodar os modelos de linguagem de larga escala (LLMs) exigirá a construção de verdadeiras cidades de data centers, devido ao enorme consumo de energia dos sistemas de IA.

Para ilustrar: uma única consulta no ChatGPT consome, em média, dez vezes mais energia do que uma busca feita no Google.

Neste contexto, existe uma grande oportunidade para o Brasil posicionar-se como hub global de data-centers por causa da sua matriz energética que é limpa e abundante.

Dados do governo estimam que os investimentos no setor podem chegar a R$ 2 trilhões em 10 anos.

No Rio Grande Sul, foi anunciado investimento de R$ 3 bilhões no Scala AI City, um dos maiores empreendimentos de infraestrutura digital do continente.

Em Londres, a aposta do governo em termos de matriz enérgica está na fusão nuclear. Visitamos a UKAEA, agência que gerencia o principal reator de fusão nuclear do mundo e lidera os avanços globais neste campo.

O avanço da computação quântica

A fusão nuclear, diferentemente da fissão nuclear – método mais difundido e utilizado nas usinas de Angra no RJ – representa uma fonte energética muito segura, limpa e ilimitada que pode ajudar nos desafios climáticos.

O mais interessante, e que serve de referência para lideranças políticas do Brasil, foi ver o desenvolvimento de um projeto estratégico de longo prazo de investimento em um setor capaz de gerar valor para outros mercados (ex: semicondutores) e criar ao seu redor uma cadeia de alto valor a partir da qual surgem novas indústrias.

Por exemplo: uma indústria robótica, dentro da UKAEA, inicialmente criada para manutenção dos reatores, mas que hoje já desenvolve projetos para diversas outras indústrias globalmente.

Ou até mesmo um ecossistema de VC. Visitamos a EastX, fundo de VC que gerencia o único fundo early stage no mundo focada no ecossistema de fusão nuclear.

E tudo isso potencializado por universidades de ponta que formam talentos para posições extremamente qualificada como engenharias e ciências.

Sabe quem está de olho também neste setor? Os chineses, que possuem o maior fundo publico de fusão e formam atualmente 10x mais PhDs em ciências de fusão e engenharias que os EUA.

Na IBM, conhecemos um computador quântico e suas implicações. Imagina se o seu banco pudesse zerar o risco de fraude ou o seu entregador logístico soubesse, com exatidão, a rota para 150 pontos de entregas no dia?

A computação quântica responde justamente este tipo de situação – problemas de natureza probabilística e combinatória que computadores clássicos não conseguem processar.

Em 2029, deverá ser atingido o chamado quantum Advantage — momento em que o computador quântico superará qualquer máquina clássica, o que deverá afetar mercados como bancos, energia, seguros, saúde, telecomunicações e até a indústria automotiva e aeroespacial.

A computação quântica poderá levar a IA para outro nível, treinando, em algumas horas, modelos que hoje levam meses, e representar vantagem competitiva em um futuro não muito distante.

E mais uma vez ouvimos falar da China – é o pais que mais investe em computação quântica, mais publica artigos científicos e mais forma PhDs nesta área no mundo.

O que vi em Londres foi um novo ciclo tecnológico em curso que combina tecnologia e ciência de ponta, visão estratégica e capital – financeiro e intelectual.

Penso que o Brasil, apesar de seus desafios, pode mirar alto. Temos uma matriz energética limpa e abundante, diferencial estratégico em tempos de IA.

Somos um dos países com mais alta taxa de adoção de tecnologias digitais no mundo. Fomos considerados, em Cannes, o "País Criativo do Ano". Mas precisamos acelerar.

Só com uma visão estratégica e conexão ativa às estas novas cadeias globais poderemos transformar esta criatividade em valor.

Veja aqui as fotos da missão do Instituto Caldeira a Londres.

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