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O que aprender com as empresas mais bem geridas do Brasil? Veja a lista

A quarta edição do prêmio Best Managed Companies (BMC) 2025 da Deloitte, divulgado ao mercado nesta quarta-feira, revela as companhias com melhores práticas em estratégia, operação e cultura

Fábrica da Aurora, estreante no BMC da Deloitte: prêmio reconhece boas práticas de gestão em empresas brasileiras (Aurora/Divulgação)

Fábrica da Aurora, estreante no BMC da Deloitte: prêmio reconhece boas práticas de gestão em empresas brasileiras (Aurora/Divulgação)

Publicado em 28 de maio de 2025 às 10h50.

Última atualização em 28 de maio de 2025 às 14h46.

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A quarta edição do prêmio Best Managed Companies (BMC) da Deloitte no Brasil será divulgada nesta quarta-feira, 28 de maio, em evento em São Paulo.

O Best Managed Companies é um programa global de reconhecimento da Deloitte, presente em 44 países. No Brasil, a premiação é conhecida como "Empresas com Melhor Gestão" e segue os mesmos critérios do programa internacional.

Este selo é destinado a empresas privadas de médio e grande porte que demonstram excelência nos pilares de gestão estratégica, operação eficiente, cultura organizacional e governança.

A metodologia de avaliação é rigorosa, independente e é realizada por um comitê especializado que analisa os seguintes quatro pilares principais:

    • Estratégia: Avaliação da clareza, robustez e capacidade de adaptação do planejamento estratégico da empresa.
    • Execução/Operação: Excelência operacional, inovação, produtividade e capacidade de entrega de resultados.
    • Cultura e Pessoas: Compromisso com o desenvolvimento de talentos, liderança, e engajamento dos colaboradores.
    • Governança e Finanças: Estrutura de governança, disciplina financeira, transparência e gestão de riscos.

A competição tem uma avaliação que inclui coaching especializado da Deloitte, feedback de um júri independente, e um processo que exige a submissão de informações sobre a gestão e a operação das empresas.

Entre as empresas estreantes no BMC Brasil em 2025 estão Amarante, Aurora, Bemol, Comexport, Coopercitrus, Galvani, Grupo JCC, Pamplona, Piracanjuba e Zilor.

Estas empresas foram reconhecidas por seus resultados consistentes e pela implementação de práticas que combinam inovação, governança sólida, e foco no desenvolvimento sustentável.

Entre as empresas que fazem parte da premiação desde edições anteriores e continuam a ser reconhecidas pelo prêmio no Brasil estão nomes como Acumuladores Moura, Agrária, Be8, Cocal, Cocamar, Farmácia Nissei, Farmax, Gazin, Grupo Cornélio Brennand, Masterboi, Santa Helena, SLC Máquinas e Três Corações.

Elas foram reconhecidas por práticas que mantêm suas operações sustentáveis, inovadoras e com um alto nível de governança. As companhias que mantêm o selo de "Best Managed" por vários anos são reconhecidas com a categoria Gold Standard (para empresas com o selo por 4 a 6 anos consecutivos) e Platinum Club (para aquelas com o selo por 7 anos ou mais).

No cenário global, o programa é realizado em diversos países, e mais de 1.600 empresas estão incluídas na rede de Best Managed Companies.

Nos Estados Unidos, 61 empresas foram premiadas, incluindo gigantes como Coca-Cola Beverages Florida e Ocean Spray.

A premiação também se destaca por premiar empresas com forte uso de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, para otimizar sua operação e alcançar novos patamares de crescimento.

A seguir, conheça detalhes de algumas das estreantes do BMC no Brasil em 2025.

Resort da Amarante: medidas para o bem-estar físico também dos funcionários (Amarante/Divulgação)

Amarante: formação de talentos

Turismo de lazer no Brasil envolve desafios de gestão que vão da qualificação de mão de obra à alta rotatividade e sazonalidade. No caso da Amarante, grupo de hospitalidade com mais de 30 anos de atuação em Alagoas, a resposta veio com inovação, governança e uma cultura organizacional clara e difundida.

Com três resorts all inclusive — Salinas Maragogi, Salinas Maceió e Japaratinga Lounge Resort — a Amarante investe em formação de talentos locais, tecnologia própria de vendas e práticas sustentáveis. A empresa realiza mais de 80% das vendas de forma direta, sem depender de plataformas de terceiros, e lançou pacotes com aéreo incluso, modelo ainda raro no setor.

A cultura é estruturada como parte da estratégia, com ações monitoradas e plano de correção. Para sustentar o crescimento, a empresa mantém programas de capacitação contínua, plano anual de treinamentos e programas como o “Equilíbrio”, voltado ao bem-estar físico e mental dos funcionários. Governança também é prioridade, com conselho de administração ativo e regras claras para familiares dos sócios.

Aurora: foco na responsabilidade social

Cooperativas têm desafios próprios de gestão. Para além de desenvolverem o negócio, criando ou ganhando mercado e ampliando portfólio de produtos, há também uma responsabilidade com o cooperado em si.

No caso da catarinense Cooperativa Aurora, de Chapecó, são mais de 150.000 famílias envolvidas na industrialização e comercialização de carnes suínas, aves, lácteos, massas, vegetais, pescados e suplementos para nutrição alimentar. Ao todo, a empresa tem 48.000 funcionários e uma receita na casa dos 25 bilhões de reais.

Para desenvolver tantas pessoas e movimentar um ecossistema de uma centena de milhares de famílias, a Aurora possui um forte programa estruturado de responsabilidade social.

Entre suas iniciativas, destacam-se parcerias com a APAE, um programa de formação para estrangeiros com aulas semanais durante seis meses, além de ações voltadas para públicos vulneráveis.

Também incentiva o voluntariado durante o horário de trabalho e promove a conscientização dos funcionários por meio de uma área dedicada à responsabilidade social.

“Este reconhecimento é fruto do trabalho coletivo das 150 mil famílias que fazem parte do Sistema Aurora Coop e compartilham dos mesmos valores e propósitos”, diz Neivor Canton, presidente da Aurora Coop.

Destaque também para as constantemente oportunidades de desenvolvimento de seus funcionários por meio do programa de sucessão e trainee para atuar em cargos de gestão.

A inovação é outro braço forte da companhia. A Aurora utiliza diversas leis de incentivo e possui um programa de ideias que premia os profissionais com os melhores projetos de inovação.

A empresa também possui um plano e orçamento estruturado de pesquisa e desenvolvimento e conta com um programa de inovação aberta.

Marcelo Forma, vice-presidente da Bemol

Marcelo Forma, vice-presidente da Bemol: “Nosso crescimento reflete o compromisso em oferecer soluções financeiras" (Bemol/Divulgação)

Bemol: tecnologia na Amazônia

Expandir negócios na Amazônia ocidental exige visão estratégica e adaptação a um mercado com características únicas. Com mais de 80 anos de história, a Bemol se consolidou nesse cenário com uma atuação diversificada, que vai do varejo tradicional à oferta de serviços financeiros.

Presente em quatro estados (Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre), a empresa atende 70 municípios, com lojas físicas em 22 deles.

Com 37 lojas, 48 farmácias, 4 mercados, 22 loterias e 6 centros de distribuição, a Bemol mantém uma operação robusta em uma região que responde por apenas 4% da população brasileira.

O braço de serviços financeiros ganha destaque, com crediário, empréstimos pessoais, garantia imobiliária e Pix parcelado.

A carteira de crédito deve alcançar 2,8 bilhões de reais em 2024, com previsão de originar mais de 2 bilhões em empréstimos em 2025 e chegar a 760 mil contas digitais da Conta Bemol.

“Nosso crescimento reflete o compromisso em oferecer soluções financeiras alinhadas às necessidades da população da Amazônia ocidental, combinando tecnologia e proximidade local”, afirma Marcelo Forma, vice-presidente da Bemol.

Os resultados financeiros também chamam atenção: a empresa mantém um crescimento médio anual (CAGR) de 12% nos últimos cinco anos. A projeção é de alta de 13% para 2025.

Coopercitrus Expo, feira organizada pela cooperativa: diversificação de negócios está no centro da estratégia (divulgação/Divulgação)

Coopercitrus: transparência e fintech

A Coopercitrus, uma das maiores cooperativas agropecuárias do Brasil, foi reconhecida no "Best Managed Companies" pela estrutura de governança e diversificação de serviços no agronegócio.

Fundada em 1976, a cooperativa iniciou suas operações com 2 mil associados e 5 filiais, e atualmente reúne mais de 40 mil cooperados e 190 unidades em quatro estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

A cooperativa atua em diversas frentes, fornecendo insumos como sementes, fertilizantes e defensivos, além de vender máquinas e equipamentos.

A Coopercitrus também está envolvida em serviços como consultoria técnica, distribuição de combustíveis, energia solar e comercialização de grãos. Em 2024, a Coopercitrus registrou um faturamento de 8,54 bilhões de reais, alta de 5% em 12 meses.

Desde 2018, a cooperativa passou por uma reestruturação em sua governança, com a segregação da diretoria executiva e do conselho de administração.

A cooperação adota práticas de transparência e prestação de contas, com a criação de diversos comitês internos e a implementação de um sistema de ERP que levou quase 4 anos para ser concluído.

Em 2023, a cooperação também contratou o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) para reforçar a gestão e o treinamento dos conselheiros e executivos.

Esse processo tem gerado resultados visíveis, com o número de cooperados crescendo cerca de 2 mil por ano. A cooperativa também apresenta uma taxa de inadimplência considerada baixa, reflexo das ações de apoio e consultoria oferecidas aos cooperados.

"A governança sólida é fundamental para o crescimento da Coopercitrus e para a confiança de nossos cooperados", afirma Simonia Sabadin, CFO da cooperativa.

A Coopercitrus não se limita à venda de insumos agrícolas. Desde 2024, a cooperativa passou a atuar no setor financeiro por meio da fintech Fincoop, que oferece serviços de assessoria financeira e crédito para os cooperados, incluindo consultoria em sucessão familiar.

Esses serviços se somam à corretora de seguros criada pela Coopercitrus em 2022, que visa atender as necessidades específicas dos cooperados no campo.

A cooperação também investe em tecnologia com a plataforma "Campo Digital", que integra soluções como drones e monitoramento por satélite para aumentar a produtividade e reduzir custos.

A Coopercitrus se destaca como uma das maiores empresas de venda de drones para o setor agropecuário no Brasil, além de oferecer treinamentos homologados pela ANAC para capacitar seus cooperados na utilização da tecnologia.

A estrutura física da Coopercitrus inclui 61 lojas e sete concessões, além de 5 fábricas de ração e silos para armazenagem de grãos. Com uma equipe de mais de 370 técnicos e 400 agrônomos, a cooperativa oferece suporte direto aos produtores nas etapas do plantio, manejo e comercialização.

Embora a Coopercitrus tenha ampliado sua atuação nos últimos anos, a sustentabilidade continua sendo um pilar fundamental da estratégia da cooperativa.

A Coopercitrus adota práticas agrícolas sustentáveis, como o uso de biológicos e a recuperação de nascentes. Em 2024, a cooperativa recuperou 221 nascentes através do projeto "Cooper Nascentes", que visa melhorar a disponibilidade de água nas regiões em que atua.

Além disso, a cooperativa promove iniciativas para a capacitação e desenvolvimento dos cooperados e suas famílias. A Coopercitrus mantém a Fundação Coopercitrus, criada em 2022, que oferece cursos superiores e profissionalizantes para seus funcionários e os dos cooperados.

Fábrica da Solar Coca Cola, do qual a JCC faz parte do grupo societário: investimentos em tecnologia (Jooao / Solar Coca Cola/Divulgação)

Grupo JCC: atenção aos dados

Fundado em 1978, o Grupo JCC consolidou-se como um dos principais operadores de shopping centers fora do eixo Rio-São Paulo.

Com atuação marcante no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, administra empreendimentos como o Iguatemi Fortaleza (CE), Bosque dos Ipês (MS) e Bosque Grão-Pará (PA). Além do varejo físico, atua também no setor imobiliário e é sócio da Solar Coca-Cola, uma das maiores engarrafadoras da marca no Brasil.

A estrutura empresarial é controlada por uma holding familiar, a Calila Investimento, com múltiplos níveis de governança e conselhos próprios para cada área de atuação. Essa base robusta sustentou o grupo durante crises e permitiu a implementação de reformas estratégicas nos últimos anos.

“Criamos uma governança forte para manter a consistência mesmo em momentos difíceis. O objetivo é ter uma operação profissionalizada e eficiente, sem depender da presença direta dos sócios no dia a dia”, diz Bernardo Legey, CEO da JCC desde 2022.

Antes, Legey liderou por 25 anos a Solar, fez um sabático em Harvard e, em 2020, assumiu inicialmente a frente imobiliária do grupo antes de unificar as operações sob sua liderança.

Uma das primeiras medidas foi reestruturar a cultura interna. A JCC passou a operar com um novo propósito — “encantar o cliente” — e valores definidos, como colaboração, excelência e desenvolvimento de pessoas.

Esses pilares foram desdobrados em princípios de comportamento esperados de cada liderança. O plano estratégico foi condensado em um documento chamado BR417, com quatro eixos e 17 iniciativas prioritárias.

A transformação digital ganhou uma diretoria dedicada com três frentes claras: ganho de eficiência, aprofundamento da análise de dados e otimização do marketing.

No primeiro eixo, foram automatizadas tarefas manuais e criados fluxos digitais para processos como rateios e lançamentos contábeis. Isso trouxe confiabilidade e velocidade em rotinas que antes levavam dias.

No segundo eixo, a empresa passou a coletar e interpretar dados sobre o comportamento dos clientes. Essa leitura orienta desde a escolha de lojas para novos contratos até ajustes na prestação de serviços.

“Descobrimos, por exemplo, que o Natal era o evento com maior engajamento. Aumentamos os investimentos e vimos um retorno imediato em fluxo e vendas”, afirma Legey.

No terceiro eixo, o foco foi tornar os investimentos em marketing mais inteligentes. O grupo passou a medir o NPS (Net Promoter Score) e mapear a performance de campanhas. Isso levou a uma ampliação de 6% a 7% da base de participantes no programa de relacionamento em poucos meses.

Na agenda ESG, a área ambiental foi reestruturada com foco em eficiência energética e hídrica.

Equipamentos de climatização foram substituídos por sistemas automatizados, o que gerou economia de 20% a 25% no consumo de energia. Em Belém, o shopping passou a reutilizar água da chuva. Medidores instalados em banheiros reduziram em 20% o consumo de água — um ganho expressivo, especialmente no Nordeste, onde o recurso é escasso.

Na frente social, o grupo criou a Loja do Bem, espaço nos shoppings de Fortaleza e Belém que abriga artesãos locais sem fins lucrativos. O projeto já recebeu premiações e se tornou referência em inclusão produtiva e valorização da cultura regional.

Essas medidas geraram impacto direto no desempenho. No primeiro trimestre deste ano, as vendas cresceram 14%.

Mesmo diante de juros elevados, o grupo manteve um plano de investimento de 70 milhões de reais em retrofit de áreas comuns, banheiros e iluminação, além da expansão do centro de eventos em Campo Grande.

O planejamento estratégico está sendo revisado para os próximos quatro anos. A tendência é acelerar o desenvolvimento dos ativos já consolidados — especialmente os shoppings — com integração a projetos imobiliários adjacentes.

Em Fortaleza, uma torre residencial já foi lançada, e novos empreendimentos devem seguir o modelo de “cidade shopping center”, com oferta integrada de moradia, comércio, serviços e lazer.

“O comportamento social do brasileiro, aliado ao clima e à questão da segurança, torna os shoppings resilientes. Nossa missão é extrair mais valor dos ativos que temos e preparar o negócio para o futuro”, afirma Legey.

Fábrica da linha Piracanjuba Whey, em Bela Vista de Goiás: olhar atento à cadeia produtiva (Piracanjuba/Divulgação)

Piracanjuba: boas relações no campo

No mercado lácteo brasileiro, crescer é um desafio que exige gestão afinada e inovação constante.

A Piracanjuba, com mais de quatro mil funcionários e sete fábricas, é um exemplo claro de como a governança sólida e o relacionamento próximo com produtores podem gerar resultados.

Com 16 postos de resfriamento de leite espalhados pelo país, a empresa mantém sua cadeia produtiva sob controle, garantindo qualidade e eficiência.

Um dos pilares dessa estratégia é o Programa Piracanjuba ProCampo, ativo há 15 anos e responsável por apoiar mais de 9 mil famílias de produtores. Por meio de treinamentos, consultorias e capacitação da mão de obra, o programa reforça o compromisso da companhia com a inovação no campo.

“Essas ações aumentam a produtividade, melhoram a qualidade do leite e reduzem custos, fatores essenciais para a competitividade da cadeia produtiva”, afirma Edney Murillo Secco, diretor de Compra de Leite.

Na estrutura interna, a governança ganhou reforço com a criação de um Conselho Consultivo, nomeação de um presidente dedicado e a formação de comitês focados em riscos, compliance e sustentabilidade.

Um sistema integrado de gestão e planejamento estratégico sustenta decisões que garantem transparência e eficiência.

“Esse conjunto de iniciativas é o que sustenta a integridade da empresa e foi decisivo para o reconhecimento no Programa Empresas com Melhor Gestão, da Deloitte”, diz Edilson Vieira dos Anjos, diretor de Gente e Gestão.

O resultado dessa combinação de inovação, governança e foco na cadeia produtiva se reflete nos números.

Em 2024, a Piracanjuba alcançou faturamento de 10,8 bilhões de reais, com expectativa de crescimento para 11,6 bilhões de reais em 2025, consolidando sua posição como referência no mercado.
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