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O que a indústria da moda pode ensinar sobre inovação

Saiba como empresas de outros setores podem ser tão criativas quanto o mundo da alta costura

Inovação e ousadia: coleção "A costura do invisível", de Jum Nakao, foi feita toda em papel (Fernando Louza/Divulgação)

Inovação e ousadia: coleção "A costura do invisível", de Jum Nakao, foi feita toda em papel (Fernando Louza/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2011 às 19h26.

São Paulo – Até esta quarta-feira (2/2), o prédio da Bienal, em São Paulo, estará tomado pelo tradicional frisson do mundo da moda. Nesta edição da São Paulo Fashion Week, as grifes apresentarão suas coleções de outono-inverno.Lançar tendências e viver da criatividade é rotina para essa indústria, que deve ter movimentado 52 bilhões de dólares no ano passado, ante 47 bilhões em 2009, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit).

Empresas de outros setores podem aprender muito sobre criatividade com o mundo da moda. “São poucas as companhias que têm uma rotina que garante a inovação”, afirma o sócio-fundador da consultoria Pieracciani, Valter Pieracciani. Para ele, é exatamente essa mudança periódica que faz da indústria da moda um exemplo fértil para empresas que, mais do que inovar, querem sair na frente e conquistar um mercado ainda inexplorado. Em entrevista a EXAME.com, ele listou as características do mundo da moda que podem servir de inspiração e citou algumas empresas que já captaram esse espírito inovador.

Nestlé e o desapego a produtos de sucesso

Não importa o quanto uma coleção fez sucesso na última temporada. Ela não servirá para a próxima. Essa disposição para deixar para trás um produto que ganhou a simpatia do público e rendeu muitos lucros para lançar algo novo é uma qualidade que as companhias tradicionais podem aprender com a moda. De acordo com Pieracciani, uma empresa que já demonstrou essa habilidade é a Nestlé.

“Um caso muito forte é o do leite Ninho e o Molico, que antes eram apenas em pó e hoje são líquidos também”, diz. O consultor enfatiza que, para colocar em risco uma marca já consolidada em nome de uma novidade que, a princípio não tem garantias, é preciso ter muita coragem.

Fiat sabe ler e acreditar em tendências

Quando elaborou e lançou o Novo Uno, a Fiat estava fazendo como a indústria da moda: lendo e acreditando nas tendências que identificou. Pieracciani chama a atenção para o fato de que o mundo fashion gasta milhões de dólares comprando relatórios sobre o que estará em alta na próxima estação. A Fiat, com o novo modelo do carro popular, fez praticamente o mesmo: percebeu que havia um mercado jovem, foi buscar novas cores, fugiu do preto e do cinza e inovou no formato. “A indústria tradicional morre de medo disso, ela quer dados e fatos. A indústria vai ter que, cada vez mais, ler as tendências e acreditar nelas”, afirma.

Esse processo envolve, segundo o consultor, o entendimento de como o cliente usa os produtos. “Eu costumo falar para os representantes das empresas que a melhor forma de identificar tendências é prestar atenção nos clientes ‘perversos’, que usam o produto de uma forma diferente. Eles podem estar indicando uma tendência”. Para ilustrar, ele citou o caso de uma empresa de cadeiras que reclamava que algumas pessoas usavam os móveis como suporte de utensílios pesados, como armários. Ao ver esse uso inusitado, eles perceberam que era preciso reforçar a estrutura, para evitar danos ao material.

Delphi é íntima de fornecedores

Tanto na moda quanto na indústria tradicional, os fornecedores devem ser parceiros na hora de inovar. É deles que virão os melhores materiais e até mesmo algumas sugestões para melhorar o projeto que está para ser desenvolvido. O problema é que grande parte das empresas esconde os planos dos fornecedores, com medo de serem vazados para a concorrência.


Um exemplo de empresa que se dá bem com essa parceria é a Delphi, que fabrica peças e acessórios para a indústria automotiva e de tecnologia, como o GPS e até um dispositivo que faz o carro dirigir sozinho. “Nada disso é possível, se você não tiver bons fornecedores de placas, circuitos, cabos de alta performance, com materiais novos, ligas de alumínio, etc. Eles não conseguem fazer um carro que anda sozinho sem ter um fornecedor junto”, afirma Pieracciani.

Apple e a empresa de fios Universal são rápidas no gatilho

A velocidade na produção de inovação é característica imprescindível para quem quer ser lembrado e desejado. A frequência com que a moda precisa se renovar faz com que estilistas estejam sempre com o olhar à frente do que acontece no momento. A Apple é um exemplo claro de rapidez em inovação e consequente fascínio das pessoas por seus produtos. “Os produtos da Apple são objetos de desejo. Hoje, as pessoas colam a maçã, que é a marca da empresa, em computadores da IBM, só para ter a impressão de que têm o computador da Apple”, diz o consultor.

A empresa fabricante de fios Universal Indústrias Gerais também foi rápida na hora de captar uma nova exigência do mercado: a questão da sustentabilidade. Usando resíduos de outros fios, que seriam descartados, a companhia fez uma mistura que resultou em um novo material e lançou moda de forma ecológica. “As roupas feitas com esse fio ficam com uma cara de roupa velha, com umas bolinhas e acaba dando um ar despojado, esporte”, diz.

Pfizer tolera o risco

Se não fosse a abertura para arriscar, talvez a Pfizer nunca teria lançado o Viagra. O efeito colateral inesperado do remédio, que a princípio deveria tratar de angina e hipertensão, foi o estopim para a empresa mudar o rumo das pesquisas e lançar um medicamento contra a impotência sexual. “A forma como uma empresa convive com o erro e o risco é o que diferencia a empresa inovadora da empresa comum”, afirma Pieracciani.

Assim como a moda arrisca e fatura com isso, o consultor recomenda que as empresas parem de exigir a segurança de retorno financeiro imediato de um novo projeto e comecem a se desprender do sucesso obrigatório. “Na empresa inovadora, o erro é visto como aprendizado. Essa é a diferença cultural entre uma e outra”.

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