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O primeiro negócio dele era 100% online — agora, ele combate o vício em telas

Fundador da Webjump investe 1 milhão de reais na EquilibriOn, startup criada por Bruno Gurgel para ensinar empresas e escolas a usar tecnologia de forma saudável

Erick Melo e Bruno Gurgel, da EquilibriOn: "Estamos cercados por telas e perdendo a noção de tempo. Nosso propósito é devolver tempo de qualidade para as pessoas” (EquilibriOn/Divulgação)

Erick Melo e Bruno Gurgel, da EquilibriOn: "Estamos cercados por telas e perdendo a noção de tempo. Nosso propósito é devolver tempo de qualidade para as pessoas” (EquilibriOn/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 14h33.

Nos últimos anos, livros como A Geração Ansiosa, do psicólogo americano Jonathan Haidt, popularizaram um alerta: o uso excessivo de telas está ligado a ansiedade, depressão e queda de produtividade, especialmente entre jovens.

No Brasil, o problema ainda é subestimado — e poucas empresas tratam dele de forma prática.

É nesse cenário que surge a EquilibriOn, criada para ajudar pessoas e empresas a usar tecnologia de forma mais saudável.

A startup paulista acaba de ganhar um impulso: um aporte de 1 milhão de reais de Erick Melo, empreendedor que construiu e vendeu a Webjump, uma das principais empresas brasileiras de tecnologia para e-commerce.

Fundada por Bruno Gurgel, a EquilibriOn atua com treinamentos, consultorias e cursos sobre uso consciente da tecnologia. O objetivo, segundo os sócios, é devolver “tempo de qualidade” às pessoas, reduzindo os impactos de uma vida mediada por telas — como sedentarismo, ansiedade, estresse e isolamento social.

A entrada de Melo marca um ponto de virada. Ele deixou a Webjump dois meses atrás, após cumprir o período pós-venda para a Compass, braço de tecnologia do UOL.

“Antes de investir, precisei desintoxicar. Eu era viciado em telas. Coloquei a máscara primeiro em mim para depois ajudar minha família”, diz o empreendedor.

“Temos uma pandemia que ninguém está vendo. Estamos cercados por telas e perdendo a noção de tempo. Nosso propósito é devolver tempo de qualidade para as pessoas”, afirma Melo.

O investimento será usado para ampliar o portfólio de cursos, acelerar a produção de conteúdos e entrar em mais empresas e escolas. A meta é que o treinamento sobre uso consciente da tecnologia se torne tão comum quanto os cursos anuais de compliance ou segurança do trabalho.

Qual é a história de Erick

Erick Melo começou sua trajetória empreendedora em 2007, criando a Webjump na casa da mãe.

O negócio nasceu com foco em soluções para e-commerce, mas cresceu rápido.

A empresa se tornou parceira da plataforma Magento, usada por grandes varejistas no mundo todo. Após a aquisição da Magento pela Adobe, a Webjump ganhou status “Gold” no programa global de parceiros, sinal de que estava entre as mais qualificadas para projetos de alto nível.

Entre os clientes, passaram marcas como Ambev e Nestlé. “Foram anos intensos, com projetos complexos e muito aprendizado sobre tecnologia e negócios”, afirma Melo.

Em 2021, a Webjump foi adquirida pela Compass, empresa de tecnologia do UOL. A negociação fez barulho no mercado, consolidando a reputação de Melo como um empreendedor capaz de criar e vender uma operação relevante.

Depois da venda, ele permaneceu no grupo como executivo, liderando projetos no Brasil e nos Estados Unidos.

“Foi uma jornada intensa, mas chegou a hora de dedicar minha energia a algo que também tem impacto direto na saúde e no bem-estar”, afirma.

Essa mudança de rota levou à EquilibriOn — e, para Melo, representa a chance de usar sua experiência em tecnologia para resolver um problema que conhece de perto.

E qual é a história da EquilibriOn

Antes de criar a EquilibriOn, Bruno Gurgel viveu de perto o problema que hoje tenta resolver. “Já pesei 196 quilos, tive depressão, burnout e síndrome do pânico. Tudo isso porque eu estava viciado em telas. Eu acordava com o celular e ia dormir com ele”, afirma.

A rotina, segundo ele, era comum a muitos executivos: checar notificações ao acordar, passar o dia diante de múltiplas telas, ir ao banheiro para ver o celular escondido do chefe e chegar em casa exausto. “Eu assistia três episódios de série até de madrugada e acordava sem energia. Isso me adoeceu.”

O ponto de virada veio quando decidiu estudar psicologia para entender o impacto da tecnologia na saúde mental. Sua tese de conclusão de curso investigou os efeitos físicos, mentais e emocionais do uso excessivo de dispositivos digitais.

Em um congresso, apresentou suas conclusões a um público variado — e recebeu um retorno unânime: todos se reconheciam no problema ou conheciam alguém que sofria com ele. “Ali percebi que não precisava trabalhar para alguém. Eu podia criar uma empresa com propósito”, diz.

O encontro com Erick Melo viria depois. O investidor também admite ter enfrentado o vício em telas, embora de forma mais recente.

A convergência das histórias pessoais e da experiência de ambos no setor de tecnologia moldou a proposta da EquilibriOn.

O que faz a EquilibriOn

A EquilibriOn atua com um portfólio que vai de palestras a programas anuais para empresas, escolas e organizações esportivas. Tudo começa pela conscientização.

“Ninguém acorda pensando que está viciado em tecnologia. Então, primeiro mostramos o problema, depois ajudamos a mudar hábitos”, afirma Melo.

As palestras abordam temas como saúde midiática, sono e produtividade. Em seguida, vêm workshops práticos: bloquear notificações, limitar tempo de aplicativos e reorganizar rotinas digitais.

A startup também aplica pesquisas para medir o nível de dependência digital de cada grupo. Com os dados, cria programas sob medida. Em escolas, por exemplo, já treinou professores, pais e alunos de diferentes faixas etárias.

Em um projeto recente com centros de treinamento de futebol, criou um selo de responsabilidade no uso de tecnologia. “Queremos que o cuidado com a saúde digital seja tão natural quanto pedir um atestado médico”, diz Melo.

Para o público em geral, a EquilibriOn oferece cursos online e livros sobre o impacto das telas, sempre em parceria com especialistas de áreas como psicologia e educação.

Quais são os próximos desafios

Para os sócios, a maior barreira não é tecnológica, mas comportamental. “O mundo executivo exige estar online 24 horas, mas o único lugar em que muitos não estão é com a família”, afirma Melo.

Ele lembra que, no ambiente corporativo, a cobrança por presença digital constante é vista como sinal de produtividade — mas isso pode ter efeito contrário. “Se você está sempre reagindo a notificações, perde foco e energia”, diz.

Gurgel complementa: “Não defendemos o abandono das telas. A tecnologia é essencial. O problema é o uso desequilibrado.”

A proposta é inserir a educação midiática digital na rotina das empresas, como já acontece com treinamentos de compliance ou segurança. A meta é que seja uma prática anual e obrigatória.

Melo reforça que o impacto vai além da produtividade. “Relacionamentos de qualidade são o que mais contribuem para a felicidade, e eles não acontecem dentro de uma tela.”

Essa é a aposta da EquilibriOn: que, ao devolver tempo de qualidade às pessoas, também se melhore saúde mental, desempenho e vínculos pessoais.

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