OI: o governo estuda conceder às empresas de telefonia incentivos que podem ir de 40 a 100 bilhões de reais / Germano Lüders
Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2016 às 11h05.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h52.
Ana Paula Ragazzi
Empresas endividadas costumam perder a capacidade de ditar as regras de seu próprio destino. Quem decide como e o quanto receber são os credores. Às empresas – ou a seus advogados ou administradores – cabe a tarefa de embelezar a noiva, cobrir as cicatrizes, e torcer para os credores aceitarem grandes descontos nos pagamentos em troca de parcelas de uma empresa carcomida. Sobreviver já é uma vitória. O caso da operadora de telefonia Oi representa um marco nesta seara. Depois de dar o maior calote do capitalismo brasileiro, de 65 bilhões de reais, a Oi apresentou, na segunda-feira 5, um dos planos de recuperação mais mal recebidos da história. A maior mostra foi dada na terça-feira 6, quando suas ações despencaram 17%.
Credores da Oi ouvidos por EXAME Hoje acreditam que não há nenhuma chance de o plano de recuperação judicial ser aprovado. O plano, preparado pelo conselho, concede aos acionistas a possibilidade de dar um grande desconto no pagamento da dívida e, ainda assim, ficar com a empresa integralmente. Empresas que estão em recuperação judicial precisam atender os interesses dos credores que, até o momento, apurou a EXAME, não foram ouvidos pela empresa.
No plano, a Oi dá duas opções para os credores que não possuem garantias e que representam mais da metade da dívida. A primeira opção se destina basicamente aos bancos, que não costumam aceitar um desconto real elevado e teriam de concordar com o chamado “hair-cut branco”, recebendo juros muito baixos e por um período de muitos anos. A proposta, de acordo com pessoas que acompanham o processo, embute um desconto perto de 50% na dívida e pagamentos em 11 anos, sem a possibilidade de receber ações da empresa como pagamento.
A segunda opção é a que está sendo dirigida aos detentores de títulos de dívida emitidos pela empresa (bondholders), grande parte investidores estrangeiros. Essa proposta prevê um desconto na dívida de 70%, reduzindo o valor dos papéis de 32,3 bilhões de reais para 10 bilhões de reais em títulos que poderão ser convertidos em ações. Mas o detalhe do plano da Oi é que essa conversão só acontecerá se a empresa quiser – a tele incluiu na proposta a prerrogativa de poder recomprar esses papéis em até três anos.
Resumindo: no entendimento de credores, se a empresa se recuperar, conseguir fazer parte da consolidação no setor em até três anos, fará um aumento de capital e recomprará os 10 bilhões de reais emitidos para os bondholders. Mas se nada der certo e as ações virarem pó ou se não houver recursos para a recompra, aí então a companhia entregará aos bondholders 85% da companhia. Ou seja, a diluição aos acionistas só ocorrerá se a recuperação não tiver êxito. Neste caso: terão 85% de um mico sem precedentes.
A Oi entrou com pedido de recuperação judicial no dia 20 de junho. Sua dívida é três vezes e meia maior do que a da empresa de sondas Sete Brasil, que entrou em recuperação judicial neste ano, e cinco vezes e meia maior do que a da OGX, companhia de exploração de petróleo do empresário Eike Batista que tombou em 2013. A queda da Oi é fruto de uma incrível série de desastres de gestão e de uma trágica fusão com a Brasil Telecom, que levaram à bancarrota uma empresa que tinha tudo para ser saudável. O grupo fatura quase 28 bilhões de reais, sua geração de caixa beira os 8 bilhões de reais por ano e cerca de 70 milhões de consumidores pagam por seus serviços.
A avaliação de advogados ouvidos por EXAME Hoje é que o plano foi apresentado apenas para cumprir o prazo de 60 dias corridos exigidos pela lei e a partir de agora deverá ser aperfeiçoado pelas negociações com os credores. Até que se chegue a uma proposta final levada à aprovação em assembleia, esse processo ainda deverá levar meses. Até lá, a empresa deve continuar oferecendo fortes doses de emoção na bolsa.