Nunca precisamos tanto de pessoas que sejam líderes de verdade e possam ser inspiradores, relevantes, motivadores e bons comunicadores, afinal, líder não é aquele que manda, é aquele que inspira (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2022 às 10h03.
Comunicação e liderança são grandes desafios do mundo moderno. Quando venho falar de poder da comunicação do líder, poderia muito bem falar dos tempos atuais de política do Brasil, entre esse ou aquele presidente. E não que os candidatos à presidência não mereçam ser falados sobre comunicação e liderança, mas aí não seria um artigo e sim um livro.
Porém esse não será o contexto abordado aqui nesse artigo. Vou falar de poder da comunicação de líderes nas organizações e acredito que esses dois pilares, comunicação e liderança, são hoje considerados temas de extrema relevância e importância em todo segmento e porte de empresas.
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Nunca tivemos tantos meios e mecanismos para nos comunicar, com quem quer que seja, e nunca o fizemos tão mal, pois a estratégia deu lugar à estética. E nunca precisamos tanto de pessoas que sejam líderes de verdade e possam ser inspiradores, relevantes, motivadores e bons comunicadores, afinal, líder não é aquele que manda, é aquele que inspira. Portanto unir as várias formas de comunicar com as diversas formas de liderar se tornou um desafio para o mundo moderno.
E foi por isso que quando decidi falar sobre esses dois temas, comunicação e liderança, fui ao LinkedIn e fiz uma breve enquete com membros daquela rede. Quis ouvir deles se foram mais inspirados ou oprimidos pelos seus líderes em seus trabalhos. E confesso que o resultado foi surpreendente. Dentre os 107 respondentes, tivemos 39% dizendo que se sentiram mais oprimidos pelos seus líderes.
E por que isso aparece assim? Poderíamos achar vários fatores, mas vi que a comunicação é o fator mais relevante para que isso aconteça. Ou seja, a opressão sufoca a comunicação entre líderes e liderados. Ela gera uma série de fatores, como medo, angústia, ansiedade, enfim, sinais claros que a comunicação não flui bem.
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Por isso cabe aqui a reflexão sobre a frase do publicitário David Ogilvy, em que ele diz que “comunicação não é o que você fala e sim o que o outros entendem”. E será que a comunicação se dá somente com as palavras? Será que a comunicação não está em todos os lugares, como diz Rafael Araujo em seu livro, Tudo Comunica?
E digo isso pois Rafael Araujo traz uma dimensão importante e instigante quando fala para os líderes “saírem de suas bolhas”. Ou seja, dos seus ambientes, andares e salas que os tornam quase inatingíveis e inalcançáveis, distanciando eles dos “seres” normais e com isso deixando de gerar empatia entre líderes e liderados, ou seja, fazendo uma comunicação de afastamento ao invés de aproximação.
Quem também traz uma reflexão muito importante sobre a comunicação interpessoal é Marcio Batitucci, em seu livro, Equipes 100%. Ele fala sobre os canais de comunicação interpessoal que são o visual (visão), o auditivo (audição), o cinestésico (tato, olfato e paladar) e o intuitivo (percepções extra sensoriais) e ressalta a importância de todos eles numa condução para uma comunicação cada vez mais assertiva.
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Inclusive há um teste muito interessante nesse livro que mostra, através da avaliação dos perfis das pessoas, como melhorar a identificação de cada um e obter uma comunicação interpessoal, entre líderes e liderados, de forma mais eficiente.
Com as prerrogativas acima entendo que para estabelecer uma comunicação mais construtiva e inspiradora, entre as lideranças e os liderados, no mundo atual, é importante dar alguns passos em questões que são fundamentais para que isso aconteça.
Seja franco e aberto. A máxima que sempre reinou, na maioria dos lares, é que homem não chora. E também aprendemos que mulher de fibra também não chora. Assim passamos a compreender que não chorar é um fator de insensibilidade e não cabe mais no mundo de hoje.
O fato de achar que um líder tem de ser sempre uma fortaleza, que deve passar sua comunicação sempre de forma totalmente racional e firme, talvez não caiba mais nesse mundo de hoje. Mostre a sua essência e seu jeito de ser na liderança, seja transparente.
Comunique suas virtudes e suas fragilidades. Comunicar e mostrar de fato quem você é, ao seu grupo de liderados, o torna um líder mais humano e é isso que as pessoas querem: lidar com a humanidade de cada um, com aqueles que são abertos e podem, quem sabe, até chorar e demonstrar suas emoções.
Aqui vamos falar de ambientes de trabalho mesmo. O fato de ter salas grandes e vultuosas traz uma distância daqueles que são liderados.
O fato de termos hoje ambientes como os coworking, múltiplo, diverso, compartilhado e envolvente, mostra que as lideranças estão próximas aos seus liderados. Espaços onde as pessoas se sintam confortáveis junto aos líderes cria aproximação e uma forma de comunicação mais ampla e virtuosa.
Portanto crie espaços despojados que possibilitem conversas e reuniões de forma positiva em um ambiente agradável. Tenha certeza que a comunicação do ambiente fala muito pelo modelo de liderança.
Onde mora o medo não existe comunicação. Quando o medo passa a fazer parte da relação entre líderes e liderados saiba que a comunicação vai de mal a pior.
O medo fragiliza as pessoas, as relações, traz sempre o incomodo para os lados. E muitas vezes os líderes não conseguem compreender e perceber que as pessoas têm medo, acham que estão sendo ótimos na relação de trabalho. E de fato não estão.
Por isso é essencial se opor ao medo, ser claro e assertivo. Dizer aos líderes que o medo não pode fazer parte da relação. Se existir medo a comunicação não flui, e se ela não flui, não há liderança inspiradora.
Não é porque você é líder que não precisa ser cordial, aliás, pelo contrário, a cordialidade e o respeito trazem à liderança um fator de respeito muito grande. E aqui acredito muito numa lei da física onde diz que para toda ação existe uma reação igual e contrária.
Ou seja, como determinados líderes querem receber cordialidade se são extremamente rudes com os liderados, ou até mesmo faltam com o respeito durante conversas rotineiras no dia a dia. Ser cordial, dar bom dia, cumprimentar as pessoas, mostrar o respeito que tem por qualquer ser humano sempre terá o retorno na mesma via, com amorosidade e respeito.
Um líder que comunica bem, ouve bem. Existe uma máxima onde diz que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para nos ensinar a ouvir mais do que falar. Contudo isso não é uma realidade em muitos líderes. Eles acham que falar muito, se impor pela palavra e pela oratória, onde não deixa liderados falarem, é uma forma de serem comunicativos, e de fato é o contrário.
Quando se ouve mais do que fala ocorre uma amplitude na forma assertiva de se comunicar, pois não existe espaço para imposições e ilações e sim uma maneira precisa de fazer as colocações na hora certa. Portanto estar sempre de “ouvidos a postos” é melhor do que ter a língua afiada para falar a todo o tempo.
Não pode haver dissonância entre o que se fala e o que se faz. Quando falo da importância desse passo me lembro sempre do Comandante Rolim, fundador da antiga empresa aérea TAM, que passou sua vida nas portas das aeronaves, dentro dos voos, nos saguões dos aeroportos, ou seja, mostrando aos seus liderados que a efetiva comunicação está naquilo que se faz e não somente naquilo que se fala. Se sua empresa era orientada ao cliente era porque ele demonstrava isso.
Portanto, para se obter um processo de comunicação amplo e poderoso, entre liderança e liderados, não é só ter o poder da retórica, ou falar bem, ou simplesmente achar que ser comunicativo é a solução. Existem muitos outros fatores que são tão importantes quanto a comunicação verbal e assim entender que de fato — tudo comunica.
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