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O paulista e o catarinense que vão faturar R$ 250 milhões com churrasco 'tipicamente' gaúcho

Com sete unidades e plano de expansão agressivo, rede fundada por gaúchos e atualmente comandada por um paulista e um catarinense quer disputar o topo do mercado de churrascarias

Edival Spricigo, o Faxa, e Cleber Broch, da D'Bréscia: Estamos comprando mais de 100 toneladas de carne por mês e vendendo 110.000 refeições" (D'Bréscia Churrascaria/Divulgação)

Edival Spricigo, o Faxa, e Cleber Broch, da D'Bréscia: Estamos comprando mais de 100 toneladas de carne por mês e vendendo 110.000 refeições" (D'Bréscia Churrascaria/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de setembro de 2025 às 07h15.

Mesmo sem saber, quem frequenta churrascarias no Brasil provavelmente já foi atendido por um bresciense.

A pequena Nova Bréscia, cidade de 3.000 habitantes no interior do Rio Grande do Sul, ficou conhecida como a “terra do churrasco”. Não à toa.

De lá saíram figuras como Albino Ongaratto, apontado como o criador do rodízio de carnes, e os fundadores de redes como Fogo de Chão. E a prefeitura acredita que mais de 10.000 pessoas que trabalham com rodízio de carnes hoje pelo Brasil vieram ou tem ligação com Nova Bréscia.

Foi essa reputação que ajudou a batizar a D’Brescia, rede criada por gaúchos ligados à tradicional Jardineira Grill, em São Paulo.

A marca nasceu com o peso simbólico da cidade, mas desde 2020 está sob o comando de uma dupla improvável: Cleber Broch, engenheiro civil e paulista, e Edival Spricigo, o Faxa — um catarinense que começou como faxineiro de churrascaria e passou por todos os cargos até virar dono.

A dupla assumiu a rede em plena pandemia, comprando as unidades em dificuldades e mantendo os funcionários mesmo durante a crise.

Agora, aposta em crescimento agressivo, com padrão premium e operação 100% própria.

“Estamos comprando mais de 100 toneladas de carne por mês e vendendo 110.000 refeições. Com esse ritmo, vamos bater os 250 milhões de reais já no ano que vem”, afirma Cleber.

Qual é a história e o crescimento da D'Bréscia

Cleber conheceu Faxa quando ainda era gestor do Mauá Plaza Shopping, em Mauá, e o futuro sócio atuava na operação de um restaurante.

A parceria começou informalmente — e virou negócio quando Faxa, após recuperar uma unidade deficitária, cobrou a promessa feita meses antes: “Se você virar isso, eu viro seu sócio”.

“Por incrível que pareça, ele fez o negócio fechar no positivo e me cobrou. Lembrei que tinha falado que virava sócio se ele conseguisse. Então viramos”, diz Cleber.

A chance de escalar veio com a compra da marca D’Brescia.

Na época, as unidades estavam operando no vermelho e precisavam de investimento.

“Compramos a operação e seguramos durante a pandemia. Não mandamos ninguém embora. Depois disso, começamos a crescer: duas, três casas", diz o empresário.

Hoje, a rede tem sete unidades em funcionamento e três novas a caminho — uma em São Bernardo do Campo, com investimento de 18 milhões de reais, e outras duas na capital paulista, nos bairros da Vila Mariana e do Morumbi, que somam 20 milhões de reais em aportes.

Com o novo ciclo de expansão, a D’Brescia quer ocupar um espaço específico: o do consumidor de renda média e alta que busca uma experiência gastronômica completa — e está disposto a pagar por isso.

O tíquete médio gira em torno de 189 reais por pessoa, e o modelo inclui ainda buffet com frutos do mar, comida japonesa, panificação própria e cortes premium.

A meta é encerrar 2025 com faturamento de 200 milhões de reais e chegar a 250 milhões em 2026.

Quais são os planos de expansão

Com sede em São Paulo, a rede já soma cinco unidades na capital e região metropolitana (Faria Lima, Paraíso, Marginal, Guarulhos e Santo André).

A casa da Faria Lima, inaugurada em 2023, é a vitrine da marca: adega climatizada com 150 rótulos, parrilla, chope , panificação própria e 25 tipos de carne da Marfrig.

Os planos de expansão incluem abrir a décima unidade até o fim de 2026.

O grupo também negocia um ponto na Barra da Tijuca, no Rio, e estuda entrar na Bahia.

Fora do país, Orlando segue no radar, apesar das dificuldades operacionais.

“Já temos escritório jurídico no Brasil cuidando disso. Quando as regras facilitarem, vamos abrir em Orlando. O problema é mão de obra. Teríamos que levar 15 ou 20 pessoas daqui para montar a primeira”, diz Cleber.

Operação enxuta, controle total

Um dos diferenciais da D’Brescia, segundo os sócios, é o modelo 100% próprio. Não há franqueados nem sócios-investidores.

“Todo mundo procura a gente para montar sociedade, mas não abrimos. Quando tiver umas 20 casas, talvez a gente pense em abrir capital ou buscar outro formato. Por enquanto, é tudo nosso”, afirma Cleber.

A estrutura direta permite decisões mais ágeis e maior controle sobre padrão de atendimento e qualidade dos insumos.

A empresa, por exemplo, é um dos maiores compradores da Marfrig — e, segundo Cleber, virou vitrine da marca.

“O produto que chega pra gente vem perfeito. A Marfrig apresenta primeiro aqui. Somos o cartão de visita deles”, diz.

Desafios: mão de obra e concorrência forte

Apesar da alta demanda, a maior dor de cabeça não está nas vendas, mas na operação.

“A parte da cozinha vai. Mas montar um time bom de churrasqueiros é difícil. É uma mão de obra escassa. Só perdemos para o Fogo de Chão em benefícios para o funcionário. Fora isso, entregamos tudo o que os grandes oferecem”, diz Cleber.

A concorrência direta inclui nomes consolidados como Barbacoa, Fogo de Chão e o próprio Jardineira Grill.

O posicionamento da D’Brescia tenta ocupar justamente o espaço entre o tradicional e o novo: carnes premium, atendimento próximo e ambiente sofisticado, mas sem os vícios das casas mais antigas.

“Tem espaço. São Paulo é muito grande. E depois da pandemia, as pessoas começaram a buscar novas experiências”, afirma o empresário.

Consumo de carne em alta — e exportação de conceito

A aposta no rodízio não mira apenas o cliente tradicional.

A empresa vê potencial no turista e no público estrangeiro.

“Muito gringo vem na D’Bréscia. Churrascaria norte-americana não chega nem perto das nossas. Nem 50%”, diz Cleber.

Apesar disso, o sócio diz que o modelo brasileiro ainda sofre com burocracia e barreiras de entrada fora do país.

“Na pandemia, paramos os planos. Com o Trump, tudo ficou mais difícil, porque teríamos que levar vários brasileiros para lá. Mas estamos retomando agora.”

Se depender desses paulistas, o churrasco gaúcho ainda vai muito longe.

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