Roberto Justus: "A SteelCorp é resultado de uma visão clara sobre o futuro da construção, onde o aço e a industrialização são o caminho" (Divulgação/Divulgação)
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 15h19.
Última atualização em 16 de setembro de 2025 às 13h59.
Método construtivo já bem estabelecido em países europeus e nos Estados Unidos, o steel frame, estrutura leve de aço galvanizado, começa a ganhar força também no Brasil.
A tecnologia permite fabricar paredes, lajes e telhados em ambiente industrial, com montagem rápida no terreno, menor desperdício e mais controle de prazo e custo. Quase como se estivesse encaixando Legos.
Na prática, é a industrialização da construção civil.
Casas inteiras são produzidas como peças de um kit. Em vez de tijolos, cimento e meses de obra, as estruturas chegam prontas para encaixe, como em um jogo de montar.
O modelo, ainda minoritário no mercado brasileiro, tem atraído incorporadoras e governos interessados em soluções rápidas e escaláveis — e está no centro da nova estratégia de negócios de Roberto Justus.
Apostando nesse mercado, Justus acaba de inaugurar uma nova fábrica da SteelCorp, em Cajamar, na Grande São Paulo.
Com 16.000 metros quadrados, linhas de produção automatizadas e capacidade para até 10.000 casas por ano, a planta triplica a produção da empresa e marca a entrada da construção modular em uma nova escala de operação no país.
A cerimônia de inauguração também marcou o lançamento da Villa Steel, um showroom com modelos de casas montadas em tamanho real.
A empresa projeta alcançar 1 bilhão de reais em faturamento até 2026 e já prepara novos projetos no Brasil e no exterior.
“Estamos muito animados com esse projeto inovador, que é um verdadeiro marco na construção industrializada”, afirmou Justus no evento. “Isso aqui consolida um sonho que começou há dois anos.”
Além da unidade em São Paulo, a SteelCorp opera uma fábrica em Aparecida de Goiânia e outra na Flórida, nos Estados Unidos.
A empresa também criou uma securitizadora, a SteelBank, para financiar projetos, e uma escola técnica, a SteelAcademy, para formar profissionais especializados nesse novo modelo construtivo.
A SteelCorp fabrica os componentes das casas dentro da fábrica, usando perfis de aço galvanizado cortados e montados em linhas automatizadas. As estruturas são projetadas para encaixe direto no terreno, com mínima intervenção no canteiro de obras. O sistema reduz o prazo de entrega em até 60%, segundo a empresa.
“Se alguém me pedir para construir uma casa isolada, eu não faço. Mas se forem 500 casas, aí sim. Nosso negócio é a escala”, afirmou Justus em entrevista anterior à EXAME.
Com a nova planta em operação, a SteelCorp estima alcançar uma produção de até 8.000 toneladas de aço por ano, com capacidade de montagem de até 10 casas por dia.
A tecnologia também reduz o desperdício de materiais: enquanto uma obra tradicional pode descartar até 30% dos insumos, no modelo modular esse índice fica abaixo de 5%.
Fundada em 2023, a SteelCorp nasceu a partir da compra da TecnoFrame, uma fábrica especializada em estruturas metálicas. Desde então, estruturou um ecossistema completo de construção modular, que vai do projeto à entrega da casa pronta.
O crescimento tem sido acelerado.
A empresa faturou 23 milhões de reais em 2023. Em 2024, fechou na casa dos 200 milhões de reais.
A meta de 1 bilhão de reais até 2026 será impulsionada pelos novos contratos e pela produção em alta escala com as novas unidades.
Nos Estados Unidos, onde abriu uma fábrica na Flórida, a SteelCorp já tem contrato para entregar 1.500 casas modulares em 2025.
A SteelCorp teve como sócia, desde o início, a Reag Investimentos, gestora que detinha 30% da empresa. Em agosto, a Reag foi alvo da Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, que investigou fraudes bilionárias no setor de combustíveis e lavagem de dinheiro, com envolvimento de membros da facção criminosa PCC.
Após a operação, a Reag passou a se desfazer de diversos ativos, incluindo sua participação na SteelCorp.
A SteelCorp enfrenta desafios para consolidar o modelo industrializado no Brasil. O setor da construção ainda é dominado por empresas que operam com métodos tradicionais, e a mudança de mentalidade leva tempo.
"O mercado ainda tem resistência, mas isso é normal. No início, as pessoas não acreditam, depois testam, e por fim adotam como padrão", afirma Justus.
Empresas como MRV e Tenda começaram a testar o sistema modular, mas ainda em escala reduzida. Concorrentes como Tech Verde, Alea e Brasil ao Cubo também disputam esse mercado, cada uma com sua abordagem.
"A construção modular não é moda. É um caminho sem volta. Quem entender isso antes vai dominar o setor", diz Justus.
A inauguração da fábrica reuniu cerca de 600 convidados entre investidores, autoridades e parceiros. Carrinhos de golfe conduziram os visitantes por um tour pelas etapas de produção — da moldagem das peças ao acabamento final.
O evento também apresentou ao público o Villa Steel, showroom onde a empresa exibe diferentes modelos de moradia, incluindo projetos populares usados na reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes.
O espaço ainda contará com uma casa-laboratório para testes de materiais e inovações técnicas.
A noite foi encerrada com banda de jazz e DJ, em clima de celebração. Mas, nos bastidores, a SteelCorp mira um desafio mais complexo: mudar a lógica da construção no Brasil.
“Estamos formando do zero a nova geração de profissionais da construção. Sem mão de obra qualificada, o setor não avança”, afirmou Justus.