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“O mercado brasileiro retrocedeu 50 anos”, diz presidente da Fiat Chrysler

Em entrevista à EXAME, Antonio Filosa afirma que o grupo está acelerando a digitalização das vendas diante do novo coronavírus

Antonio Filosa, presidente da FCA América Latina: "Voltaremos melhores a um novo normal" (Leo Lara/FCA/Divulgação)

Antonio Filosa, presidente da FCA América Latina: "Voltaremos melhores a um novo normal" (Leo Lara/FCA/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 28 de abril de 2020 às 06h00.

Última atualização em 28 de abril de 2020 às 23h44.

A crise desencadeada pelo novo coronavírus levou o setor automotivo a amargar uma queda de quase 90% das vendas em abril, na média diária, colocando cerca de 7.000 empresas da cadeia produtiva brasileira em estado crítico. Para o italiano Antonio Filosa, presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na América Latina, o problema é grave e generalizado.

“Em mais de 20 anos trabalhando nessa indústria, nunca vi uma crise dessa magnitude. O mercado brasileiro de veículos retrocedeu 50 anos”, disse o executivo em entrevista à EXAME.

De acordo com Filosa, a média diária de vendas de veículos em abril deste ano, de aproximadamente 2.300 unidades, só foi registrada no início da década de 1970.

Os poucos volumes de vendas do mercado brasileiro estão mais concentrados no varejo, afirma o executivo, com um crescimento da abordagem do consumidor no ambiente online. Atualmente, a Jeep é líder absoluta em SUVs com o Renegade e o Compass e a Fiat tem participação expressiva em compactos, picapes e comerciais leves.

“Essa crise vai ampliar a nossa habilidade de interagir com os clientes através de plataformas digitais.” O executivo afirma que a FCA foi o primeiro grupo automotivo a lançar concessionárias digitais no país e que tanto a rede Fiat quanto a Jeep estão trabalhando de forma mais ativa nesse formato.

Cadeia complexa

A covid-19 é nova, mas o problema de fôlego financeiro de uma parte da cadeia automotiva brasileira não é. Embora a pandemia tenha atingido em cheio todas as empresas do setor, os fornecedores de pequeno e médio porte devem sofrer de maneira mais intensa, como já aconteceu em outras crises econômicas.

“A situação de caixa de toda a indústria está bastante comprometida. O problema é generalizado, mas é claro que existem empresas mais vulneráveis”, afirma Filosa.

Para ele, as medidas de flexibilização do trabalho anunciadas pelo governo no mês passado, por meio da Medida Provisória 936, foram importantes para garantir que a mão de obra seja preservada. No entanto, ele acredita que o setor precisa urgentemente de linhas de crédito para garantir a sobrevivência das empresas.

“Estamos falando de ferramentas que permitam a 7.000 empresas da cadeia de valor um fôlego de caixa durante essa crise. Empregamos mais de 1,2 milhão de pessoas, direta e indiretamente.”

Outro elo que deve ser fortemente impactado nessa crise é o das concessionárias, que demandam um altíssimo capital de giro para se manter em funcionamento. 

“Estamos oferecendo suporte aos nossos concessionários e analisando, caso a caso, os problemas enfrentados nessa crise. Sabemos que a transição para um modelo de comércio de veículos mais digitalizado demandará uma rede forte no futuro, eles continuarão protagonistas nas vendas”, diz Filosa.

Algumas lojas das redes Fiat e Jeep continuam abertas, mas em caso de vendas online, o consumidor receberá o veículo devidamente higienizado ou ele poderá retirá-lo em alguma das concessionárias, que estão operando com esquema especial para garantir a segurança do funcionário e do cliente, garante o presidente da FCA.

Planejamento

As fábricas da Fiat em Betim, Minas Gerais, e da Jeep, em Goiana, Pernambuco, estão paralisadas temporariamente e devem voltar a operar ao longo de maio, em etapas.

Para ter certeza de que todos os protocolos de desinfecção e de distanciamento mínimo entre as pessoas sejam garantidos, Filosa fará o roteiro típico de um funcionário: o acesso à fábrica com controle de temperatura corporal; inspecionará o espaçamento e desinfecção das estações de trabalho; avaliará o reordenamento dos restaurantes, as regras para uso dos sanitários e vestiários, o uso de máscaras de proteção, entre outros itens.

“Queremos o ambiente de trabalho mais seguro possível para o retorno às atividades.”

Enquanto isso, a FCA acumula medidas para auxiliar no combate ao coronavírus. O grupo converteu suas impressoras 3D para fabricar máscaras especiais usadas por profissionais da saúde (do tipo face shield); está ajudando produtores locais de respiradores a elevar a produtivade; doou ambulâncias; construiu e entregou hospitais de campanha em Betim e Goiana. 

“Essas e muitas outras ideias têm sido levantadas pelos próprios funcionários, em um desafio que lancei para ajudar no combate à covid-19”, diz Filosa.

Para ele, as novas formas de trabalho, como o home office, vieram para ficar, e a mudança de comportamento do consumidor também representa uma transformação importante. 

“Teremos que entender e nos adaptar a esses novos hábitos de consumo. Algumas mudanças serão aceleradas e a digitalização é uma delas.”

A FCA precisou adiar para 2025 a conclusão do seu programa de investimentos de cerca de 16 bilhões de reais, inicialmente previsto para ser concluído em 2024. Além disso, alguns lançamentos também foram postergados, como o da picape Strada, que seria lançada neste mês e deve ficar só para o segundo semestre.

“Os dois híbridos da Jeep e o elétrico da Fiat também podem ficar somente para o ano que vem”, revela Filosa.

Num cenário em que projetos de montadoras estão sendo adiados por conta da pandemia do coronavírus, o executivo destaca que a fusão da FCA com a PSA Peugeot Citroën está caminhando na "direção correta", embora não possa conceder detalhes por se tratar de um assunto da matriz. 

“O importante é que tudo isso vai passar. Não sabemos quando, mas temos certeza que nós, como FCA, vamos voltar melhores para uma nova normalidade.” 

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