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O mais gaúcho dos guaranás: Fruki triplica receita, investe R$ 200 milhões e chega ao R$ 1 bilhão

Novo investimento leva a R$ 400 milhões o total aportado na planta de Paverama, que dobrou a capacidade da empresa em dois anos

Aline Eggers, presidente da Fruki: “Se oferecemos diversas bebidas, entrega na data, com qualidade e preço combinado, a relação se fortalece e as vendas crescem”  (Adriana Sbaraini/Divulgação)

Aline Eggers, presidente da Fruki: “Se oferecemos diversas bebidas, entrega na data, com qualidade e preço combinado, a relação se fortalece e as vendas crescem” (Adriana Sbaraini/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 1 de setembro de 2025 às 11h37.

Peça um guaraná em qualquer restaurante do interior do Rio Grande do Sul e dificilmente virá algo da Coca-Cola ou da Ambev.

O mais provável é que aterrisse na mesa uma garrafa verde, muitas vezes de vidro, com o rótulo da Fruki — marca símbolo da identidade gaúcha no setor de bebidas. Tanto que, por lá, “guaraná” e “Fruki” viraram quase sinônimos.

Mas o que nasceu como um refrigerante regional, apoiado no orgulho local e na distribuição própria, virou um grupo com ambições bem maiores.

Nos últimos cinco anos, a receita da Fruki praticamente triplicou, impulsionada pela diversificação de portfólio, crescimento em Santa Catarina e uma logística própria robusta.

A companhia prevê atingir 1 bilhão de reais em receita até o fim de 2025 — um marco para uma operação que há duas décadas era tocada por pouco mais de 200 funcionários.

A mais nova etapa desse crescimento é um investimento de 100 milhões de reais, anunciado com exclusividade à EXAME.

O valor será aplicado na terceira linha de produção da planta de Paverama, cidade a 20 minutos da sede da companhia, em Lajeado.

O projeto amplia a capacidade da nova unidade e fecha um ciclo de três aportes consecutivos — somando 400 milhões de reais em dois anos.

Quais são os planos de expansão da Fruki

O projeto da fábrica de Paverama ficou engavetado por anos.

Desenhada em 2016, a planta só saiu do papel durante a pandemia, quando a fábrica original de Lajeado passou a operar perto do limite, principalmente nos meses mais quentes.

O alerta veio depois de dois verões seguidos com dificuldade de atender a demanda. “Ficamos dois verões trabalhando no limite”, afirma Júlio Nascimento, diretor de operações.

Com investimento inicial de 200 milhões de reais, a nova planta foi inaugurada no fim de 2023, adicionando 200 milhões de litros por ano à capacidade de produção.

Era para ser o suficiente por algum tempo — mas não foi.

As vendas superaram as estimativas internas e, menos de um ano depois, a Fruki antecipou a instalação da segunda linha de produção. Mais 100 milhões de reais foram injetados, e a nova estrutura ficou pronta agora, em agosto de 2025.

Agora, a empresa está colocando em marcha a terceira fase de expansão da unidade. Com mais 100 milhões de reais, a nova linha dobrará a capacidade atual da fábrica e transformará Paverama em um polo tão relevante quanto a unidade de Lajeado.

A previsão é que a nova linha entre em operação até o fim do ano.

Além de ampliar a capacidade, a estrutura moderna da fábrica permite à Fruki operar com mais eficiência e com menor custo por litro produzido.

Isso abre caminho para uma estratégia de entrada em novos mercados e até para a terceirização de produção, outro filão em crescimento no setor.

Com mais tecnologia, certificações e flexibilidade operacional, a fábrica virou o principal trunfo da empresa para manter o crescimento acelerado sem perder controle sobre qualidade e prazos.

Júlio Nascimento e Júlio Eggers, diretor de operações e de marketing da Fruki: nova fábrica recebeu investimento de 300 milhões de reais (Leandro Fonseca /Exame)

Como infraestrutura e logística ajudam a Fruki a crescer

O investimento em estrutura própria rendeu frutos além do esperado.

Em maio de 2024, quando o Rio Grande do Sul foi atingido pelas maiores enchentes da história recente, a logística de boa parte das indústrias gaúchas entrou em colapso. No caso da Fruki, a ponte entre Lajeado e Estrela — principal ligação da região — foi interditada. O estado ficou, na prática, dividido ao meio.

A fábrica de Paverama, inaugurada meses antes, foi o que manteve a empresa em operação plena.

De um lado, a planta de Lajeado atendeu os clientes da região oeste; de outro, Paverama garantiu o abastecimento no leste do estado. “A planta de Paverama foi a nossa salvação”, afirma Júlio Eggers, diretor de marketing da empresa.

Enquanto isso, a maior concorrente da Fruki enfrentava problemas maiores. A fábrica da Coca-Cola Femsa, em Porto Alegre, foi alagada e teve as operações interrompidas por tempo indeterminado. A produção plena só deve ser retomada em meados de 2025 — o que abriu espaço nas gôndolas para marcas locais e regionais como a Fruki.

Com logística própria, estoque disponível e produção ativa nas duas pontas do estado, a empresa gaúcha conseguiu manter sua presença no varejo. Em algumas regiões, substituiu a Coca-Cola como fornecedora principal, ampliando seu relacionamento com supermercados, bares e restaurantes.

Fruki cresce com água mineral e bebidas sem açúcar, mas sem abandonar o refrigerante tradicional

O crescimento da Fruki nos últimos anos também tem relação direta com a diversificação do portfólio. A empresa, que por décadas viveu do refrigerante de guaraná, hoje já envasa mais água mineral do que refrigerante. A marca Água da Pedra se tornou um dos principais ativos do grupo, com versões tradicionais e saborizadas.

Nos últimos anos, a empresa lançou a linha de águas com aromas naturais, vendidas em latas. Sabores como limão, frutas vermelhas e bergamota ampliaram o alcance da marca, especialmente entre consumidores que buscam opções mais leves. “A água saborizada atrai quem já não queria tomar refrigerante e buscava uma alternativa mais leve”, diz Aline Eggers.

Hoje me dia, a Fruki já não é mais uma marca exclusiva do Rio Grande do Sul. Desde 2017, a empresa atua em Santa Catarina, estado que hoje representa 30% da receita total. A entrada foi feita com cuidado, por meio da mesma estrutura de distribuição, e funcionou.

Mas entrar em mercados maiores, como São Paulo ou Minas Gerais, é outro jogo. Para isso, a Fruki precisaria de fábricas regionais, já que transportar garrafas por longas distâncias encarece a operação e reduz a competitividade. O modelo atual de negócio — regional, verticalizado e logístico — é difícil de replicar em larga escala sem presença local.

“Somos cautelosos. Estamos otimistas com o que estamos construindo, mas tudo vai acontecer no momento certo”, afirma Aline.

Leia a reportagem completa na edição de agosto da revista Exame. 

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