Elon Musk: de queridinho do mercado a destemperado do Twitter, bilionário vive dias difíceis (Danny Moloshok/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 24 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 24 de julho de 2018 às 07h35.
São Paulo – O bilionário dono da Tesla e da SpaceX Elon Musk definitivamente não está em seu melhor momento e começa a ver seu comportamento atrapalhar os negócios.
O CEO protagonizou recentemente uma polêmica um tanto absurda na internet: pelo Twitter, ele chamou um socorrista britânico envolvido no resgate dos 12 meninos na Tailândia de pedófilo.
Alguns dias depois Musk se desculpou e apagou as mensagens, mas o estrago já estava feito – as ações da Tesla caíram, o que chegou a reduzir o valor da companhia em quase 2 bilhões de dólares. Os investidores acenderam o sinal amarelo a respeito do empresário, que tem uma fortuna avaliada em 20 bilhões de dólares.
Para analistas do mercado, o destempero de Musk pode terminar afetando seriamente suas empresas. Em carta publicada na semana passada, o analista da Loup Ventures Gene Munster, um entusiasta dos projetos de Musk, alerta que, para ter sucesso, a Tesla precisa de acesso a capital, o que pode se tornar complicado se o comportamento de Musk ficar no caminho.
“Nos últimos seis meses, tivemos muitos exemplos de comportamento preocupante, o que está abalando a confiança do investidor”, escreveu Munster, para quem a celeuma envolvendo o socorrista britânico Vern Unsworth foi além dos limites. O analista faz algumas sugestões para Musk, dentre elas tirar um sabático do Twitter.
Já o investidor Mark Spiegel é mais duro na análise. Para ele, os recentes tweets do empresário mostram aos fãs do bilionário a sua verdadeira personalidade. Sipegel lembra que a Tesla é uma empresa cheia de dívidas e com problemas para atingir suas próprias metas.
“É tudo baseado em torno dessa fanática base de fãs de Elon Musk. Uma vez que a base de fãs começa a ver que tipo de pessoa está adorando, tudo mudará num piscar de olhos”, disse à Associated Press.
O pé atrás dos investidores, no entanto, é anterior ao recente bate-boca virtual. Em maio, Musk desprezou analistas em uma teleconferência para discutir os resultados trimestrais de sua companhia, e classificou suas perguntas como “chatas e idiotas” – depois ele se retratou.
Pressionado pelas dificuldades em transformar a Tesla numa empresa lucrativa, o bilionário passou também a criticar a imprensa, o que levou um colunista do New York Times a apelidar Musk de “Donald Trump do Vale do Silício”.
“Ele é propenso a erupções desequilibradas no Twitter. Ele não consegue lidar com críticas. Ele repreende a mídia por sua suposta desonestidade e ameaça criar um aparelho semelhante ao soviético para vigiá-la. Ele leva as pessoas a investirem dinheiro em promessas que não cumpre. Ele é um bilionário cujo negócio flerta com a falência. Sua legião de devotos é fanática e, vamos encarar, um pouco estúpida. Falo do executivo-chefe da Tesla, Elon Musk, o Donald Trump do Vale do Silício”, escreveu o colunista Bret Stephens.
No início do mês, a Tesla anunciou que finalmente conseguiu atingir sua meta de produzir 5 mil veículos Model 3 por semana, marca imprescindível para que a companhia gere resultados. Seria bom se Musk não estragasse a boa notícia.