Quando Rupert Murdoch herdou o jornal The News, em Adelaide, em 1952, ele começou a construir um império midiático que hoje está entre os maiores do mundo.
Rupert Murdoch, em 1978: magnata tinha adquirido New York Post há dois anos (Bettmann / Colaborador/Getty Images)
Publicado em 3 de junho de 2025 às 09h40.
Última atualização em 3 de junho de 2025 às 11h33.
Nas décadas seguintes, Murdoch expandiu suas operações por meio da compra de jornais na Austrália e Nova Zelândia. Em 1969, avançou para o mercado do Reino Unido ao adquirir os tabloides News of the World e The Sun. Sua estratégia combinava a aquisição de veículos subvalorizados com o uso de tecnologias emergentes e influência política para ampliar o alcance e os lucros.
Nos Estados Unidos, a expansão acelerou quando Murdoch adquiriu o New York Post em 1976 e, em 1985, a 20th Century Fox. Também criou a rede Fox Broadcasting Company após obter a cidadania americana, requisito legal para operar emissoras de TV no país.
Nas décadas de 1980 e 1990, o império incorporou ativos como a editora HarperCollins, o jornal Wall Street Journal e a emissora BSkyB, além de investir em satélite e mídia digital, consolidando um portfólio diversificado que abrangia imprensa, televisão e cinema.
Para financiar essa expansão, Murdoch usou os lucros reinvestidos dos veículos adquiridos, endividamento estratégico — incluindo um empréstimo de US$ 7 bilhões nos anos 1980 para a Sky TV — e a venda de ativos para controlar os níveis de dívida. Suas apostas na televisão e na mídia digital anteciparam a queda do jornalismo impresso, garantindo múltiplas fontes de receita e uma influência global crescente.
Recentemente, a Fox Corporation apresentou crescimento sólido, com receita total de quase US$ 15 bilhões. O segmento de televisão, que inclui canais populares como a Fox News, teve um salto de 13% no faturamento, enquanto o setor de TV a cabo também contribuiu com uma fatia significativa, mostrando a força contínua dessas áreas para o grupo.
Hoje, apesar da intensa disputa bilionária entre os herdeiros, o império dos Murdoch apresenta resultados surpreendentes.
O fundador de 94 anos tentou, sem sucesso, impedir que três de seus filhos compartilhassem o controle do grupo Fox Corporation e da News Corp. A Justiça americana rejeitou sua tentativa de garantir a liderança exclusiva ao filho mais velho, Lachlan, mas o patriarca pode recorrer, reacendendo o conflito sucessório.
Mesmo atuando em setores considerados em declínio, como TV linear e jornalismo impresso, Fox e News Corp mostram resiliência e expansão pontual. A Fox, avaliada em US$ 24 bilhões, foca hoje em notícias e esportes, dois formatos que mantêm relevância na TV tradicional.
Após a venda dos ativos de entretenimento geral para a Disney em 2019 por US$ 71 bilhões, a Fox viu seu desempenho crescer.
Além disso, a Fox News registrou o trimestre de maior audiência da história dos canais de notícias a cabo nos EUA, beneficiada pelo ambiente político polarizado e pelo retorno de Donald Trump à Presidência, que atraiu grandes anunciantes como Amazon, Netflix e GE. As receitas com afiliadas passaram de US$ 5,9 bilhões em 2020 para US$ 7,3 bilhões em 2023.
Fora da competição direta com os gigantes do streaming, que investem bilhões, a Fox apostou em soluções mais econômicas e eficientes. Em 2020, adquiriu a plataforma gratuita Tubi, que já ultrapassou concorrentes como Pluto e deve faturar mais de US$ 1 bilhão neste ano. Em fevereiro, o Super Bowl transmitido pela Tubi atraiu 8 milhões de novos usuários, dos quais 40% têm menos de 34 anos, segundo a The Economist.
O próximo passo da Fox será o lançamento do Fox One, plataforma digital que reunirá todo o conteúdo linear da empresa, previsto para setembro, antes da nova temporada da NFL. Sem o peso de um catálogo vasto de canais tradicionais para proteger, a Fox pode avançar mais rapidamente no streaming.
Já a News Corp destaca-se por outros motivos. Apesar do declínio da mídia impressa e da migração de anúncios para gigantes digitais como Google e Meta, suas ações subiram quase 50% em dois anos. O destaque vai para o Dow Jones, responsável pelo Wall Street Journal, que cresceu 40% em receita desde 2020, focando em assinaturas e fornecimento de dados corporativos.
A editora HarperCollins contribui para o bom desempenho da News Corp com o crescimento dos audiolivros. O maior ativo da empresa, no entanto, é sua participação de 61% na australiana REA Group, plataforma imobiliária avaliada em mais de US$ 20 bilhões — mais que o valor total da News Corp.
Segundo o banco Citi, o desempenho da REA influencia diretamente o preço das ações da News Corp, reforçando sua importância para investidores.
A sucessão permanece o maior ponto de tensão. Lachlan Murdoch é hoje CEO da Fox e presidente da News Corp, mas enfrenta resistência dos irmãos Prudence, Elisabeth e James, que podem derrubá-lo após a morte do patriarca. Se isso ocorrer, aumenta a chance de cisão ou venda das empresas, cenário bem recebido por parte do mercado.
Para os investidores, o desempenho recente das empresas Murdoch reflete tanto a habilidade do fundador em conduzir o império quanto a expectativa de que sua saída traga mudanças estratégicas relevantes.
A série da HBO Succession é inspirada, ainda que de forma ficcionalizada, na trajetória da família Murdoch, refletindo paralelos claros na dinâmica dos personagens, conflitos familiares e nas disputas pelo poder dentro do império midiático.
O patriarca da série, Logan Roy, é visto como contraparte fictícia de Rupert Murdoch. Ambos são magnatas da mídia envelhecidos, com impérios que abrangem televisão, cinema, publicações e plataformas digitais.
Assim como os Roy, os Murdoch têm vários filhos de diferentes casamentos, que disputam controle e influência na empresa familiar. Lachlan, James, Elisabeth e Prudence Murdoch espelham as complexas relações e rivalidades dos personagens, incluindo favoritismo, conflitos e visões divergentes para o futuro do grupo.
Succession: série é baseada nos Murdoch
A luta pela sucessão na série dramatiza uma competição brutal, semelhante às batalhas legais e familiares reais em torno do controle do Murdoch Family Trust e da liderança da News Corp e Fox Corporation. Personagens como Kendall Roy são comparados a Lachlan Murdoch, enquanto Roman Roy se assemelha a James, e Shiv Roy apresenta traços da Elisabeth.
O criador Jesse Armstrong revelou que a inspiração inicial para Succession veio do universo dos Murdoch, mesmo que a série inclua elementos de outras dinastias midiáticas. E o império continua.