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O franco-carioca que fez Lisboa entrar na moda

Roman Carel fez fortuna com internet em seu país de origem e apresentou a capital portuguesa aos jovens empreendedores descolados

ROMAN CARREL: seus clientes injetaram 140 milhões de euros em imóveis no Velho Mundo (Andre Valentim/Divulgação)

ROMAN CARREL: seus clientes injetaram 140 milhões de euros em imóveis no Velho Mundo (Andre Valentim/Divulgação)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 30 de janeiro de 2018 às 15h44.

A recuperação de Portugal, quebrado até pouco tempo, virou até tema de painel no Fórum Econômico Mundial de Davos semana passada. Pois se o país dos patrícios está na moda, sua capital, Lisboa, está na crista da onda. A cidade foi eleita por várias publicações a melhor do mundo para trabalhar, para empreender, para passear, para viver, para se aposentar – e até para “escapadelas”. Essa boa fase tem feito do mercado imobiliário de Lisboa uma dos mais quentes da Europa, procurado sobretudo por chineses e brasileiros.

O movimento imobiliário lisboeta tem um líder: Roman Carel, 40 anos, empresário francês radicado há cinco anos no Rio de Janeiro. Carel mora com a mulher sueca e três filhos nascidos no Brasil na casa onde viveu Elis Regina e não seguiu a linhagem de sua família na Maison Carel (renomada marca parisiense de sapatos), e preferiu apostar no mercado imobiliário internacional.

À frente da Athena Advisers, consultora especializada em propriedades nos Alpes Franceses, Côte d’Azur, Paris, Londres, Barcelona e Lisboa, o empresário foi um dos principais responsáveis pelo súbito interesse nacional em investir na capital portuguesa. Em 15 anos de história, a serem comemorados em 2018, a agência já está em pé de igualdade com as tradicionalíssimas do setor, como Christie’s, Sotheby’s, Fine & Country e Barns International.

De acordo com estudos feitos por sua assessoria, o metro quadrado em Lisboa é o mais acessível da Europa e teve expressiva valorização de 30% quando comparado aos 15% de Miami, antes opção número 1 dos brasileiros para investimento durante o boom imobiliário americano entre 2010 e 2014, quando muitos adquiram casas e apartamentos de até 500.000 dólares.

Em 2016, seus clientes injetaram 140 milhões de euros em imóveis no Velho Mundo, metade do valor só em Portugal, onde a partir de 500.000 euros o investidor obtém o Golden Visa, o programa de residência temporária que ao fim de cinco anos dá direito definitivo à cidadania europeia. O “visto dourado” permite ao investidor e a sua família (marido ou mulher, filhos e dependentes financeiros) as mesmas benesses de um português nato, como acesso ao sistema público de saúde e à educação, por exemplo.

O êxodo ganhou tanta força que pela primeira vez, os brasileiros lideram em números percentuais o ranking de concessões do Golden Visa. De março de 2016 a outubro de 2017, houve um acréscimo de 222.14%, ou seja, de 140 a 451 requerimentos ao SEF, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Em números absolutos, a China segue disparada na primeira posição, com 3544 vistos emitidos, embora com acréscimo de 44.24% nos últimos 18 meses.

Engana-se quem pensa que Lisboa é um lugar para aposentados. Roman garante que a cidade também vem conquistando jovens recém-casados e ainda sem filhos. “Alguns bairros foram completamente modernizados e os brasileiros têm se rendido à hospitalidade local. A procura continua enorme, Lisboa nunca esteve tão jovem, cosmopolita e cheia de vida”, diz. Segundo Carel, o perfil do investidor mudou. São jovens, casados e sem filhos, que escolheram viver em Lisboa passado o hype hipster “triple B” mundial: Berlim, Brooklyn e Barcelona. Escolheram as cidades com a tal da “second city syndrome” – Lisboa, Porto, Bolonha, por exemplo – onde a vida corre mais devagar e com mais qualidade para fincar os pés e, quem sabe, constituir família.

Eles compram imóveis a preços realistas e com o que ganham dos hóspedes em aluguéis de curto prazo conseguem o valor suficiente para poder investir em novos negócios. E Lisboa tornou-se o eldorado dessa turma: há espaço de sobra para criar e morar, os velhos galpões e edifícios da cidade hoje são escritórios de coworking e start-ups pipocam por todos os cantos.

De Paris ao Rio

Roman Carel nasceu e foi criado em Paris. Formou-se em Administração de Empresas e Ciências de Informática na Leonard de Vinci School of Management, Paris, França. Depois de um intercâmbio na universidade californiana UCLA para fazer uma especialização em e-commerce, voltou para a França em 1999 e montou a lenegociateur.com, o primeiro site francês de comparações de preço. Após alcançar grande sucesso, a empresa foi comprada em 2001 pela pricerunner.com e subsequentemente pela Value Click Inc, em 2004. “Eu cresci numa família de empreendedores,” diz Roman. “Meu avô sobreviveu às penúrias da guerra e teve a visão de transformar a empresa familiar Carel numa marca de sapatos cultuada, um ícone dos anos 60 na França. A determinação dele sempre foi uma inspiração pra mim, mas quando meu pai e minha tia decidiram dividir o negócio, percebi que havia chegado a hora de escolher entre o ego e a minha carreira solo”, lembra. “Minha família não é fácil, então me juntei a investidores e ajudei a comprar o negócio do proprietário atual. Sou o último Carel nas marcas de calçados Carel e Carvil”.

O parisiense não esconde sua paixão pelo Rio de Janeiro, lugar onde escolheu viver com a família e de onde afirma não querer sair mesmo diante do adverso cenário que a cidade enfrenta. “Nós amamos a magia deste país, e acredito que é chegada a hora de falar de seus lados positivos”, diz. “Faço consultoria para empreendimentos imobiliários no Brasil e sei que temos muito a trazer em termos de urbanismo e estética. Nós trazemos o destino europeu para o Brasil e lutamos para ajudar o Brasil a entender a ideia de criar destinos atraentes para os olhos estrangeiros”.

Uma novidade de Roman que cruzou o Atlântico é a versão “Airbnb de luxo” de sua empresa, batizada de Athena Collection. O conceito é o mesmo, porém com um toque premium: são casas e chalés que pertencem a famílias tradicionais nas estações-chave dos Alpes Franceses, de Megève a Val d’Isère, Courchevel, Méribel e Chamonix, e que permaneciam desocupados na alta estação – afinal, quando o turismo esquenta, nobres e aristocratas congelam com a chegada dos plebeus, que agora e mais do que nunca podem viver como reis nas alturas. “Os desejos dos viajantes mais exigentes mudaram e os serviços 5 estrelas de hotéis já não são suficientes para quem procura por experiências culturais e imersão na vida local das cidades”, explica. Algumas propriedades oferecem o “try before you buy”, ou seja, o hóspede pode aproveitar a experiência de curto prazo e pensar na chance de comprar a casa dos sonhos. Num Velho Mundo cada vez mais caduco, vende-se tudo – até a experiência nobreza.

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