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O fim de uma era: pressionada, AB Inbev prepara troca de Carlos Brito

Executivo deve sair em 2021 e empresa procura talentos fora de casa, estilo que contrasta com a cultura de gestão de pessoas da companhia

Carlos Brito, da AB Inbev: empresário deve deixar empresa em 2021 e ajuda na escolha de substituto. (Peter Foley/Bloomberg)

Carlos Brito, da AB Inbev: empresário deve deixar empresa em 2021 e ajuda na escolha de substituto. (Peter Foley/Bloomberg)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 7 de setembro de 2020 às 13h39.

Última atualização em 7 de setembro de 2020 às 17h03.

A cervejaria Anheuser-Busch InBev, fabricante de marcas como Budweiser e Stella Artois, está se programando para substituir o presidente-executivo da empresa, Carlos Brito, segundo fontes ouvidas pelo jornal britânico Financial Times. Brito foi responsável pelo crescimento global da empresa, que liderou nos últimos 16 anos, com uma política intensa de aquisições.

Brito é um dos símbolos da cultura AB InBev, companhia dona da Ambev: formado na casa e muito agressivo. Apesar disso, segundo as fontes do FT, a empresa estaria procurando por substitutos de fora da cervejaria, uma mudança dos padrões para uma companhia que se orgulha de formar executivos e profissionais internamente.

O movimento de substituição do CEO deve indicar mudanças mais significativas na empresa, que não pode mais se dedicar apenas à eficiência, e busca se conectar aos novos padrões de consumo, acelerados pela pandemia de covid-19. Globalmente, a empresa busca, de um lado, quer ampliar a participação de marcas premium em suas vendas e, de outro, lançar produtos que caim no gosto dos jovens -- como a Bud Light Seltzer, lançada recentemente.

A AB Inbev estaria trabalhando com firmas de recrutamento para uma possível substituição e o próprio Brito estaria envolto no processo, trabalhando junto ao conselho de administração e planejando anunciar uma saída em 2021.

A troca está relacionada a uma série de fatores internos e externos. Internamente, Brito está se aproximando da idade limite para executivos dentro da companhia. Além disso, após a compra da SABMiller, em 2015, a cervejaria dedicou anos à redução de dívidas que chegaram a 100 bilhões de dólares. Neste período, a eficiência operacional pela qual Brito é conhecido era mais do que necessária. Mas o pior da dívida ficou para trás e a cervejaria agora precisa de executivos mais focados em marketing e tecnologia.

Segundo a Exame apurou, entre executivos internos os sucessores naturais seriam Michel Dourkekis, CEO da Anheuser-Busch Inbev para a América do Norte, ou Ricardo Tadeu, que comanda a divisão de negócios B2B. Miguel Patrício, ex-executivo da ABInBev e hoje presidente da Kraft Heinz, também é um possível escolhido.

“Muitos dos que poderiam ser sucessores saíram porque cansaram de esperar, como João Castro Neves, e Luiz Fernando Edmond”, diz uma fonte próxima à companhia. Na máquina de fabricação de executivos da AB InBev, a falta de ação nos últimos anos pode ter sido prejudicial também da porta para dentro.

Em fevereiro a cervejaria já havia substituído o diretor financeiro Felipe Dutra, que estava na empresa há 30 anos. A mudança, à época, foi inédita para a companhia, que tinha nessa área um centro nevrálgico.

Em uma live início de agosto, Jorge Paulo Lemann, fundador da Ambev, revelou interesse em realizar mudanças na companhia, quando perguntado sobre seu novo "sonho grande". 

“Nossas empresas não performaram tão bem quanto eu gostaria nos últimos 5 anos. Cometemos alguns erros e estamos dedicados a consertar isso e ajustar as nossas empresas atuais para um mundo mais tecnológico, mais moderno, atrair as pessoas que precisamos”, disse. O empresário lembrou, na ocasião, que é difícil implementar mudanças significativas em empresas grandes, mas disse que o processo está acontecendo.

Um problema para o futuro: como atrair e premiar os melhores se o valor de mercado da companhia não cresce? A AB InBev vale hoje cerca de 100 bilhões de dólares, 45% menos que há cinco anos. A empresa é referência em pacotes de remuneração que ligam os bônus à valorização das ações no futuro -- e, se o valor de mercado não cresce, o cristal se quebra.

O próprio Lemann, na live no início de agosto, afirmou que, se estivesse começando a carreira hoje, iria para uma empresa de tecnologia. O Zoom, serviço de vídeos que virou símbolo da pandemia, já vale 106 bilhões de dólares -- mais que a ABInBev. O desafio, de Brito e de quem vier a ser seu sucessor, é mostrar que maior cervejaria do mundo segue merecendo estar no grupo das empresas mais admiradas (e copiadas) do mundo.

 

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