Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul: novas estratégias para vender (Ford/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 20 de abril de 2020 às 06h00.
Última atualização em 20 de abril de 2020 às 17h26.
Os desdobramentos do novo coronavírus não poupam quase nenhum setor da economia. Na indústria automotiva, por exemplo, as vendas despencaram desde o início da pandemia e, diferentemente de outros períodos, dessa vez as montadoras não contam com a ajuda de suas matrizes. Para Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford na América do Sul, a crise atual não tem precedentes e as medidas para combatê-la precisam ser drásticas.
"Nunca vi uma queda como essa no setor automotivo, não só aqui como no mundo todo. Estamos vivendo uma questão aguda, o faturamento desapareceu", disse o executivo em entrevista à EXAME.
A montadora figura como uma das líderes do mercado de automóveis e comerciais leves no país, em uma disputa acirrada com concorrentes de peso como Hyundai e Renault. No segmento de compactos de entrada, de maior volume de vendas, o Ka está atrás apenas do mais vendido do Brasil, o Onix (Chevrolet).
Diante das medidas de isolamento para evitar a propagação da covid-19, em marços as vendas de automóveis no Brasil atingiram o menor nível em 14 anos, com as concessionárias fechadas pela quarentena e redução da circulação de pessoas nas ruas.
Neste cenário, uma das primeiras inovações que a Ford precisou adotar foi lançar a picape Ranger Storm virtualmente, em um movimento inédito na história da companhia no país. "Desde o começo da pandemia, nós tomamos a decisão clara de colocar os funcionários em home office e cancelar mundialmente qualquer evento grande", diz Golfarb.
Segundo ele, a pandemia acelerou um processo que já estava para acontecer tanto na montadora quanto no setor como um todo. "As pessoas entram nas lojas já sabendo o que vão comprar. A crise atual vai acelerar a busca por produtos online."
O varejo automotivo é um dos últimos a aderir às vendas online principalmente por se tratar de um bem de alto valor agregado, o que muitas vezes limita a aquisição sem que o cliente tenha experimentado o produto.
Neste sentido, a marca está oferecendo todo o portfólio online e, caso o cliente arremate um dos veículos, ele será entregue em casa. "O processo é feito com todo o rigor necessário. Os entregadores usam máscaras e luvas e o veículo é totalmente higienizado por uma empresa especializada."
Golfarb acredita que o país levará muito tempo para sair da crise. Segundo ele, o brasileiro está acostumado a elas, mas nenhuma como essa, em que o principal especialista a ser consultado deixou de ser o economista. "Hoje, procuramos médicos para ter uma previsão", pondera.
Em um cenário de pandemia global, os governos têm sido chamados a agir, uma vez que ninguém deve escapar da recessão. Para o executivo da Ford, será necessária uma ação conjunta de governo, setor produtivo e bancos para que haja uma retomada.
Na crise atual, as instituições financeiras foram acusadas de elevar os juros em um momento crítico. "Qualquer diretor de tesouraria de banco não está conseguindo dormir. Esse problema tem que ser resolvido a três. Embora não esteja completamente sanado, o caminho para a solução está traçado", diz Golfarb.
Para ele, as medidas tomadas pelo Ministério da Economia, integradas ao Banco Central e ao BNDES, são positivas para injetar liquidez no país. "Mas o governo ainda precisa tomar medidas drásticas para não contaminar a economia no ano que vem. A crise precisa ficar em 2020."