Negócios

O consumo não acaba, ele migra: APAS revela perfil de compra dos brasileiros nos supermercados

Pesquisa revela que o brasileiro não deixou de consumir, mas adaptou seus hábitos diante de preços altos, novas demandas e a busca por conveniência

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de maio de 2025 às 13h06.

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 06h54.

O carrinho de compras do brasileiro mudou. Está menor e cada vez mais focado em praticidade, saúde e escolhas conscientes, de acordo com a nova pesquisa apresentada pela APAS em parceria com a Scanntech.

Durante a coletiva de imprensa da APAS SHOW 2025, o estudo revelou um consumidor que não deixou de comprar, mas que aprendeu a se adaptar — trocando marcas, categorias e até pontos de venda. Pressionado pela alta dos preços, o brasileiro está reorganizando sua relação com o supermercado.

“Não se trata de consumir menos, e sim de consumir diferente”, destacou Felipe Queiroz, economista da APAS.

Um dos exemplos mais emblemáticos é a migração nas proteínas: com a alta nos preços da carne bovina (23%) e suína, os consumidores redirecionaram suas escolhas para opções mais acessíveis como frango e ovos — que cresceram 3,4% e 3,6% em volume, respectivamente. Já o consumo de carne bovina caiu 6,2% e o de suína, 5,6%.

O mesmo padrão de substituição acontece com outros itens. O suco pronto, por exemplo, vem perdendo espaço para refrigerantes zero, e até o café vem sendo repensado nas prateleiras, após alta de quase 70% puxada por quebra de safra internacional e pressão cambial.

De olho no Nordeste, Grupo Piracanjuba compra Natulact e chega a oito fábricas

Pets no carrinho

As transformações demográficas também impactam o varejo. Com famílias menores, os pets ganham o status de novos membros da família — e suas necessidades viraram prioridade de consumo.

Segundo a pesquisa, 54% dos consumidores compram produtos pet no supermercado, mas 42% já deixaram de comprar por falta de sortimento. E 27% deixaram de frequentar lojas que não aceitam a entrada de animais.

“A cesta pet cresce hoje 22 vezes mais do que o varejo tradicional”, diz Fabiano Benedetti, diretor de Marketing da APAS.

Nas grandes cidades, como São Paulo, o consumo de produtos para gatos já rivaliza com o de cães — um indicativo claro de mudança na dinâmica urbana e afetiva dos lares brasileiros.

Como o Bob’s usa supermercados para superar R$ 1,5 bilhão e chegar a novas cidades

Alimentação funcional em alta

Outro destaque do estudo é o avanço dos produtos saudáveis e funcionais. “A geração da cafeína, proteína, creatina chegou ao varejo com força”, brincou Thomaz Machado, CEO da Scanntech.

Itens como leite proteico, suplementos, iogurtes funcionais e barrinhas proteicas vêm ganhando protagonismo. E embora ainda representem apenas 0,03% do faturamento do varejo, essas categorias crescem até 110 vezes mais rápido do que o restante.

Dos entrevistados, 71% afirmaram ter mudado seus hábitos de consumo no último ano. A maioria (59%) passou a consumir mais produtos saudáveis, enquanto 35% optaram por itens mais baratos e 32%, por alternativas sustentáveis.

“O consumidor de hoje lê o rótulo, pesquisa ingredientes e cobra coerência das marcas”, diz Machado.

Praticidade na rotina

A conveniência virou palavra-chave. Com mais de 2.600 novas lojas abertas só no estado de São Paulo em 2024, o crescimento se concentrou nos mercados de vizinhança e lojas de condomínio, enquanto hipermercados fecham as portas. Segundo o estudo, 71% dos consumidores frequentam mais de uma loja por mês e 57% compram em supermercados de bairro — principalmente para reposição (54%) e compras emergência (30%).

“As grandes redes também estão entrando nesse jogo, criando formatos menores e mais próximos do consumidor”, diz o economista da APAS.

O conceito de loja de proximidade se estende à base de prédios comerciais, bairros residenciais e até condomínios — e também se conecta com o digital.

Online é rotina e não mais exceção

Se antes o e-commerce era uma alternativa, agora é parte da rotina. O canal online cresceu 16% no último ano, quase três vezes mais do que o varejo físico (6,3%). Mas os papéis são diferentes: enquanto o e-commerce é utilizado para compras de reposição e abastecimento, a loja física permanece como espaço de descoberta e experiência.

“O consumidor compra online o que já conhece e gosta. Na loja física, ele explora, experimenta, testa novidades”, explicou Machado. Isso exige uma estratégia multicanal eficiente e coerente com os hábitos de consumo.

Preço e experiência de compra

Preço segue sendo importante, mas já não é suficiente. Hoje, praticidade, sortimento, localização e atendimento também pesam na decisão.

“O que faz alguém voltar a uma loja é, muitas vezes, a sensação que ela transmite”, disse Fabiano Benedetti, diretor de marketing da APAS. “A experiência importa.”

A pesquisa mostra que 78% dos consumidores valorizam o atendimento como principal diferencial de uma loja, seguido de ambiente agradável, conforto térmico e, cada vez mais, tecnologia que facilite a jornada de compra.

Acompanhe tudo sobre:Supermercados

Mais de Negócios

20 franquias baratas a partir de R$ 4.990 para abrir até o Natal

Os planos desta empresa para colocar um hotel de R$ 70 milhões do Hilton em Caraguatatuba

Conheça os líderes brasileiros homenageados em noite de gala nos EUA

'Não se faz inovação sem povo', diz CEO de evento tech para 90 mil no Recife