Negócios

O consumo não acaba, ele migra: APAS revela perfil de compra dos brasileiros nos supermercados

Pesquisa revela que o brasileiro não deixou de consumir, mas adaptou seus hábitos diante de preços altos, novas demandas e a busca por conveniência.

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de maio de 2025 às 13h06.

Última atualização em 13 de maio de 2025 às 13h19.

O carrinho de compras do brasileiro mudou. Está menor e cada vez mais focado em praticidade, saúde e escolhas conscientes, de acordo com a nova pesquisa apresentada pela APAS em parceria com a Scanntech.

Durante a coletiva de imprensa da APAS SHOW 2025, o estudo revelou um consumidor que não deixou de comprar, mas que aprendeu a se adaptar — trocando marcas, categorias e até pontos de venda. Pressionado pela alta dos preços, o brasileiro está reorganizando sua relação com o supermercado.

“Não se trata de consumir menos, e sim de consumir diferente”, destacou Felipe Queiroz, economista da APAS.

Um dos exemplos mais emblemáticos é a migração nas proteínas: com a alta nos preços da carne bovina (23%) e suína, os consumidores redirecionaram suas escolhas para opções mais acessíveis como frango e ovos — que cresceram 3,4% e 3,6% em volume, respectivamente. Já o consumo de carne bovina caiu 6,2% e o de suína, 5,6%.

O mesmo padrão de substituição acontece com outros itens. O suco pronto, por exemplo, vem perdendo espaço para refrigerantes zero, e até o café vem sendo repensado nas prateleiras, após alta de quase 70% puxada por quebra de safra internacional e pressão cambial.

Pets no carrinho

As transformações demográficas também impactam o varejo. Com famílias menores, os pets ganham o status de novos membros da família — e suas necessidades viraram prioridade de consumo.

Segundo a pesquisa, 54% dos consumidores compram produtos pet no supermercado, mas 42% já deixaram de comprar por falta de sortimento. E 27% deixaram de frequentar lojas que não aceitam a entrada de animais.

“A cesta pet cresce hoje 22 vezes mais do que o varejo tradicional”, diz Fabiano Benedetti, diretor de Marketing da APAS.

Nas grandes cidades, como São Paulo, o consumo de produtos para gatos já rivaliza com o de cães — um indicativo claro de mudança na dinâmica urbana e afetiva dos lares brasileiros.

Alimentação funcional em alta

Outro destaque do estudo é o avanço dos produtos saudáveis e funcionais. “A geração da cafeína, proteína, creatina chegou ao varejo com força”, brincou Thomaz Machado, CEO da Scanntech.

Itens como leite proteico, suplementos, iogurtes funcionais e barrinhas proteicas vêm ganhando protagonismo. E embora ainda representem apenas 0,03% do faturamento do varejo, essas categorias crescem até 110 vezes mais rápido do que o restante.

Dos entrevistados, 71% afirmaram ter mudado seus hábitos de consumo no último ano. A maioria (59%) passou a consumir mais produtos saudáveis, enquanto 35% optaram por itens mais baratos e 32%, por alternativas sustentáveis.

“O consumidor de hoje lê o rótulo, pesquisa ingredientes e cobra coerência das marcas”, diz Machado.

Praticidade na rotina

A conveniência virou palavra-chave. Com mais de 2.600 novas lojas abertas só no estado de São Paulo em 2024, o crescimento se concentrou nos mercados de vizinhança e lojas de condomínio, enquanto hipermercados fecham as portas. Segundo o estudo, 71% dos consumidores frequentam mais de uma loja por mês e 57% compram em supermercados de bairro — principalmente para reposição (54%) e compras emergência (30%).

“As grandes redes também estão entrando nesse jogo, criando formatos menores e mais próximos do consumidor”, diz o economista da APAS.

O conceito de loja de proximidade se estende à base de prédios comerciais, bairros residenciais e até condomínios — e também se conecta com o digital.

Online é rotina e não mais exceção

Se antes o e-commerce era uma alternativa, agora é parte da rotina. O canal online cresceu 16% no último ano, quase três vezes mais do que o varejo físico (6,3%). Mas os papéis são diferentes: enquanto o e-commerce é utilizado para compras de reposição e abastecimento, a loja física permanece como espaço de descoberta e experiência.

“O consumidor compra online o que já conhece e gosta. Na loja física, ele explora, experimenta, testa novidades”, explicou Machado. Isso exige uma estratégia multicanal eficiente e coerente com os hábitos de consumo.

Preço e experiência de compra

Preço segue sendo importante, mas já não é suficiente. Hoje, praticidade, sortimento, localização e atendimento também pesam na decisão.

“O que faz alguém voltar a uma loja é, muitas vezes, a sensação que ela transmite”, disse Fabiano Benedetti, diretor de marketing da APAS. “A experiência importa.”

A pesquisa mostra que 78% dos consumidores valorizam o atendimento como principal diferencial de uma loja, seguido de ambiente agradável, conforto térmico e, cada vez mais, tecnologia que facilite a jornada de compra.

Acompanhe tudo sobre:Supermercados

Mais de Negócios

Qual a fortuna de Virginia? Veja qual o patrimônio da influencer envolvida em CPI das Bets

Começou no interior do RS: a cafeteria que virou negócio de R$ 250 milhões (e serve até salmão)

Ele vendia gelo picado por US$ 1. Hoje, é dono de rede de US$ 10 bilhões — que chega ao Brasil

Maior que McDonald's e Starbucks, fast food chinês de US$ 10 bilhões chega ao Brasil