Repórter de Negócios
Publicado em 7 de junho de 2025 às 07h10.
Última atualização em 9 de junho de 2025 às 06h58.
Marc Randolph, cofundador da Netflix: "Não quero que você seja confiante de que está certo. Quero que seja confiante de que vai descobrir como fazer dar certo" (Gage Skidmore/Wikimedia Commons)
Madri (Espanha)* – Depois de encher o palco principal do South Summit Madri, evento realizado pela IE University na Espanha, com a história da tentativa frustrada de vender a Netflix para a Blockbuster, Marc Randolph seguiu para uma conversa mais informal com um grupo de jornalistas.
Foi ali, num bate-papo direto, que um dos fundadores da gigante de entretenimento soltou uma das frases que melhor resume sua visão sobre empreendedorismo: “Regras são para tolos”.
A provocação surgiu quando ele foi questionado sobre o que um empreendedor nunca deveria fazer.
Randolph evitou receitas prontas, mas foi firme ao dizer que pensar demais, buscar a perfeição ou seguir fórmulas fixas são caminhos perigosos para quem quer construir algo novo. “Cada caso é um caso. O que funcionou para mim pode não funcionar para você”, disse.
A seguir, os principais trechos da conversa.
O ponto é justamente esse: você precisa estar confortável em começar sem um bom modelo. O maior erro é pensar demais. Tem gente que passa meses tentando acertar tudo na cabeça antes de colocar no mundo. Não faça isso. Faça qualquer coisa que permita colidir sua ideia com pessoas reais. Foi assim que achamos o modelo da Netflix. E levou 18 meses.
Essa é difícil. Mas vou dizer uma coisa: regras são para tolos. Sempre desconfie de qualquer regra universal. Cada caso é único. Se tem algo que eu diria para evitar é o excesso de pensamento. Pare de pensar e comece a fazer. Erre rápido. Acerte em uma ou duas coisas e deixe o resto para depois.
Não quero que você seja confiante de que está certo. Quero que seja confiante de que vai descobrir como fazer dar certo. Sua ideia, provavelmente, está errada. Mas você vai tentar, ajustar, aprender e seguir em frente. Isso é o que importa.
Nem sempre dá. No caso da Blockbuster, eu achei que aquele era meu único caminho. Falhei. Mas, olhando pra trás, talvez tenha sido o melhor que poderia ter acontecido. O “não” nem sempre é final.
Sim. Quando era estudante, fui recusado por uma agência de publicidade depois de várias entrevistas. Em vez de aceitar, escrevi para cada pessoa que me entrevistou perguntando como eu podia melhorar. Mandaram me chamar de volta. Me contrataram. Eles queriam ver quem não aceitaria o não como resposta.
Tem que alinhar ambição com habilidade. Tive um jovem que queria melhorar a alfabetização na África com tablets solares. Mas ele nunca trabalhou com educação. Nem com energia solar. Uma ideia é fácil. Fazer é difícil. Tem que escolher um problema que você pode resolver de verdade.
Não trabalho mais lá, mas acho que vão continuar bem. Eles são muito bons em mudar quando precisam. Desde o começo, tivemos que abrir mão da maior parte da receita, que vinha da venda de DVDs, para focar só no aluguel. Era 99% da receita indo embora. Mas sabíamos que venda era um beco sem saída. A empresa continua disposta a fazer esse tipo de escolha difícil. É por isso que continuam relevantes.
Eu assisto a vários filmes e séries, de todos os streamings. Então eu parei de falar qual era o show que eu mais estava gostando no momento, porque me confundia e depois vinha alguém e me dizia "Ei, esse não está na Netflix" (risos).