Wilson Amaral, ex-presidente da Gafisa, antecipou sua saída da empresa na semana em que os resultados mostraram forte queda nos lucros (Germano Luders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 12 de maio de 2011 às 17h05.
São Paulo – Uma empresa bem estruturada não necessariamente vai ficar em maus lençóis se o presidente-executivo anunciar, de repente, que vai sair da posição – mesmo que os resultados do momento não estejam satisfatórios. Nesta semana a Gafisa passou por situação semelhante, quando o CEO Wilson Amaral antecipou sua saída (antes prevista para dezembro deste ano), ao mesmo tempo em que a empresa anunciou queda de 79% no lucro líquido do primeiro trimestre de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado.
O processo seletivo de escolha do novo presidente já havia começado em abril e vai durar alguns meses, segundo a empresa. Mesmo assim, com o diretor financeiro e de relações com investidores Duílio Calciolari interinamente na função, a Gafisa ainda espera cumprir a meta de que os lançamentos somem entre 5 bilhões e 5,6 bilhões de reais até o final do ano.
Buscar o substituto, mesmo que interino, dentro da própria empresa, como fez a Gafisa, é a saída mais indicada em uma situação como essa, para André Pimentel, sócio-diretor da consultoria Galeazzi & Associados. “A coisa mais importante nesse período de transição é tentar não permitir outra ruptura. Uma decisão acertada é trazer uma pessoa de dentro para assumir”, afirma. O executivo mais sênior da companhia é, normalmente, o mais indicado para guiar a empresa até que ela consiga outro profissional para o cargo.
E, mais do que colocar alguém no lugar, a companhia precisa evitar qualquer sensação de insegurança e, assim, garantir os próximos resultados. “Numa situação indefinida como essa, a empresa pode até perder outros executivos”, diz Pimentel. Na falta de alguém preparado dentro da organização, algumas recorrem ao conselho administrativo. Executivos que já passaram pela companhia e ficaram apenas no conselho podem voltar à ativa como CEOs enquanto a seleção oficial ocorre e o novo líder é preparado.
Conflito e excesso de cobrança
Quando a companhia já possui uma estrutura consolidada, o risco de sofrer um grande impacto negativo com a saída do presidente-executivo diminui consideravelmente. “Quando existe um problema pontual, isso faz parte do negócio. A companhia não depende de um presidente para continuar nos eixos. É claro que o presidente representa muito, mas, se a empresa tiver uma governança bem definida, ela não depende de só uma pessoa”, diz André Pimentel.
A professora do FGV In Company, Maria José Tonelli, concorda. Para ela, todos os atributos do líder são importantes, mas há outros fatores que mantêm a empresa, como a estrutura organizacional, as pessoas e a cultura. Mas, se há outros aspectos, por que alguns líderes resolvem sair de suas companhias quando os resultados no curto prazo estão insatisfatórios?
Para Maria José, as empresas podem ficar sem presidente devido a uma expectativa além do normal sobre esses executivos. “Às vezes, a supervalorização dessa figura parte não só das pessoas de dentro, como conselho e acionistas, mas também do próprio executivo, que se cobra muito e, diante de um resultado negativo, resolve sair”, afirma.
Outro fator que costuma culminar na saída do líder é o conflito com o conselho e os acionistas. “O executivo acredita em uma forma de fazer e o conselho não concorda. Em função da governança, fica difícil de o executivo implementar as ações e, por isso, ele prefere sair da empresa”, diz André Pimentel, da Galeazzi.