Gaston Diaz Perez, presidente da operação na América Latina da Bosch: "Estamos vivendo tempos de normalidade na macroeconomia do Brasil" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 27 de maio de 2024 às 11h49.
A indústria automobilística tem motivos para comemorar no Brasil. Após anos desacreditada em função do alto custo de produção, e da preferência das montadoras pela Argentina e México como bases para a América Latina, o Brasil viu uma onda de investimentos.
A conta mais recente, divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, indica um volume de 130 bilhões de reais a caminho do Brasil nos próximos anos para construção ou reforma de plantas automotivas.
Tudo isso é música para os ouvidos do argentino Gaston Diaz Perez, presidente da operação na América Latina da Bosch, multinacional de origem alemã que é uma das principais fabricantes de motores e demais sistemas automotivos.
A operação na América Latina fechou o ano fiscal de 2023 com vendas de 9,8 bilhões de reais, dos quais 79% vieram do Brasil. É uma alta anual na casa de 10%.
Do faturamento total da companhia no Brasil, 23% foram gerados a partir de exportações para América do Norte e Europa.
Na origem do bom desempenho da operação na América Latina está a competitividade das seis unidades da Bosch no Brasil: em Campinas e Itatiba, no interior paulista, Curitiba e Campina Grande do Sul, no Paraná, e em Joinville e Pomerode, em Santa Catarina.
"Estamos vivendo tempos de normalidade na macroeconomia do Brasil", diz Diaz Perez, ao citar o fato de a cotação do dólar estar há mais de um ano ao redor dos 5 reais. "É um grau de previsibilidade poucas vezes vista na história recente do país."
As fábricas da Bosch no Brasil foram pioneiras na fabricação de motores Flex, com capacidade para rodar com gasolina e álcool, há duas décadas. Boa parte da tecnologia hoje é exportada. Nos últimos meses, a companhia fechou um acordo com clientes na Índia. Nos próximos meses, a Bosch deve exportar produtos para equipar entre 50 e 70 mil veículos.
Além da Índia, Suécia e Tailândia são outros países que já possuem projetos relacionados ao Flex a partir de tecnologia desenvolvida no Brasil. Atualmente, 30 países no mundo já utilizam o etanol misturado ao combustível em diferentes proporções.
Mais recentemente, a mesma tecnologia foi adaptada para incorporar a eletricidade como fonte de energia.
"Nos últimos três anos, alcançamos um forte desempenho de vendas, com atividades extremamente bem-sucedidas em todos os setores de negócios, inclusive superando nossas expectativas – especificamente em soluções para mobilidade, ferramentas elétricas, tecnologia industrial e serviços", diz Diaz Perez.
"Para 2024, as perspectivas são positivas, mas mantemos cautela. Estamos bem posicionados para enfrentar os próximos objetivos e a América Latina continua sendo uma região de muito potencial."
Além da indústria automotiva, a Bosch aposta no agronegócio. No Brasil, a empresa já fornece componentes para veículos off road, peças de reposição para máquinas e caminhões pesados, além de equipamentos de diagnóstico e ferramentas elétricas para aplicações no campo.
Daqui para frente, o foco será em tecnologias para agricultura inteligente, com peças para automação de processos no campo, diz Diaz Perez.
O destaque neste ponto é a Solução de Plantio Inteligente da Bosch (IPS), um sistema de acionamento elétrico para despejar sementes somente nos pontos onde de fato a terra está preparada para recebê-las, evitando assim o desperdício de insumos. Desde o lançamento, em 2019, o sistema já foi usado em mais de 2,5 milhões de hectares na América Latina e na África.
Em 2024, a companhia celebra 100 anos de presença na América Latina e 70 anos no Brasil. O primeiro escritório de vendas foi aberto em Buenos Aires em 1924 e, no Brasil, o primeiro endereço comercial foi na Praça da República, na cidade de São Paulo, em 1954. Atualmente são 11.500 funcionários na região.
Fundada há 137 anos, em Stuttgart, na Alemanha, a Bosch é comandada pela Robert Bosch Stiftung, uma fundação filantrópica aberta segundo desejo do fundador Robert Bosch, que morreu em 1942, para conduzir projetos sociais e culturais.
No mundo, a companhia vendeu 91,6 bilhões de euros — algo como 509 bilhões de reais na cotação atual —, uma alta de 3,8%. O Ebitda do resultado global, em 5,3%, foi um ponto percentual acima do alcançado em 2022, mas ainda abaixo da meta de 7% esperada para 2026.