Colégio Esfera, em São José dos Campos: modelo do colégio será vendido para franqueados, com 30 unidades em seis anos (Grupo SEB/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 18 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h23.
Existe espaço para escolas internacionais de elite fora de São Paulo e Rio de Janeiro. Essa é a aposta do Grupo SEB, maior grupo de educação básica do Brasil e que vai começar a expandir seu modelo de escola internacional, a Sphere International School, por modelo de franquias.
Comprada pelo grupo SEB em 2015, a Sphere foi desenvolvida a partir da experiência da escola Esfera, unidade fundada em 2004 na cidade de São José dos Campos, a 99 quilômetros de São Paulo capital. A expectativa é ter de duas a três escolas em operação para o ano letivo de 2021 e chegar a 30 escolas nos próximos seis anos.
“Tirando Rio de Janeiro e São Paulo, a maior parte do Brasil tem pouquíssimas opções de escolas internacionais, embora muitas cidades tenham público para essas escolas”, diz Thamila Zaher, diretora-executiva do Grupo SEB e filha do fundador Chaim Zaher.
A própria história da Sphere mostra qual será o foco da expansão. O desenvolvimento da Esfera em São José dos Campos, considerada a “capital” do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, mostra que há demanda por escolas de elite mesmo fora de megalópoles como São Paulo. Sede de empresas como a fabricante de aviões brasileira Embraer e de universidades de ponta, São José dos Campos tem mais de 780.000 habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de 37,3 milhões de reais, o que coloca a cidade entre os 20 maiores PIBs do Brasil e o sétimo maior do estado de São Paulo. O SEB quer encontrar outros terrenos férteis como esse.
Os executivos citam lugares como São Luís, no Maranhão, Fortaleza, no Ceará, Campinas, no interior de São Paulo, e as capitais da região Sul (Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre) como locais com pouca oferta de escolas internacionais e com público para projetos desse tipo. O grupo SEB não confirma ainda os locais das futuras franquias da Sphere.
As mensalidades para os alunos devem ir de 1.500 reais a mais de 4.000 reais, a depender da cidade. A escola estará sempre no “primeiro quartil” de um local, isto é, entre as 25% escolas mais caras. “Será uma escola premium, mas não tão cara a ponto de não ser acessível para este público no qual estamos focando”, diz Rafael Rocha, Gerente Nacional da Sphere.
Das mais de 40.000 escolas particulares no Brasil, 3% (ou cerca de 1.200 escolas) oferecem currículo bilíngue, isto é, com o currículo brasileiro e uma língua estrangeira, segundo a Associação Brasileira do Ensino Bilíngue. Já com a certificação IB, de escola internacional, há apenas 39 escolas no Brasil e cerca de 5.000 no mundo.
O IB (International Baccalaureate ou Bacharelado Internacional, em português) é um currículo reconhecido internacionalmente e controlado por uma fundação de mesmo nome na Suíça. O programa foi originalmente criado para que expatriados europeus pudessem dar aos filhos uma educação internacional e que fosse além do país para o qual a família havia imigrado.
Os executivos do grupo SEB apontam que a Sphere pode ser financeiramente vantajosa porque os pais conseguem juntar em um serviço só o valor que já pagam na mensalidade de uma escola tradicional, somada a aulas de idiomas e atividades extracurriculares.
Hoje, além do currículo bilíngue, as escolas com certificado IB têm projetos que colocam o aluno no centro da aprendizagem, com incentivo a resolução de problemas, empreendedorismo e atuação em projetos sociais – uma espécie de Paulo Freire para os ricos. O instituto IB precisa autorizar as escolas que queiram operar neste modelo mundo afora. No projeto da expansão da Sphere, o grupo SEB contou, de forma inédita, com a participação de representantes do próprio IB no desenvolvimento. “É de interesse deles aumentar o número de escolas internacionais na América Latina”, diz Zaher.
É mais comum que escolas bilíngues ou internacionais incluam apenas o Ensino Médio, visando preparar o aluno para ingressar em faculdades internacionais, mas as franqueadas da Sphere oferecerão todas as etapas escolares, dos 6 aos 17 anos.
O modelo de uma escola internacional, apesar das competências do IB, também não pode deixar de lado os conteúdos obrigatórios do currículo brasileiro. “Quando o pai vai até a escola, mostramos a ele que o aluno também vai aprender as disciplinas tradicionais, que vai estar lendo, por exemplo, Macunaíma no terceiro trimestre do sétimo ano”, diz Rocha.
Para concretizar o objetivo de ter unidades operando já em 2021, o próximo ano será crucial na atração de franqueados e também de pais e alunos interessados em comprar a proposta. O grupo está em conversa com franqueados há pouco mais de um ano. O investimento previsto para a operação de uma franquia da Sphere parte de 5 milhões de reais, podendo chegar a 20 milhões de reais a depender do prazo de pagamento, região escolhida e número de alunos. A taxa de franquia será de 55.000 dólares (mais de 220.000 reais), incluindo treinamento operacional e pedagógico.
O SEB já esteve à frente do grupo Estácio, mas vendeu a participação na rede de Ensino Superior por 430 milhões de reais em 2017 e hoje atua majoritariamente na educação básica.
O grupo, historicamente, fez mais de uma dezena de aquisições nos últimos anos para atender a alunos endinheirados pelo país, com muitas unidades já contando com sistema bilíngue (porém, sem o certificado IB da Esfera) e operando em sistema de franquias. Recentemente, os Zaher compraram o colégio De A a Z, no Rio de Janeiro, o colégio Visão, de Goiás, e a quase totalidade da operação brasileira da Maple Bear, escola bilíngue infantil canadense com a qual o grupo inaugurou o modelo de franquias. O grupo SEB também é dono de escolas como a Concept, voltada a tecnologia como escolas do Vale do Silício, e as próprias escolas SEB, que originaram o conglomerado nascido em Ribeirão Preto (SP) há 50 anos.
Um dos pontos fora da curva nessa estratégia para ensino básico de elite foi a rede Luminova, lançada no ano passado com foco na classe B e C e mensalidades na casa dos 600 reais, buscando atender aos mais de 30 milhões de alunos nessa faixa de renda (mais de 60% da população em idade escolar no Brasil).
Ao todo, o grupo SEB tem mais de 50.000 alunos nas cerca de 40 escolas próprias e outros 100.000 em escolas franquiadas da Maple Bear -- da qual pretende trazer ensinamentos para a experiência da Sphere. O faturamento é de mais de 800 milhões de reais.
Atender a um público com ainda poucas opções de escolas internacionais é uma estratégia que a concorrência também começa a olhar. A Red House International School, que abriu uma unidade em Higienópolis, em São Paulo, no ano passado, tem uma unidade em Recife (PE) com inauguração prevista para 2020 e outra em Jundiaí (SP). A Lumiar, do empresário Ricardo Semler, tem, além de São Paulo, escolas em cidades como Poços de Caldas (MG), Porto Alegre (RS) e Santo Antônio do Pinhal (SP), além de unidades no Reino Unido. A Eleva aposta na elite do Rio de Janeiro – tendo como sócio majoritário o fundo Gera Venture Capital, controlado pelo empresário Jorge Paulo Lemann --, mas o grupo Eleva, tal como o SEB, tem dezenas de escolas de diferentes modelos para a elite em vários estados do Brasil. A americana Avenues também desembarcou em São Paulo no ano passado trazendo mensalidades a mais de 10.000 reais.
Concorrência não falta, mas Zaher diz que não se preocupa. “Temos 50 anos de experiência e acreditamos que isso faz muita diferença”, diz. Embora a meta de 30 escolas Sphere pareça pouco perto das centenas de colégios no guarda-chuva do grupo SEB, o número é ambicioso dentro do modelo de escola internacional, com investimento e padrão de qualidade altos e escolas gigantes, com mais de 3.000 metros quadrados.
Corre no mundo corporativo a história de que não se pode passar algumas horas com Chaim Zaher sem que ele comece a comprar uma escola. Verdade ou não, se há algo que o SEB sabe fazer é escalar um empreendimento educacional. “Não temos problema em mudar. A gente já abriu capital, fechou; já comprou a Estácio e depois vendeu. Queremos ser pioneiros”, diz Thamila Zaher. Sempre acreditando que, na imensidão do Brasil, existe uma elite ansiosa por serviços educacionais de ponta. E disposta a pagar por eles.